Professores que inovam nas aulas de gramática |
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Publicado pelo Envolverde 31/08/2006 |
(Raquel do Carmo Santos)
É difícil imaginar o ensino da gramática sem ter que decorar aquelas regrinhas tradicionais de preposições, sujeitos, classe gramatical e por aí afora. Mas, com os novos parâmetros curriculares em vigor, a idéia é inovar. A partir desta realidade, a lingüista Ana Silvia Moço Aparicio foi a campo conhecer as experiências dos professores que reconfiguraram, em sala de aula, o ensino da gramática. Em sua tese de doutorado – “A produção da inovação em aulas de gramática do ensino fundamental II da escola pública paulista” – apresentada no Instituto de Estudos da Linguagem e orientada pela professora Inês Signorini, Ana Silvia constatou que existem professores da rede pública empenhados em mudar a concepção do ensino da gramática para além da memorização de conteúdos.
A proposta, no entanto, ainda encontra barreiras para ser implantada. Segundo a lingüista, que carrega a experiência acumulada de 20 anos no magistério e formação de professores, os parâmetros curriculares apenas propõem o que deve ser feito, mas não aborda o como fazer. No estudo, realizado na Diretoria de Ensino de Birigui, nas escolas de Penápolis, a pesquisadora constatou que os professores estão levando para sala de aula textos e exemplos produzidos pela lingüística. Se por um lado, a proposta vai ao encontro dos parâmetros, por outro, explica Ana Silvia, a dúvida é se os estudantes estão absorvendo esse conteúdo. “Falta profissionais que façam essa mediação entre o que é produzido pelos lingüístas e a realidade do aluno. Isto significa que o conteúdo está distante do contexto do aluno. Não que esteja errado o processo, mas ainda falta estabelecer essa ponte”.
Um exemplo pode ser observado com relação à preposição “de”. Nas aulas, o professor não apresenta apenas a regra tradicional, mas também disponibiliza as variações da regra para que os alunos pensem e discutam a gramática e não apenas decore a regra. Ana Silvia esclarece que a sua proposta em apresentar as experiências desenvolvidas não entra no mérito avaliativo. Pretende fornecer elementos para avaliações das contribuições vindas dos lingüistas. “Não questiono o certo ou o errado. Na verdade, a intenção é dar visibilidade da produção destes professores que estão tentando implantar os parâmetros”, explica. O trabalho faz parte de um projeto temático, coordenado pela professora Inês e financiado pela Fapesp, sobre o impacto das novas orientações nas práticas de sala de aula.
As aulas dos professores voluntários, num total de sete, foram gravadas em áudio e depois feita a análise. Para isso, a pesquisadora partiu de um conceito de inovação, preconizado por sua orientadora, que significa deslocamento ou reconfiguração dos modos rotineiros de raciocinar, agir e avaliar em questões de ensino de língua. Ela lembra que o próprio termo inovação remete a abandonar o tradicional e substituir pelo novo. O conceito voltado para o ensino da gramática, no entanto, considera uma simples mudança, por exemplo. Ana Silvia considera ainda que o perfil dos professores voluntários já corresponde a uma mudança de mentalidade. Eram formados nos últimos dez anos com experiência mínima de um ano. Todos continuam a freqüentar cursos de capacitação e não preparam as aulas com base em apenas um livro, mas realizam vários materiais a partir de uma seleção.
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=21975&edt=34
Envolverde/Jornal da Unicamp
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