Publicado pelo Aprendiz 24/08/2006

(Alan Meguerditchian)
Viver em uma sociedade democrática tem diferentes significados para alunos de escolas particulares e públicas. Aqueles que têm a possibilidade de pagar pelos estudos associam democracia a valores como igualdade e liberdade. Por outro lado, estudantes de escolas públicas enxergam apenas no voto e na liberdade de expressão os significados de um Estado democrático.

O resultado foi obtido pela pedagoga Ana Maria Klein durante sua dissertação de mestrado, defendida na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP). Para isso, 80 estudantes, da 3ª série do Ensino Médio de duas escolas particulares e duas públicas da cidade de São Paulo, responderam a um questionário que tinha como objetivo identificar a representação da democracia na sociedade, na escola e nas relações interpessoais.

Segundo a pesquisadora, a diferença é resultado do mundo em que vivem os jovens. "Os alunos das escolas particulares têm maior possibilidade de escolhas e vivem a experiência de igualdade de oportunidades. Podem escolher a profissão, por exemplo. Já aqueles que estudam em colégios públicos têm menos oportunidades. Precisam procurar um emprego para sobreviver. Assim, associam a democracia ao voto, pois é o momento em que praticam a democracia na sociedade", diz.

Tal diferença não significa que um grupo tenha maior consciência política do que outro. "A história do Brasil mostra que os direitos políticos foram conquistados antes dos civis e sociais. Assim, os jovens que estão em uma condição socioeconômica mais favorável desenvolvem os valores além dos direitos políticos, como o de liberdade e igualdade. Enquanto isso, os mais carentes, que não vivenciam essas experiências, restringem a noção de democracia em torno do voto", explica.

"Quando questionados sobre a escola e as relações interpessoais, o sentido de democracia para ambos os grupos é o mesmo. A escola é democrática quando permite que os estudantes se expressem e participem e é antidemocrática no momento em que não os ouve. Assim como nas relações interpessoais, que são consideradas democráticas quando uns ouvem aos outros", detalha Klein.

Diante dessa realidade, a pesquisadora identifica uma falha no processo de formação do cidadão dentro do colégio. "O ambiente escolar é o local no qual o jovem aprende a viver com o diferente. Lá eles encontram colegas de religiões e times de futebol diferentes. O problema é que tudo que se vive dentro da escola não é ampliado para a sociedade. Ao pensarem sobre democracia na escola, por exemplo, os alunos não incluíram o acesso a ela", acredita.

Um elemento que chamou a atenção nesse contexto foi a palavra "povo", que apareceu 20 vezes nas respostas dos alunos das escolas públicas e apenas duas vezes nas das particulares. "Ouvi bastante a frase a gente é o povo. Isso mostra que os alunos das escolas públicas sentem-se como parte de um grupo maior. Já os estudantes das escolas privadas mencionaram muito 'os outros', o que pode indicar uma identificação com a ideologia liberal", comenta a pedagoga.

Para ampliar a visão de democracia, o espaço escolar deve se tornar realmente democrático. "Mecanismos de participação devem ser criados. O currículo, por exemplo, deve ser mais democrático, com os estudantes participando da seleção do conhecimento, entendo os 'porquês'", diz. Caso as mudanças sugeridas não sejam aplicadas, as idéias que os jovens têm hoje serão reproduzidas. "A maioria adota uma postura passiva em relação a sua participação social. Nossa democracia é recente e os jovens a experimentam apenas na vida e não na escola, local onde ela realmente deveria ser ensinada", conclui.

http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=375cf8850af4701001ce669ed6

Aprendiz

Para mais informações clique em AJUDA no menu.