Publicado no Site do Jornal da Tarde em 14/05/07

Um novo olhar para ensinar
Educador propõe método para ajudar professor a ter melhor desempenho em sala de aula

BARTIRA BETINI, bartira.betini@grupoestado.com.br

O autoconhecimento do educador no processo de ensino é fundamental, pois só assim ele cumprirá o papel de transmitir conhecimento a seus alunos. A afirmação é do educador Ruy Cezar do Espírito Santo, que escreveu o livro Autoconhecimento na Formação do Educador, lançamento da Editora Ágora. Segundo ele, o 'método', consiste em propor um novo olhar e saber ouvir o aluno em diferentes momentos.

JT: Qual o objetivo principal em propor o autoconhecimento na formação do educador?

Ruy: No caso do educador é superar a persona (que vem do grego e significa máscara) de professor para chegar àquilo que entendemos como ideal na educação, que é a figura do educador. Educar vem do latim 'educare', que significa tirar de dentro e não simplesmente 'trazer de fora' o conhecimento. Paulo Freire, com grande significado, dizia que era preciso 'conscientizar antes de alfabetizar', ou seja, o professor que não desenvolver a consciência, inclusive, de si mesmo, não será um educador, mas sim, um gestor daquilo que Freire denominava de escola bancária.

Existem métodos para autoconhecer-se?

Sim. Costumo sugerir aos meus alunos, por exemplo, quando estiverem sozinhos, que tomem um espelho e olhem para os próprios olhos com a indagação 'quem sou eu?' e 'quem olha pelos meus olhos?' Tal exercício é uma 'iniciação' ao autoconhecimento. Após algumas tentativas, quem o fizer perceberá, com muita alegria, que há alguém olhando pelos seus olhos. Tenho depoimentos preciosos de alunos sobre o resultado obtido com o exercício. Na seqüência tratar-se-á de não só olhar, mas ouvir a si mesmo também. Neste momento será com uma outra pessoa. A leitura de textos, livros e dinâmicas de sala de aula complementam o desenvolvimento do trabalho.

A história de nosso país influencia na educação atual? Como?

Sim, não tenho dúvidas inclusive de que o Brasil tem uma missão na área de educação que precisa ser desenvolvida e conscientizada por nossos educadores. Dediquei um capítulo a essa questão no livro lançado. Adianto que tal missão decorre de alguns fatos fundamentais, como por exemplo o fato de ser um país continental, que fala uma mesma língua, sem guetos ou grupos isolados . Há também uma integração religiosa, um ecumenismo natural oriundo do espírito pacífico que preside a maioria de nossas ações. O assunto é longo e amplo para ser esgotado, porém não é por acaso que Paulo Freire (hoje traduzido no mundo inteiro) é um profeta da educação e Rubem Alves inspirou um novo modelo, com a Escola da Ponte em Portugal, hoje também desenvolvida no Brasil.

O professor hoje tem a qualificação necessária para lecionar?

Na formação do educador há falta exatamente do desenvolvimento do autoconhecimento. Há uma pedagogia, que sempre se desenvolveu nessa direção, a Waldorf, criada por Rudolf Steiner, que foi contemporâneo de Jung e ensejou centenas de escolas, inclusive no Brasil, que realmente buscassem essa dimensão plena da personalidade do educador. Há também hoje, de forma particular no Brasil, uma busca de implementar essa dimensão na formação de educadores. Tenho participado de inúmeros cursos de 'formação de educadores' , já inseridos nas escolas, especialmente as públicas, o que considero um grande avanço! A questão da qualificação, podemos dizer, que quanto a conteúdos ela existe, porém falta a transformação, como já salientei do professor em educador.

Que atitudes do professor melhoram a performance dos alunos em sala de aula?

Um professor na sala de aula precisa, em primeiro ligar, acolher seu aluno, especialmente os que sentam no fundo da sala. Esse acolhimento implica no 'olhar e ouvir' o aluno. Repare que se eu lhe perguntar qual a matéria que você gostava mais, ela deve bater com o professor que você gostava mais. Com certeza, foi aquele que lhe 'acolheu

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