Rótulos enganam consumidor |
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Publicado pelo O Estado de S.Paulo 26/05/2006 |
Estudo da Universidade de Brasília revela irregularidades nas embalagens dos alimentos
(Emilio Sant'Anna)
No rótulo do suco de laranja está escrito "100% suco natural", mas basta uma rápida lida na tabela de composição nutricional para notar a presença de conservantes não tão naturais assim. A embalagem da hortaliça vem com um selo de qualidade de um instituto ambiental atestando a ausência de agrotóxicos - mas o tal instituto é mantido pelo próprio produtor.
Esses são casos em que o consumidor pode ser levado a comprar um produto influenciado por informações enganosas. Foi o que constatou uma pesquisa realizada pelo Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutrição (Opsan), da Universidade de Brasília (UnB). O estudo revela que dados enganosos ou, pior, falsos, são comuns nas embalagens de alimentos e bebidas.
A equipe do Opsan, comandada pelas pesquisadoras Naíra Domingos e Janine Giubert, analisou 1.789 produtos. Durante seis meses elas percorreram os supermercados de Brasília analisando todas as marcas disponíveis na cidade.
Dos produtos, 12% apresentaram informações que induzem o consumidor ao erro, como a afirmação de ausência de açúcar em produtos que têm mel. Isso traria os mesmos efeitos para uma pessoa diabética. Outros 7% apresentaram informações falsas, como as gelatinas em pó com fotos de frutas na embalagem, mas sem traço delas, a não ser no nome.
Liderando o ranking da desinformação estão as hortaliças. Mensagens falsas foram encontradas em 43% dos produtos analisados, e outros 43% apresentam informações que induzem ao erro. "O melhor é ler a tabela nutricional e comparar para ter certeza do que se está comprando", diz Naíra.
Para minimizar as interpretações subjetivas, as pesquisadoras formaram grupos de nutricionistas e estabeleceram os critérios utilizados nas análises. Um dos aspectos destacados por Naíra é o nível educacional dos consumidores. "O rótulo pode ser enganoso para mim, mas verdadeiro para outras pessoas."
Chama a atenção na pesquisa do Opsan o fato de os problemas com os rótulos serem encontrados em quase todos os grupos de alimentos (veja no quadro acima). Grandes fabricantes ou pequenos apresentam erros, sem distinção.
CONSERVANTES
As reclamações sobre a questão Instituto de Defesa do Consumidor (Idec) não são freqüentes. Mas, quando o instituto vai a campo por conta própria, em 20% de suas análises o problema é constatado.
Mensagens do tipo "100% natural" e "não contém conservantes" devem ser interpretadas com cautela pelo consumidor. Muitas vezes a verdade contida nelas é apenas uma questão de semântica. "A empresa coloca no rótulo que o produto não contém conservantes, mas olhando com atenção você percebe que tem antioxidantes que, na prática, atuam como conservantes", afirma Murilo Diversi, técnico em alimentos do Idec. "Isso é ilegal e lesivo ao consumidor." "Mesmo trabalhando diariamente com isso já comprei um produto chamado 'especialidade láctea' pensando ser requeijão", conta Diversi.
Doente renal crônico, o engenheiro Paulo Geraldo de Souza Borro sabe a precaução que deve ter ao comprar seus alimentos. "Tomo muito cuidado, mas não me sinto seguro", diz. "Já vi produtos diferentes com rótulos curiosamente parecidos."
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O Estado de S.Paulo
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