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Um pouquinho de mãe em nosso corpo


Publicado pelo Site do Jornal O Estado de São Paulo em 01/03/2007

Um pouquinho de mãe em nosso corpo

Fernando Reinach*

Ser mãe não é só padecer no paraíso. Se ela for um mamífero, é abrigar o feto no útero, alimentá-lo através da placenta e finalmente amamentá-lo após o nascimento. Mas agora as mães parecem ter um novo papel, doar suas células para os filhos.

Durante a gestação, o feto é alimentado por meio da placenta. Ela se fixa no interior do útero materno e é ligada ao feto pelo cordão umbilical. A placenta funciona como uma espécie de radiador. No carro, o radiador transfere o calor da água para o ar sem que o ar entre em contato com a água.

Na placenta, existe um mecanismo semelhante - de um lado circula o sangue da mãe, do outro o sangue do filho. Apesar dos dois tipos de sangue não se misturarem, moléculas pequenas, como o oxigênio e os alimentos, passam do sangue da mãe para o filho. Ao mesmo tempo o gás carbônico e os “rejeitos” do feto são transferidos para a mãe.

Faz tempo que se sabia que algumas moléculas maiores, como o antígeno que causa a reação anti-RH, podem cruzar a barreira da placenta.

Em 1995 um grupo de pesquisadores descobriu um pequeno número de células oriundas da mãe no sangue de quase 100% das crianças recém-nascidas, demonstrando que células também podem cruzar a placenta.

De início a presença dessas células foi atribuída ao trabalho de parto, quando as contrações acabam por separar a placenta do útero. É possível que durante o parto o isolamento existente no “radiador” seja rompido e um pouco do sangue materno se misture ao sangue do filho.

De fato, células fetais também são encontradas na mãe. Mais recentemente foi descoberto que tais células não morrem, mas se dividem, e seus descendentes continuam em nosso corpo por muitos anos.

QUIMERA

O fenômeno, chamado de microquimerismo para indicar que nosso corpo na realidade é uma quimera contendo mais de 99,99% de células “nossas” e menos de 0,001% de células de nossas mães, era considerado uma mera curiosidade biológica, uma espécie de resquício de nossa vida no útero.

Agora um grupo de cientistas resolveu estudar quantas dessas células sobrevivem em adolescentes que sofrem de diabete tipo 1 e nos seus irmãos não afetados pela doença.

Descobriram que 15% dos adolescentes diabéticos carregam em seu corpo quase 0,1% de células recebidas de suas mães, enquanto entre os irmãos não afetados somente 1,6% possuía níveis altos de células maternas. Além disso, no pâncreas de um paciente com diabete quase 1% das células era de origem materna.

Os cientistas ainda não sabem o que isso significa: a alta quantidade dessas células em pacientes pode ser uma tentativa de o corpo tentar contrabalançar a sua deficiência ou pode ser uma das causas da reação auto-imune que leva à destruição das células que produzem insulina e provoca diabete.

HERANÇA DA VIDA UTERINA

A descoberta sugere que o fato de trocarmos células com nossas mães durante a vida uterina pode ter repercussões ao longo de toda a vida.

A afirmação de que cada um carrega consigo um pouco de sua mãe agora tem um significado biológico. Até hoje sabíamos que recebíamos de nossas mãos metade de nossos genes e parte de nossa educação.

Agora, para o bem ou para o mal, sabemos que carregamos conosco algumas células de nossas mães.

Mais informações em Maternal microchimerism in peripheral blood in type 1 diabetes and pancreatic islet b cell microchimerism, na PNAS, volume 104, página 1.637, de 2007.

*fernando@reinach.com
Biólogo

http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/01/ger-1.93.7.20070301.9.1.xml

Jornal O Estado de São Paulo

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