Igreja do século 18 renasce no Rio |
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Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 16/4/07 |
Igreja do século 18 renasce no Rio
Hoje, Nossa Senhora da Saúde vai ser reaberta após obras de R$ 1,5 milhão
Beatriz Coelho Silva, RIO
A primeira igreja tombada no Rio de Janeiro, a de Nossa Senhora da Saúde, na zona portuária, será reinaugurada hoje, com uma missa rezada pelo arcebispo da cidade, d. Eusébio Scheid. A obra é estratégica para a revitalização da área, projeto de duas décadas da prefeitura do Rio, que já construiu um condomínio de classe média nas proximidades e promete reurbanizar todo o entorno.
O bairro da Saúde, um dos primeiros do Rio, entrou em decadência quando a classe média e a aristocracia mudaram-se para a zona sul, processo aguçado com a desativação dos armazéns do porto e a construção do viaduto da Avenida Perimetral, entre o cais e o morro.
Apesar de haver um marco de inauguração de 1742 na entrada da igreja, há poucos documentos sobre sua fundação porque a irmandade que a mantinha foi desativada antes de1950. Nos anos 60, foi fechada e suas imagens foram levadas para o museu da arquidiocese, inclusive a de Nossa Senhora da Saúde, do início do século 19, hoje uma das peças mais valiosas do acervo.
Os azulejos portugueses, no entanto, um pouco mais recentes que os do Outeiro da Glória e que contam a história bíblica de José do Egito, tiveram 4 das 14 cenas roubadas - assim como parte das talhas de madeira do altar.
A pintura do teto, sobre tecido ao invés de afresco, foi deixada dentro do prédio, que quase ruiu. “A primeira etapa da obra, em 2001, foi evitar que o imóvel caísse. Consertamos o telhado, o piso e reforçamos as paredes. Em 2004, começou a restauração, que demorou porque algumas decisões não eram só nossas”, conta o arquiteto Jorge Astorga, que assinou o projeto.
“Devíamos reconstituir os azulejos e as talhas como os originais ou deixar evidente a intervenção ocorrida. O pano do teto, do início do século 20, deveria ser recolocado, mesmo de outra época? Estas questões foram discutidas com a arquidiocese e com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional”, continua ele, que optou por deixar evidente a ausência das peças originais e manter a decoração do teto.
Astorga acredita que a igreja da Saúde é anterior ao Outeiro da Glória, embora tenha semelhanças. “Ambas ficam sobre colinas, que eram cercadas pelo mar, e o prédio com o morro vira uma escultura sobre um pedestal. A diferença é que o bairro da Glória continuou nobre e o Outeiro nunca foi fechado”, explica. “Aqui, além dos ricos terem ido embora, o morro ao lado era depósito da Esso até a criação da Petrobrás e, no pátio embaixo, ficava o incinerador do Banco Central. Com a desativação dos dois, foi construído o condomínio em cima e o BC cedeu sua área para a construção da rampa de acesso da igreja, que voltará a ter movimento, já que ainda mora muita gente nas redondezas.”
Quem mais se anima é o pároco da Saúde, Arnaldo Sulztah, que nunca se conformou com o fechamento da igreja. Por isso, comemorou quando o Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) resolveu patrocinar a obra, orçada em R$ 1,5 milhão, com recursos da Lei Rouanet.
Mas o projeto ainda não está concluído. Além da urbanização do entorno, descobriram-se novas pinturas na capela-mor (onde fica o altar). “O teto era caiado e só recentemente, vimos uma fotografia com a pintura, que deve estar intacta sob a tinta branca. Vamos restaurá-la no futuro”, promete Astorga. O padre Sulzath pretende fazer uma grande festa no próximo 15 de agosto, dia de Nossa Senhora da Saúde.
http://www.estado.com.br/editorias/2007/04/16/cid-1.93.3.20070416.20.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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