Para conhecer e gostar de literatura |
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Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 27/04/07 |
Para conhecer e gostar de literatura
De Machado de Assis a Fernando Bonassi, Rapsódia dos Divinos teatraliza poemas, romances e contos de autores brasileiros
Beth Néspoli
O espectador é convidado a tirar os sapatos e recebe pantufas para entrar no Espaço Vitrine, onde estréia amanhã o espetáculo Rapsódia dos Divinos. É recebido pelos atores que cantam Boas Vindas, poema de Manuel Bandeira musicado por Heitor Villa-Lobos. Na pequena sala de formato retangular, acomoda-se numa arquibancada diante de um palco-corredor branco contra um painel de fundo que reproduz fragmentos manuscritos da carta de Pero Vaz de Caminha.
Começa, assim, uma viagem pela literatura brasileira, desde suas origens - o épico Os Lusíadas e trovas portuguesas -, passando pelo barroco, arcadismo, romantismo, realismo e todos os ismos que lhe seguem. Sejam musicadas, sejam faladas pelos atores, são ouvidos em cena trechos de obras como I-Juca-Pirama, de Gonçalves Dias; Iracema, de José de Alencar; A Paixão Segundo GH, de Clarice Lispector; O Navio Negreiro, de Castro Alves; A Louca, de Augusto dos Anjos; Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, passando pelo Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade até Descobrimento dos Brasis, de Fernando Bonassi, entre outras.
O Estado acompanhou na segunda-feira um ensaio aberto que literalmente encantou o público presente. Há mesmo momentos especialmente bonitos, como a teatralização enxuta de Pai contra Mãe, de Machado de Assis, sem dúvida entre as melhores representações cênicas desse conto tão explorado no palco e até nas telas. Os quatro atores estão sentados em tamboretes, tem gestos mínimos, se apropriam das palavras com cristalina compreensão.
Enquanto Davi Amarante faz o papel de narrador e retrata o perfil do desempregado que sobrevive de caçar escravos fugidos, Julio Mancini interpreta esse personagem. Nábia Villela e Andrea Marquee, respectivamente tia e mulher do desempregado, falam com os olhos voltados para o trabalho de linha e agulha. O resultado é a valorização das palavras, exatamente o objetivo desse espetáculo dirigido por Paulo Ribeiro que é ponta do iceberg de um projeto muito ambicioso, ao qual vem se dedicando com visível paixão Cintia Abravanel, diretora-presidente do Centro Cultural Grupo Silvio Santos.
Rapsódia dos Divinos foi criado inicialmente como mais um módulo do projeto Palavras em Ação, cujo objetivo é auxiliar professores para trabalhar com literatura em sala de aula. Já a partir da próxima semana, começa uma série de oficinas com a participação de 400 professores da rede pública e privada. Assistir ao espetáculo é apenas um dos momentos da oficina que tem três módulos - aulas de literatura e de teatro, ou melhor, de possibilidades de teatralização da literatura em sala de aula. A preocupação em unir arte e educação, de fazer da arte um instrumento para aprimorar a educação, mais especificamente de fazer do teatro uma ponte - lúdica e prazerosa - para se chegar à literatura tornou-se quase uma obsessão para Cintia, desde que estreou, em 1998, a peça No Reino das Águas Claras, de Monteiro Lobato, produzida por ela no Espaço Cultural Silvio Santos. Depois vieram O Terror dos Mares (1999), também de Lobato, e O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, de Jorge Amado - entre outros espetáculos que, juntos, acumulam dezenas de premiações. 'Faço questão da qualidade, estou cercada de gente talentosa', diz Cintia.
Em seu escritório, ela mostra redações e desenhos de centenas de crianças e ainda publicações, como cadernos de exercícios para alunos e professores. Exibe, com orgulho, números como: de novembro de 2003 a junho de 2006, 96.169 alunos da rede oficial de ensino viram os espetáculos do Teatro Imprensa; 36.853 da rede particular; 3.518 professores participaram de oficinas artístico-pedagógicas; 25.008 ingressos foram distribuídos gratuitamente.
Para tocar tais projetos, ela vem contando com o apoio interno, do Grupo Silvio Santos, da iniciativa privada, da qual capta através da Lei Rouanet de incentivo à Cultura, e de uma equipe na qual tem atuação
http://www.estado.com.br/editorias/2007/04/27/cad-1.93.2.20070427.37.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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