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Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo em 25/04/2007 |
Vacina 100% brasileira
A partir do ano que vem o Brasil se tornará auto-suficiente na produção de vacina contra a gripe. No dia 28, o Instituto Butantan inaugurará a primeira fábrica de vacinas desse tipo na América Latina e a segunda no Hemisfério Sul. A unidade terá capacidade de produzir os 20 milhões de doses que o País consome por ano e que custam aos cofres públicos R$ 100 milhões. A nova fábrica foi construída com verbas do governo paulista e do Ministério da Saúde, num investimento de R$ 70 milhões.
As campanhas nacionais de vacinação de idosos contra a gripe começaram a ser feitas no Brasil há oito anos, quando o governo brasileiro firmou acordo com o laboratório Sanofi Pasteur, que obteve exclusividade no fornecimento da vacina ao Brasil por alguns anos, porém, com o compromisso de repassar a tecnologia para que o Instituto Butantan a produzisse. Já há algum tempo o instituto recebe da França a vacina bruta e faz o envasamento e acondicionamento do produto. A partir da inauguração da fábrica, toda a produção será feita em São Paulo.
A vacina é oferecida gratuitamente às pessoas com mais de 60 anos. O preço da dose comprada pelo governo é de US$ 3 ou pouco mais de R$ 6,00. Nas clínicas particulares de vacinação, a dose custa R$ 50,00. A iniciativa do Butantan reduzirá sensivelmente os gastos do governo com a imunização em larga escala.
O secretário de Estado da Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, define o início do funcionamento da fábrica como um marco na história da saúde pública brasileira. É mais um entre tantos outros marcos importantes fixados pelo Butantan em seus 105 anos na área da saúde pública. A instituição, criada em 1889 para produzir soro contra a peste bubônica que se propagava a partir do Porto de Santos, responde hoje por 82% da fabricação brasileira de vacinas. Sua produção é equivalente à metade do consumo brasileiro, estimado em 300 milhões de doses.
Atualmente, o Butantan é apontado por instituições como a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) como centro de capacitação em produção de imunobiológicos e recebe pesquisadores de vários países. Tecnologia, avanço nas pesquisas e parcerias com entidades estrangeiras, como o Centro de Controle de Doenças norte-americano, asseguraram posição de destaque mundial para o instituto. É a única instituição da América Latina e uma das cinco no mundo autorizadas a manejar o vírus H5N1, causador da gripe aviária. Estima-se que até 2008 o Butantã esteja pronto para fabricar a vacina brasileira contra esse vírus.
O Butantan tem sido um escudo eficiente contra as novas ameaças epidemiológicas e um combatente eficaz das doenças negligenciadas pelo governo. Até 2010, serão lançadas 12 vacinas, algumas inéditas e outras com avanços tecnológicos capazes de baratear seus custos ou reduzir efeitos adversos. Entre elas, está o produto de imunização contra a dengue e contra o rotavírus, que atuará contra cinco subtipos do vírus. A vacina hoje existente no mercado combate apenas um tipo. Produzida no País, a vacina custará um terço do preço atualmente pago, de US$ 7.
No ano passado, o Butantan avançou nas pesquisas com carrapatos, a partir dos quais isolou proteínas capazes de atuar contra células tumorais. Também desenvolveu uma nova substância a partir do veneno da cascavel com poder analgésico 600 vezes maior do que a morfina e que não causa dependência física. E está em estágio avançado o processo para a produção da primeira vacina contra o verme Necator americanus, causador da ancilostomíase, ou amarelão.
Ao longo da história, o Instituto Butantan viveu inúmeras crises, principalmente financeiras. Nos últimos anos, porém, a determinação de sua administração manteve o Butantan nos trilhos da pesquisa, da produção e do oferecimento de produtos a preço acessível, tanto ao governo quanto à população.
Além disso, a criação de diferentes departamentos de pesquisa e o estabelecimento de convênios com empresas e demais institutos transformaram o Butantan num centro de excelência.
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