Publicado pelo Envolverde 10/11/2006

(Eduardo Paschoal)
O antigo carrinho de boi, representando a sociedade rural do início do século passado, já serviu de brinquedo para várias gerações, e hoje repousa no imaginário e nas prateleiras do Museu da Educação e do Brinquedo (MEB), na Faculdade de Educação (FE) da USP. Assim como esse carrinho - a peça mais antiga do museu - vários outros brinquedos, desde piões, carrinhos de carretel e pipas, até um famoso videogame da década de 1970, o Atari, estão expostos no contexto do tema O brinquedo e o brincar: possibilidades na conscientização de crianças e de educadores sobre seu papel no desenvolvimento humano e social.

O MEB recebe visitações de segunda à sexta-feira e conta com monitores que orientam e narram a história e contexto das peças ali expostas. O acervo guarda mais de mil brinquedos e cada exposição temática dura de um a dois anos. Além das peças, há também a exposição de fotos dos anos 1920 a 1940, que mostram a prática docente nessa época, retratos raros e praticamente inéditos.

O projeto nasceu nos anos 1980, quando a professora Tizuko Morchida Kishimuto, da FE, estava concluindo seu doutorado. Na época, a docente recebeu as fotos de Alice Meireles Reis, professora de uma antiga escola de São Paulo, com a responsabilidade de organizá-las em uma exposição. O museu foi montado, na ocasião, em uma única prateleira no Laboratório de Brinquedos e Materiais Pedagógicos.

Em 1999, com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o acervo ganhou uma sala, monitores, e toda infra-estrutura necessária para sua montagem. Hoje, ele é um espaço não só de preservação do lúdico e da memória de infância, mas também ferramenta importante para pesquisas relacionadas ao papel da brincadeira na educação de crianças.

Segundo Tizuko, o Museu é um espaço de grande proveito para a Faculdade: “além de ser uma forma de pesquisar as ações dos adultos e crianças que o visitam, ele ajuda na formação dos professores e dos próprios funcionários”. As pesquisas realizadas, tendo por base a relação das crianças com os brinquedos, vão desde o entretenimento até as relações de gênero, na diferenciação dos brinquedos “de menino” e “de menina”.


Lúdico levado a sério
As brincadeiras de infância sempre estão presentes em nossas recordações e memórias do passado, mas, além de ser uma fase de entretenimento, o ato de brincar deixa marcas por toda a vida. É o que afirma Tisuko: “quando a criança brinca, toma iniciativa, escolhe com quem, que objeto, e que personagem assumir. Ela está sendo uma protagonista, tomando decisões, e isso é fundamental para formação do ser humano”.

Para a educadora Jany Elizabeth Pereira, responsável pelo MEB, a formação da criança não se pauta especificamente pelos materiais com que brinca, mas pelo próprio ato de brincar. É aí que se dá a formação do lúdico, do fantasioso, tão importante para a infância na construção de nossas propriedades cognitivas. “A sociedade atual não abre espaço para esse mundo sensível, do brincar. Há uma separação clara entre o que é brincar e o que é sério, sendo o brincar relegado a um plano menos importante”, diz Jany.

A educadora explica que o Museu busca resgatar essa memória da diversão no mundo infantil, espaço em que as relações sociais começam a ser delimitadas. E isso é útil também aos adultos, que vêem no acervo uma oportunidade de reviver os momentos de infância. “Ninguém deixa de ser adulto só porque brincou. A criança é educada para ser adulto, como se ser adulto fosse o supra-sumo. O trabalho que fazemos aqui é pensando essa integração, a mobilização da criança que fomos, do repertório de brincadeiras que tivemos”.

Para quem quiser reviver as memórias da infância, a visita ao Museu da Criança e do Brinquedo é gratuita e pode ser feita individualmente ou em grupos, de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Mais informações e agendamento de visita com monitores, pelo telefone (11) 3091-2352. O MEB fica na avenida da Universidade, 308, Bloco B, sala 38, Cidade Universitária, São Paulo.

http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=24413&edt=8

Agência USP

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