Práticas obsoletas presentes na educação infantil |
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Publicado pelo Aprendiz 16/06/2006 |
(Alan Meguerditchian)
Atividades repetitivas e mecânicas. Homogeneização de uma turma, considerando todos os alunos dentro de uma média. Exercícios sem sentido, que não motivam os estudantes em torno do aprendizado da língua além da cópia. Estes são alguns dos problemas identificados pela professora Silvia Gasparian Colello, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), durante sua pesquisa sobre alfabetização de crianças da primeira série do ensino fundamental.
"Em uma das aulas, a professora pediu para que os alunos completassem espaços de algumas palavras com a letra m. As crianças foram completando sem observar a regularidade que envolvia aquilo, que a letra era usada antes do p e do b". Segundo a pesquisadora, atividades como esta, observada durante o estudo, roubam a vontade e a competência do estudante de torna-se um autor, não apenas no sentido literário, mas como alguém que utiliza a escrita e a leitura para expressar seus pensamentos e sentimentos, alguém que enxerga uma razão de ser para a escrita. No final das contas, não apenas um copista.
O estudo, que foi realizado em quatro escolas paulistanas, duas públicas e duas particulares, e acompanhou 10 professoras durante cerca de um ano, identificou a manutenção dessas práticas obsoletas, mesmo com o desenvolvimento teórico e de práticas sobre a alfabetização. "O objetivo da pesquisa era qualitativo, mapear um pouco das mudanças das práticas escolares. É ingenuidade achar que se ensina como há 20 anos. Mas também é ingênuo pensar que o ensino está coerente com o desenvolvimento que ocorreu nesse período. Práticas ultrapassadas permanecem", explica Colello.
Outra prática bastante observada foi a de nivelar a turma, homogeneizar todos em torno de uma média. "Nestes casos, aqueles que estão acima da média acabam se desinteressando, se sentindo subestimados, o que pode gerar até a indisciplina. No outro extremo, os que têm um desempenho abaixo da média são atropelados".
Para a pesquisadora, o resultado de práticas como esta colaboram para que o Índice de Analfabetismo Funcional Nacional (INAF) - quem lê e não entende o que está lendo - atinja 75% da população. Segundo Colello, a culpa de tudo isso não é dos professores. "A mesma professora da atividade do m, apareceu no outro dia com uma atividade muito mais interessante. O grande problema é que ela não tem critério para julgar qual a diferença, sendo apenas uma vítima do processo de sucateamento do ensino. Ela e outros professores estão soltos a própria sorte, o professor da turma A não conversa com o da B. Assim, eles são reféns de um ritmo intenso, muitas turmas e muitos alunos".
Segundo Colello, não existe uma receita que deva ser utilizada em todos os casos. Para modificar a situação, é necessário entender cada turma e o perfil de seus alunos. Para isso, é preciso trabalhar em dois sentidos: formação continuada do profissional e uma base sólida de projeto pedagógico e coordenação. "O primeiro traz as inovações geradas pelas pesquisas para que sejam aplicadas na sala de aula. Enquanto o segundo possibilita essa implantação, no sentido de que a escola tenha um projeto que articule todos os professores em torno de um compromisso geral e que eles tenham o apoio de uma coordenação cúmplice e crítica", detalha.
Caso práticas, como a sugerida pela pesquisadora, fossem realizadas, exemplos contrários poderiam ser observados. "Vi alunos produzindo pequenos livros ou utilizando bilhetes para se comunicar. Isto é dar sentido para a escrita e a leitura. Utilizá-la com prazer".
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