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Compromisso com uma cultura


Publicado pelo site do jornal O Estado de São Paulo 18/12/2006

Quando chegou a Paris, nos anos 1960, o escritor Mario Vargas Llosa descobriu a América Latina. Foi preciso a distância física para que o jovem peruano, então voltado apenas para a literatura européia e norte-americana, se encantasse com a cultura multifacetada e desigual daquele vasto território do continente. Tema constante de seus artigos desde então, a América que se expressa em espanhol e português ocupou um espaço privilegiado em sua carreira, a ponto de o próprio Llosa selecionar alguns e formar o Dicionário Amoroso da América Latina (368 páginas, R$ 60), que a Ediouro acaba de enviar para as livrarias.

São 142 verbetes ordenados alfabeticamente em que, de A a W, o escritor percorre o passado, pessoas e costumes latino-americanos. 'É uma miscelânea plural, muito parecida, ainda que em formato microscópico, com o que acredito que seja a América Latina', comenta Llosa. 'O livro se ocupa de todos os temas imagináveis - a revolução, a fotografia, certos hábitos da linguagem popular, o cinema, as ditaduras, a paisagem, os escritores, a história, o humor, o futebol, as viagens, a pintura - e abarca uma variedade de gêneros, como a reportagem jornalística, o artigo, a evocação, a resenha, o registro fúnebre, a crônica e até a ficção.'

Assim, Llosa tanto direciona sua lupa para o pequeno povoado colombiano de Arataca, local em que nasceu Gabriel García Márquez e onde se inspirou para criar as fantásticas histórias de Macondo, como oferece um texto pouco conhecido, como os poucos parágrafos em que recorda o encontro, em 1966, com Fidel Castro, de quem não escondia o apreço ('Na única vez em que conversei com Fidel Castro - embora, talvez, seja exagero dizer 'conversar', pois Fidel Castro, como convém a um semideus, não admite interlocutores, apenas ouvintes - fiquei muito impressionado com sua energia e seu carisma.')

O Brasil é lembrado em alguns verbetes, em que lança um olhar carinhoso tanto para escritores (Jorge Amado, Rubem Fonseca, Guimarães Rosa) como personalidades de importância histórica (como o embaixador Sérgio Vieira de Mello, morto em 2003, em Bagdá, em um ataque terrorista).

Sua relação com o País também é lembrada. Em um dos verbetes, Llosa recorda sua experiência no carnaval carioca, em 1999. Embora seu olhar não escape de uma análise ligeiramente estereotipada ('enquanto existir o carnaval, não haverá nenhuma revolução social no Brasil'), o escritor não esconde seu assombro com a força da festa na população brasileira.

Llosa é mais comum ao tratar do futebol brasileiro, no item 'Brasil'. Ali, apesar de ensaiar uma explicação para o inconfundível toque de bola do jogador nacional ('É curiosa, estranha e fascinante a relação que se estabelece entre a bola e esses pés hábeis: uma cumplicidade bailarina, um namoro rítmico, um entendimento mágico'), o que mais interessa é a comparação que ele faz como a culinária peruana, desconhecida para a maioria dos leitores que não seus patrícios. Llosa conta que os pratos de seu país (guisados, molhos, condimentos, ingredientes) exibem uma fantasia e uma audácia especulativa tanto mais surpreendente por partir de uma nação pobre, em que muita gente se alimenta mal e muitos não comem praticamente nada.

São desses pequenos detalhes e observações que desponta o grande mérito do Dicionário Amoroso. Além de criar um interessante jogo de exercício de inteligência com o leitor, Llosa comprova que, ao longo do tempo, sua prosa sempre se revelou clara e depurada, com virtudes hoje especialmente necessárias - de um lado, o uso das palavras segundo seu próprio sentido, sem concessões à arbitrariedade; de outro, o mesmo uso para construir conceitos inteligíveis, sem arremessar o leitor para um labirinto de significados.

Como se trata de uma obra em que expressa sua simpatia por pessoas, fatos e lugares, Llosa é carinhoso especialmente com seus companheiros de ofício, conseguindo a proeza de, em poucas linhas, traçar um perfil delicado e quase que completo. Veja, por exemplo, o q

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