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Synthia: patente 20070122826


Publicado no Portal do Governo do Estado de São Paulo em 28/06/07

Synthia: patente 20070122826

Fernando Reinach*

‘Finalmente, Deus tem um competidor.’ Foi assim que muitos reagiram quando um pedido de patente depositado em outubro de 2006 se tornou público no dia 31 de maio deste ano.

Muitas ONGs acusaram o cientista Craig Venter de tentar patentear o que seria o primeiro ser vivo sintético. Digo ‘seria’ porque ninguém sabe se o organismo, já apelidado de Synthia, existe.

Craig Venter é famoso. Quando trabalhava para o governo americano, pediu dinheiro para seqüenciar o DNA de uma bactéria. Meses após ter o financiamento recusado, Venter publicou a seqüência do genoma da bactéria e pediu demissão.

Anos mais tarde, ao anunciar que sua empresa iria seqüenciar e patentear o genoma humano, forçou os governos de diversos países a entrar na competição. A corrida acabou em empate, o presidente Clinton anunciou o resultado e Venter não obteve a patente, mas nosso genoma agora é conhecido. Desde então, um de seus objetivos tem sido sintetizar o primeiro ser vivo. Para tanto, tem estudado um organismo extremamente simples.

O Mycoplasma genitalium tem um dos menores genomas conhecidos. Esse organismo, isolado em 1980 em uma pessoa com infecção urinária, consegue viver com somente 482 genes espalhados ao longo de uma única molécula de DNA de 585 mil nucleotídeos. Quando Venter publicou a seqüência do Mycoplasma em 1995, ficou claro que o número mínimo de genes que um ser vivo necessita para viver provavelmente era ainda menor, uma vez que alguns dos 482 genes poderiam ser dispensáveis.

Nos últimos anos, o objetivo de Venter tem sido identificar o conjunto mínimo de genes necessários para a existência da vida. Conhecido esse conjunto, a idéia é sintetizar esses genes, misturá-los com os componentes de uma célula e ver se um organismo vivo surge no tubo de ensaio.

Primeiro, os cientistas definiram um meio de cultura onde o organismo deveria crescer: uma sopa rica em nutrientes, contendo todas as vitaminas e sais minerais. O Mycoplasma cresce muito bem nesse meio.

Definido o meio, os cientistas começaram a remover, um a um, os genes do Mycoplasma e observar se a bactéria crescia.

Se com a ausência de um dado gene a bactéria ainda crescia, tal gene era considerado dispensável. Foi dessa maneira que a partir de 1999 o grupo de Venter conseguiu incluir na lista dos dispensáveis 101 genes.

MÍNIMO PARA A VIDA

A conclusão é que existe um conjunto de 381 genes indispensáveis para o Mycoplasma crescer e esse conjunto é provavelmente muito próximo do mínimo de genes necessários para a criação de um ser vivo sintético.

Na patente, intitulada Minimal bacterial genome, Venter pede a propriedade intelectual sobre qualquer ser vivo sintético construído a partir desse conjunto de genes.

Não fica claro se um organismo desse tipo já foi ou está sendo construído. A definição do conjunto de genes capazes de sustentar a vida é uma descoberta importante, que claramente pode ter aplicações práticas no longo prazo, mas está longe de constituir a demonstração de que o homem finalmente criou um ser vivo.

Tampouco justifica a afirmação de que “finalmente, Deus tem um competidor”. Por mais que seja difícil simpatizar com a personalidade de Venter, o fato é que a descoberta é um passo importante na direção de criar um ser vivo sintético. No dia em que for criado, a notícia vai estar na primeira página dos jornais e não em um obscuro pedido de patente. Mais informações em Minimal bacterial genome, patente nº 20070122826, no site.

*fernando@reinach.com

Biólogo

Artigo

http://txt.estado.com.br/editorias/2007/06/28/ger-1.93.7.20070628.10.1.xml

Jornal O Estado de São Paulo

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