> Sistema Documentação
> Memorial da Educação
> Temas Educacionais
> Temas Pedagógicos
> Recursos de Ensino
> Notícias por Temas
> Agenda
> Programa Sala de Leitura
> Publicações Online
> Concursos & Prêmios
> Diário Oficial
> Fundação Mario Covas
Boa noite
Quinta-Feira , 01 de Maio de 2025
>> Notícias
   
 
Uma nova tragédia chega aos livros


Publicado pelo site do Jornal O Estado de São Paulo 21/02/2007

Uma nova tragédia chega aos livros

Marcos Sá Corrêa*

As árvores ganharam outro dia duas páginas do New York Review of Books, onde o biólogo Tim Flannery plantou comentários sobre dois tratados de botânica que acabaram de chegar às estantes dos especialistas. Juntos, pesam 1.217 páginas. Flannery está mais que acostumado a digerir para os leigos assuntos pesados. Em The Weather Makers, seu livro sobre aquecimento global, não deixa pergunta sem resposta sobre o papel humano na mixórdia climática. Ninguém pode dizer que parou a leitura no meio por achar o texto chato.

Ele aproveitou, sobretudo, o lançamento de The Tree, de Colin Tudge, para lembrar que mal sabemos o que é precisamente uma árvore. Podíamos estar convencidos de sabermos até duas décadas atrás, antes que o estudo do DNA viesse balançar o sistema de Lineu, botando os cogumelos mais perto do homem que da couve-flor.

O próprio Flannery se espanta ao registrar que, ultimamente, os botânicos põem os carvalhos mais ou menos ao lado dos pepinos. Quer dizer, as árvores têm 'uma história épica'. Para contemplá-las, Tudge recomenda abrir os olhos para sua 'quarta dimensão, a do tempo, e ver como os ancestrais da árvore que cresce diante de nossa janela viram a luz num canto remoto da Terra, há milhões ou centenas de milhões de anos, flutuaram em seus blocos de continente quando os próprios continentes circunavegavam o globo, contornaram as geleiras da era glacial e provavelmente eclodiram num pântano primevo, desaparecido há muito tempo, com crocodilos a seus pés e os primeiros falcões e martins-pescadores do mundo montavam guarda em seus galhos'.

Dito assim, fica tudo tão complicado, que Tudge considera uma imprudência falar em 'árvore'. Esse nome, que dá título a seu livro, não tem definição confiável na ordem natural das coisas. Há espécies que podem ser árvores ou arbustos, dependendo de onde resolvam fincar raízes. E árvores que, no passado, foram trepadeiras ou mesmo ervas rasteiras. Por levar o tema tão a sério, Tudge só se arrisca a definir árvore com palavras de criança: uma 'planta grande com bastão no meio'. Não é uma 'coisa', mas uma 'façanha'.

Isso, pelo menos, ninguém pode negar ao desflorestamento. A sensação de perda que ele provoca está dando às árvores uma atenção que, antes, quando pareciam donas do planeta, por mais que merecessem, elas não recebiam. Três anos atrás, o geneticista David Suzuki fez, com Wayne Grady, a biografia de um pinheiro Pseudotsuga menziessi, com 50 m de altura e 5 m de circunferência, que vive atrás de sua casa, no Canadá. Suzuki, embora zoólogo, tratou de decifrar as linhas da 'façanha' vegetal, desde o provável incêndio espontâneo em que sua semente eclodiu há mais de 400 anos, quando 'William Shakespeare ainda estava escrevendo Rei Lear', até a morte natural, daqui a dois ou três séculos.

Está na moda tratar árvores com respeito, pelo menos em livros. O inglês Thomas Pakenham corre mundo com sua máquina fotográfica retratando as mais 'notáveis'. O engenheiro florestal Harri Lorenzi está na quinta edição de Árvores Brasileiras, catálogo que começou a juntar na época em que precisava de argumentos para convencer donos de canaviais de São Paulo a recompor matas ciliares com espécies nativas.

Meses atrás, com Árvores da Amazônia-Brasil, o fotógrafo Silvestre Sil resumiu em menos de 250 páginas o que nunca aparece nas notícias sobre o desmatamento. Os recordes de derrubada conseguem, no máximo, apresentar as cicatrizes na floresta, sempre a mesma massa verde de copas indistintas. Silva revela o que faz por baixo dessas estatísticas.

São acariquaras, berós, carapanaúbas, coataquiáuas, cumarus, morototós, mungubas, paricás, quarubas ou tauarís. Apresentados, um a um, no esplendor de sua forma, como árvores que o Brasil perde sem saber nem sequer que existiram. Perder uma só espécie de árvore, segundo Flannery, 'é uma tragédia'. Um tipo de tragédia que nunca foi tão fácil achar nas livr

http://www.estado.com.br/editorias/2007/02/21/ger-1.93.7.20070221.3.1.xml

O Estado de São Paulo

Para mais informações clique em AJUDA no menu.

 





Clique aqui para baixar o Acrobat Reader