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Publicado pelo Aprendiz 19/10/2006 |
(Gilberto Dimenstein)
Com um pós-doutorado no zoológico de Washington, nos EUA, José Luiz Catão Dias transformou-se num dos poucos brasileiros especializados em doenças de animais selvagens - uma especialidade que o levaria a caminhadas pelas savanas da África, florestas da Amazônia e geleiras da Patagônia. Neste momento, ele está desenvolvendo uma experiência com seres tão esquivos quanto os espécimes selvagens: os estudantes obrigados a aprender ciências. "É possível mudar até mesmo os alunos mais resistentes", aposta.
Professor de veterinária na USP, José Luiz é diretor técnico-científico do zoológico de São Paulo, que recebe, anualmente, mais de 1 milhão de crianças e jovens, muitos deles trazidos pelas escolas. "Não é o suficiente para mexer com eles." Nem mesmo, em sua opinião, com as visitas monitoradas. "Queríamos que os estudantes viessem para o zôo e que o zôo fosse até a sala de aula."
José Luiz sabia que uma escola (Amorin Lima), vizinha à USP, onde leciona, vinha produzindo inovações especialmente ousadas para a rede pública. Ali, quebraram-se as paredes que dividiam as classes, formando imensos salões. Sumiram as fileiras de cadeiras, os alunos passaram a trabalhar sempre em pequenos grupos, e os professores tinham de ajudá-los a fazer pesquisa. Atividades extracurriculares integraram-se ao currículo; assim se poderia estudar, por exemplo, capoeira junto com história. Um lingüista, Geraldo Tadeu de Souza, auxiliava os professores a mostrar aos alunos como produzir roteiros de pesquisa, enriquecendo os livros didáticos. "Essa era a escola ideal para começar nosso piloto", afirma José Luiz.
O primeiro passo foi levar os professores da Amorin Lima para uma visita monitorada ao zoológico, quando discutiriam com biólogos um plano de trabalho. Depois, vieram os alunos já devidamente sensibilizados em sala de aula. E, enfim, os monitores do zôo voltaram à escola para conversar e tirar as dúvidas. "Pelas perguntas, vimos que muitos alunos que, na visita, pareciam desinteressados estavam ligados", constatou Geraldo Tadeu de Souza, orientador da Amorin Lima.
Não era algo que surpreendesse José Luiz - e não só porque viu, em Washington, como os mais diferentes museus desenvolviam programas com as escolas e traduziam, para o cotidiano, intrincadas fórmulas da química, da física e da biologia.
Ele nasceu na rua Groenlândia, nos Jardins, bem longe do campo e ainda mais longe de animais selvagens. Mas, quando era adolescente, morou em uma fazenda nos Estados Unidos, por causa de um programa de intercâmbio - voltou com a idéia de estudar veterinária.
O projeto piloto funcionou a tal ponto que o governo estadual decidiu estender o programa para toda a rede. "Nosso objetivo é muito simples: queremos que a criança saia do zôo diferente. Mais aberta a aprender e, mais ainda, a defender o ambiente." Na sua visão, a partir do zôo, ela pode se sentir mais próximo da Amazônia.
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