Educação sexual atinge somente 5,5% das escolas |
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Publicado pelo Aprendiz 05/05/2006 |
(Cássia Gisele Ribeiro)
Apenas 5,5% das escolas trabalham semanalmente o tema "Aids e doenças sexualmente transmissíveis" (DSTs). Segundo pesquisa realizada pelo ministério da Saúde, a partir de dados do Censo Escolar, as dificuldades começam no despreparo dos professores, passam pelo medo dos pais e pela atual cultura sexista. O relatório mostra ainda que, quando existe alguma informação, ela não é aprofundada de forma que consiga transformar comportamentos.
"Há muitas questões delicadas que envolvem a introdução do tema nas escolas", afirma Juny Kraiczyk, coordenadora da área de formação da organização não-governamental Ecos - Comunicação e Sexualidade. Segundo ela, a escola recebe inúmeras demandas sociais e, no entanto, não há tempo, profissionais preparados e materiais adequados para desenvolver sequer as disciplinas obrigatórias, quem dirá os temas transversais, como o da sexualidade.
"É preciso que o Estado perceba que nem todos os professores são capazes de trabalhar o tema. O profissional de educação sexual precisa estar livre de preconceitos, sejam eles frutos de sua vivência, religião ou ponto de vista", afirma. "Um trabalho feito de forma preconceituosa pode ter o efeito contrário ao esperado".
A educação sexual faz parte dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que orientam o trabalho nas escolas do país desde 1997. O texto não fala em obrigatoriedade de uma disciplina específica para o tema, mas sugere que ele faça parte do projeto pedagógico das instituições de ensino. Entretanto, são poucos os cursos de especialização ou pós-graduação nas universidades brasileiras que formam professores em educação sexual.
Na pesquisa feita pelo ministério da Saúde, no ano passado, 43% dos professores se declararam capacitados para trabalhar a sexualidade em sala de aula. Apesar de 52% das escolas responderem que falam sobre gravidez na adolescência, 60% sobre DST/aids e 45% sobre saúde sexual e reprodutiva, a freqüência que esses assuntos aparecem derrubou os números que pareciam positivos. Só 29% fazem atividades mensais.
"Não basta que a educação sexual faça parte dos PCNs. O tema deve ser política pública, atingir todas as escolas e proporcionar ferramentas e formação obrigatória para os educadores especializados", afirma. Segundo ela, programas pontuais como os que existem hoje, onde estudantes assistem uma palestra sobre o tema, possuem pouca eficácia.
"Os trabalhos precisam ser consistentes, precisam acompanhar o desenvolvimento do adolescente", acredita. "Os jovens já sabem que precisam usar preservativos mas, por algum motivo, não usam. Então porque continuar repetindo apenas isso? Por que tantas meninas não se previnem de uma possível gravidez? O que os jovens pensam sobre ter um filho? Por que os adolescentes acham que nunca serão atingidos por uma DST? São questões que levam tempo para serem resolvidas", questiona.
Segundo Kraiczyk, há muitas ações interessantes e eficazes sendo realizadas no Brasil. No entanto, são todas feitas por organizações sociais e, por isso, atendem poucos estudantes. É o caso do trabalho realizado na escola particular Claretianos, em São Paulo, que possui uma disciplina específica, com duração de quatros horas semanais, durante um ano letivo. "No entanto, esses projetos só terão efeitos para a sociedade brasileira quando se tornarem políticas na escola pública", afirma.
http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=0065d6bc0af470100140984b936e8bd9
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