Críticas a alguns cursos de Medicina |
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Publicado pelo Site do Jornal O Estado de São Paulo 26/02/2007 |
'Muitas faculdades de Medicina fingem que estão ensinando'
ENTREVISTA
Ricardo Brentani, diretor-presidente do Hospital do Câncer de São Paulo
Cientista critica MEC por permitir que instituição médica com conceito ruim em avaliação federal continue funcionando
Ricardo Westin
O médico e cientista Ricardo Brentani faz coro à onda de críticas ao Ministério da Educação por permitir o funcionamento e a abertura de cursos de Medicina de qualidade duvidosa. Os médicos formados nessas escolas, diz ele, colocam a saúde da população em risco.
“Quantas faculdades foram fechadas nos quatro anos deste governo por causa do resultado ruim no Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes)? Quantas escolas foram fechadas no governo anterior, que tinha o Provão (antecessor do Enade)? De que adianta ter avaliação se um mau resultado não leva a uma punição?”, questiona Brentani, presidente do Hospital do Câncer de São Paulo, um dos diretores da Fapesp (órgão do governo paulista que financia pesquisas científicas) e professor da USP.
A campanha contra a abertura indiscriminada de cursos é liderada por entidades como o Conselho Federal de Medicina (CFM), a Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp). Diante da pressão, o MEC baixou, no início deste mês, uma portaria que deu ao Conselho Nacional de Saúde (CNS) a prerrogativa de se manifestar sobre a abertura de cursos. No mesmo dia, porém, o MEC autorizou a abertura de mais três cursos de Medicina no Estado de São Paulo.
Procurado pelo Estado, o Ministério da Educação afirmou que não se manifestaria sobre as críticas dos médicos.
Para comprovar que não se aprende muito nas salas de aula de Medicina, o Cremesp propôs uma prova aos alunos do último ano das faculdades de São Paulo. Dos sextanistas que resolveram o exame no ano passado, 38% foram reprovados. Esses médicos provavelmente estão hoje em hospitais e consultórios.
No Hospital do Câncer, Brentani consegue manter a qualidade do atendimento. Na unidade de terapia intensiva (UTI), por exemplo, todos os 18 médicos têm doutorado. Fora de seu controle, a qualidade dos profissionais de postos de saúde e outros hospitais tem repercussões - negativas - no trabalho do Hospital do Câncer. “Metade das pessoas que nos procuram simplesmente não tem câncer. Ou seja, um médico as encaminhou para cá acreditando que elas tinham câncer. E também recebemos pessoas que ouviram de seus médicos que elas não tinham câncer, mas na realidade tinham.”
Além de o MEC não fiscalizar, segundo Brentani, muitas faculdades não têm interesse em oferecer qualidade. “Com ou sem qualidade, os estudantes pagam, porque querem ser médicos de qualquer jeito.” Um exemplo disso é o fato de ele próprio, dono de um currículo invejável, ter sido chamado uma única vez para ser professor numa faculdade particular. E isso nos anos 60, quando ainda era um médico com pouca experiência.
Foram reprovados na prova do Cremesp 38% dos alunos...
O número verdadeiro é maior que 38%. Como a prova não era obrigatória, quem se apresentou foram os alunos que achavam que passariam. Os que achavam que não passariam nem foram ao exame. Se todos tivessem feito a prova, o índice de aprovação teria sido muito, muito menor.
O ensino médico é ruim?
É muito ruim. As instalações das escolas não são adequadas. Como se ensina histologia ou anatomia patológica sem microscópio? Os professores também não são bons. Vemos nos jornais que há instituições privadas que contratam doutores na véspera da avaliação federal e no dia seguinte demitem todo mundo e põem gente menos qualificada no lugar, porque sai mais barato. E metade das escolas médicas não tem nem sequer um hospital-escola próprio. Como vão ensinar medicina assim? Elas fingem que estão ensinando...
Por que as faculdades não se preocupam com a qualidade?
A formação de médicos virou business, virou negócio. Por isso temos essa multiplicação desenfreada de escolas privadas. A maioria delas ainda não percebeu que investir em qualidade dá dinheir
http://www.estado.com.br/editorias/2007/02/26/ger-1.93.7.20070226.27.1.xml
O Estado de São Paulo
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