Preconceito dificulta inserção de cegos |
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Publicado pelo Aprendiz 11/04/2006 |
(Mariana Gallo)
A inserção de um deficiente visual na vida escolar, mesmo com toda a acessibilidade disponível, pode se tornar mais difícil por causa do preconceito e da falta de informação dos educadores e dos próprios colegas. É o que revela a tese de doutorado "Alunos cegos egressos do Instituto Benjamim Constant no período de 1985 a 1990 e sua inserção comunitária", apresentada no Instituto Fernandes Figueira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Segundo o estudo, para muitos deficientes visuais é difícil a adaptação em escolas regulares porque há poucos professores treinados para lidar com quem tem cegueira ou baixa visão. "Além de faltar material especializado, há também a questão do preconceito que muitas vezes é decorrente da falta de conhecimento das pessoas", explica o educador Carmelindo de Souza Vieira, que foi diretor do Instituto Benjamim Constant (IBC), referência nacional para questões relativas à deficiência visual.
Por meio dos depoimentos de 89 ex-alunos do IBC, o pesquisador constatou que a carga mais pesada para o deficiente pode não ser a cegueira, mas a maneira como a sociedade o vê. "Muitas pessoas acham que o cego deve viver isolado da sociedade e os encaram como incompetentes e incapazes de produzir, por desconhecerem as suas possibilidades", destaca Vieira.
Os depoimentos revelaram que eles têm dificuldades em continuar estudando ou trilham um caminho penoso porque falta material didático apropriado, equipamento e professores especializados. Segundo o educador, muitos jovens enfrentam dificuldades no momento de deixar a escola especializada e continuar os estudos numa escola de nível médio ou na universidade, porque, muitas vezes, tornam-se vítimas de preconceitos dos próprios alunos e professores.
A falta de informação das pessoas sobre o assunto faz com que se sintam incapazes porque terminam sendo tratados como crianças com as mães se vendo obrigadas a responder por eles. "Dificilmente as pessoas se dirigem ao cego, mas sim ao seu guia ou interlocutor, como se ele fosse incapaz", afirma o educador.
Para os jovens cegos, o programa primeiro emprego ajudou na inserção desse grupo no mercado público de trabalho. Mas eles continuam sentindo dificuldades para ingressar em empresas privadas apesar de a lei determinar um certo número de vagas para deficientes. Quem é cego ou tem baixa visão costuma dizer que "precisa matar um leão por dia" na tentativa de se inserir no mercado de trabalho.
Para o educador, os centros de apoio aos deficientes visuais são importantes tanto para preparar os cegos quanto para promover ações que preparem educadores e as demais pessoas para receber os deficientes. A divulgação de informações ajudaria na inclusão dessas pessoas.
A importância dos esforços no sentido de promover a prevenção da cegueira pode ser justificada pelo número de casos que poderiam ser evitados ou tratados, que correspondem respectivamente a 60% e 20% dos casos. Para Vieira, é preciso que os centros de apoio aos deficientes visuais, como o IBC, revejam o seu papel de assessorar as escolas comuns, a fim de que possam atender com a mesma qualidade observada nas escolas especiais, o que inclui a realização de cursos de pós-graduação na área da educação especial para deficientes visuais.
A deficiência visual atinge 315 milhões de indivíduos no planeta, o que corresponde a 5,1% da população mundial. Estima-se que no Brasil 1,2 milhão de pessoas possuam algum tipo de deficiência visual ou tenham dificuldades para enxergar.
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