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Metade dos docentes já foi xingada por alunos


Publicado pelo Folha Online 02/05/2006

(ANTÔNIO GOIS
FÁBIO TAKAHASHI)
Em uma aula de ciências na 8ª série de uma escola municipal na Vila Prudente (zona leste de São Paulo), o professor José Jacinto dos Santos Júnior, 55, percebeu que era alvo de piadas e até de ofensas proferidas por Pedro (nome fictício), 17. Questionando o conteúdo ensinado, o estudante saiu da sala, sem pedir permissão.

Como tais indisciplinas eram constantes, Santos Júnior pôs em prática uma medida previamente acertada com seu coordenador pedagógico: trancar a porta da sala, com Pedro do lado de fora, para mostrar à direção que ele não permanecia nas aulas. O estudante não gostou da medida e começou a chutar a porta, aos berros.

A tensão na vida escolar, bem como outras formas de violência, foi estudada pela Unesco, MEC e Observatório de Violência nas Escolas e gerou o livro "Cotidiano das Escolas: Entre Violências".

Uma das conclusões do trabalho é que as escolas não apenas refletem a violência que acontece fora delas mas também produzem a sua própria. A análise foi feita em seis capitais do país, entre elas São Paulo, envolvendo 13 mil alunos de colégios públicos.

A pesquisa mostrou que 47% dos professores ou funcionários já foram xingados por alunos e que 51% dos estudantes consideram o clima na escola ruim, péssimo ou mais ou menos.

Um agravante detectado pela pesquisa é que, quando esses casos acontecem, a escola é a última a saber. Os entrevistadores perguntaram para quem os jovens contam os problemas da escola.

As respostas mais citadas foram os parentes (58%), amigos da escola (45%), amigos fora da escola (28%) ou ninguém (14%). Todas essas opções --era possível escolher várias-- apareceram na frente do diretor ou do docente (11%).

Aprendizagem

"Essa violência no cotidiano da escola --que acontece por meio de agressões verbais, xingamentos e das próprias relações sociais-- têm graves conseqüências. Como o aluno vai aprender num clima escolar como esse, em que existe uma banalização completa da incivilidade?", afirma a socióloga Miriam Abramovay, coordenadora da pesquisa.

"Quanto mais há xingamentos na escola, maior a probabilidade de haver agressão física", constata.

No caso do aluno colocado fora da sala pelo professor Santos Júnior, a tensão quase resultou em pancadaria. À batida do sinal para troca de aula, o professor virou a chave para abrir a classe. Alguém do lado de fora empurrou a porta, que atingiu outro aluno --sua mão começou a sangrar.

O ferimento causou revolta em parte dos estudantes, que atacou o professor. Uma carteira foi arremessada contra ele. O docente escapou, mas a cadeira quebrou uma das vidraças.

"Só não fui linchado porque entrou a turma do deixa disso", lembra ele.

A professora de língua portuguesa Roberta (nome fictício), 51, também passou por um momento de violência. Um aluno de sexta série, com 12 anos, constantemente a ironizava, em um colégio estadual da zona norte de São Paulo.

Até que a docente colocou o estudante para fora da sala.
Na porta, o jovem continuou fazendo provocações.

"Toquei no ombro dele, para pedir que ele saísse. Nesse momento, ele começou a me chutar", conta Clara.

Indutor

Para a socióloga Ana Paula Corti, assessora da ONG Ação Educativa, a falta de estrutura das escolas --tanto físicas quanto pedagógicas-- explica a geração de violência nesses locais.

"Se o que está sendo oferecido e ensinado não fazem sentido para o aluno, ele se desinteressa. Assim, a relação entre as pessoas fica desgastada", afirma Corti.

Em sua tese de mestrado na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), a socióloga analisou a violência de uma escola estadual da zona leste de São Paulo.

Ela entrevistou 700 alunos do ensino básico. Uma das constatações foi que 42,5% das agressões relatadas (na maioria verbais e morais) ocorreram dentro da sala de aula.

"A escola hoje é apenas uma fábrica de aulas. O professor tem dezenas de classes, com 40 estudantes cada. É quase impossível haver uma relação entre eles", diz.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u18581.shtml

Folha de S.Paulo

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