Lições de casa para a América Latina |
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Publicado pelo O Estado de S.Paulo 19/06/2006 |
(Ilona Becskeházy)
De quinta a sábado, as principais lideranças empresariais do Brasil e da América Latina vão se reunir na conferência Ações de Responsabilidade Social em Educação: Melhores Práticas na América Latina - não para discutir, mas para se comprometer com ações concretas para melhorar o ensino na região.
A educação na América Latina não pode continuar do jeito que está. É inaceitável que, com os recursos que os países já investem em seus sistemas de educação, ainda não promovam instrução adequada em língua materna e matemática.
Por que deixamos chegar a esse ponto? Por que a maior parte dos países da América Latina ainda não conseguiu fazer do problema da educação uma comoção nacional? Realmente estamos satisfeitos com o que temos, não nos damos conta do tamanho do desafio ou realmente não ligamos?
Aqui no Brasil temos uma pista: a baixa qualidade da educação não produz cadáveres de forma imediata, ao contrário dos resultados negativos em saúde e segurança pública, que os produzem aos montes.
Os da educação só aparecem lá na frente, quando, por falta dela, vão engrossar as estatísticas dos problemas da segurança pública, por exemplo.
O dia-a-dia da educação no Brasil e em boa parte da região é um cenário no qual cada um faz crer que cumpre sua parte. Gasta-se dinheiro, contratam-se profissionais, elaboram-se programas e políticas públicas, compram-se material e merenda e os alunos participam apenas como espectadores, pois quase nada aprendem. Após visitar escolas e observar o funcionamento de secretarias, cheguei a uma conclusão: a educação não avança porque não trabalhamos o suficiente.
TEMPO DIANTE DOS LIVROS
Parte da questão da falta de qualidade de ensino é simplesmente falta de aula. Elas não são ministradas em quantidade suficiente e, quando professores e alunos estão em sala, vale toda desculpa para não produzir.
Produzir, em educação, é aluno fazer redação e tê-la corrigida. É resolver questões de matemática e entender a solução. É consolidar tudo isso em muita lição de casa, que depois deve ser revista em sala para que se tenha certeza de que cada aluno progrediu. Em cima disso é preciso avaliar, e muito, para avançar e corrigir o rumo onde for necessário.
Um dos maiores especialistas de educação do Brasil, Cláudio de Moura Castro, diz que o resultado dos alunos é diretamente proporcional à fórmula "horas de fundilhos na cadeira na frente do livro". Traduzindo isso para uma linguagem mais polida, o desempenho do aluno é proporcional à quantidade de produção que ele tem de entregar a cada dia. Cada um na sua idade e série produzindo textos e desenvolvendo raciocínio lógico-matemático para crescer cidadão consciente, trabalhador qualificado, pessoa realizada.
Se chegamos à conclusão que falta fazer lição de casa, isso vale para todos nós latino-americanos. Essa inquietação deve ser diária e a mesma que temos com nossos filhos para cobrar qualidade nas escolas deles. Afinal, os alunos que só podem contar com a educação pública precisam da nossa lição de casa, que é fazer com que todos os dias estejamos obcecados com a idéia de criar uma juventude educada.
Com aulas na quantidade prevista em lei, com atividades que os desafiem intelectualmente o tempo todo, sendo respeitados e aprendendo a cuidar das gerações futuras. Para os participantes da conferência, essa lição começa no próximo domingo.
http://txt.estado.com.br/editorias/2006/06/19/ger-1.93.7.20060619.12.1.xml
O Estado de S.Paulo
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