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Publicado no Site do Jornal da Tarde em 07/05/07 |
Do tempo da 'vovozinha'
Apesar de ser uma marca da linguagem dos adolescentes, muitos termos mudam com o passar dos anos
FERNANDA ARANDA, fernanda.aranda@grupoestado.com.br
Sabe aquela cara de 'ponto de interrogação' que o seu pai faz quando você fala que a balada do final de semana foi 'irada'? O 'velho' não entende muito bem se o passeio foi bom ou ruim e pode até questionar se os freqüentadores do local onde você esteve estavam bravos. A mesma expressão de dúvida pode aparecer no rosto da sua mãe quando, depois de um pedido dela, você responde: 'Ah não! Tô sussa.' Para eles, não é nada simples falar a 'língua' dos filhos.
Espalhados pelo mundo, são cerca de 6,8 mil dialetos diferentes. Cada país ou comunidade tem uma maneira de estabelecer a comunicação. Mas existe um tipo de 'idioma' que nem as escolas mais especializadas são capazes de ensinar. São as famosas 'gírias', que saem da boca de dez em cada dez adolescentes. É tão natural que, expressões como 'tá ligado', meninos e meninas falam quase sem perceber.
A galera jovem tem a mania de achar que os 'mais experientes' são incapazes de entender a insistência por este tipo de linguagem. O Sua Vida propõe então o seguinte teste: procure alguém com mais de 40 anos e pergunte qual era a 'coqueluche do momento' quando ele ou ela era jovem. Não entendeu nada? Acha que é doença? Pois bem...
Não é de hoje que as gírias são uma marca da comunicação adolescente. 'A gíria é mais um mecanismo para a criação da identidade. Isso sempre existiu', afirma o lingüista Sírio Possenti, do Instituto de Estudo de Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 'É um código usado por quem faz parte de um determinado grupo para reforçar que ele pertence àquela turma específica.'
Na visão do especialista, as gírias são utilizadas pelos adolescentes justamente com o objetivo de não serem entendidas pelos mais velhos. 'Às vezes, os pais ficam chateados porque não entendem o que os filhos falam. Ótimo. Isso significa que a gíria cumpriu seu papel', brinca Possenti.
Portanto, como seus pais ou avós já foram jovens um dia é bem capaz que eles tiveram muita dificuldade em conversar com os pais e avós deles. Já que o dialeto utilizado por quem era menor de 18 anos na época também funcionava como uma 'marca juvenil', que não podia ser traduzida para os adultos.
Por exemplo, quando Vera Coimbra, hoje com 86 anos, era apenas um 'brotinho', qualquer gíria falada dentro de casa resultava em castigo. 'Quem saísse da linha ou deixasse escapar alguma palavra que fugia da linguagem formal era considerado mal-educado', lembra.
Os tempos passaram, Dona Vera teve filhos e netos e a situação das gírias ficou bem diferente. 'Nos tempos da jovem guarda (anos 60), meus filhos começaram a falar um monte de gírias. Era um tal de 'brasa mora pra lá e pra cá'. Eu não entendia nada. Mas hoje é bem provável que eu diga um monte delas e nem perceba', assume a vovó moderna que, no bate-papo com a reportagem deixou escapar uns 'bacana' e 'legal'.
Assim como a moçada de hoje, os mais velhos já tiveram os seus períodos 'moderninhos'. Mas com o passar do tempo, a tendência é que algumas gírias saiam de moda. 'As expressões deixam de ser usadas quando não cumprem mais a sua função social. Quando todo mundo passa a entender o que significa o jargão, ele não é mais um código específico e, então, é abolido', explica Possenti.
A estudante da 8º série Fernanda Silva, 15 anos, contou que a nova moda é chamar todo mundo de 'jão'. 'Você grita jão e qualquer garoto mais novo olha', contou. Apesar de saber um monte de gírias atuais, Fernanda não acreditou muito que elas também existiram no passado. 'Meus pais falando gíria? Duvido', diz. Para facilitar o entendimento entre as geraçõe
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