Emoções afetam juízos de dilemas morais |
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Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 22/3/07 |
Emoções afetam juízos de dilemas morais
Giovana Girardi
Vale a pena sacrificar uma pessoa se isso significar o bem de muitas outras? Imagine a seguinte situação: alguém que você conhece tem aids e planeja infectar outros indivíduos. Suas únicas opções são deixar isso acontecer ou matar essa pessoa. Você faria isso?
Por mais que esteja em questão um bem maior, não é uma decisão fácil de tomar. Em julgamentos morais como esse é de se esperar que sentimentos como compaixão desempenhem papel importante, mas não se sabia bem se, e como, as emoções agiam nessa hora.
Um grupo de pesquisadores liderados pelo neurocientista português António Damásio, radicado nos EUA, descobriu que ao menos uma área do cérebro ligada às emoções está intimamente relacionada com julgamentos morais. O grupo submeteu seis pacientes com lesões em uma dessas áreas (córtex pré-frontal ventromedial) a 50 dilemas hipotéticos que opunham um bem maior a algum tipo de comportamento aversivo. Em um dos casos eles tinham de decidir se tiravam a vida de uma criança para salvar muitas outras pessoas.
A equipe percebeu que esses indivíduos, em comparação com pessoas saudáveis e pacientes com danos em outras partes do cérebro, tomavam decisões anormalmente “utilitárias”, frias. “Nessas circunstâncias, a maioria das pessoas desmorona. Mas os sujeitos com essa lesão específica parecem não viver um conflito”, explica Damásio, diretor do Instituto de Cérebro e Criatividade, da Universidade do Sul da Califórnia. No experimento, eles não hesitaram em ferir uma pessoa em prol do “bem maior”.
O estudo, publicado na edição de hoje da revista Nature, contou também com a participação do psicólogo Marc Hauser, da Universidade Harvard, que no ano passado lançou o livro Moral Minds (Mentes Morais). Na obra, ainda inédita no Brasil, ele propõe que nosso cérebro é dotado de mecanismo que funciona como uma espécie de gramática moral universal.
Esse “órgão moral” é totalmente hipotético, mas Hauser acredita que o estudo liderado por Damásio dá o primeiro passo na busca por bases biológicas da moralidade. “Ainda estamos longe de encontrá-lo. Mas este trabalho ajuda a reforçar a idéia do meu livro de que julgamentos morais podem ser tomados na ausência de um gatilho emocional”, explicou Hauser ao Estado. “A chave não é só saber se as emoções desempenham papel nesses juízos, mas onde agem. Elas são importantes como guias para o que as pessoas fazem, em oposição ao que elas realmente pensam”, diz. “Há uma dissociação freqüente entre como julgamos e como agimos.”
http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/22/ger-1.93.7.20070322.5.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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