Do canteiro para a sala de aula |
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Publicado no Site do Jornal da Tarde em 29/06/07 |
Do canteiro para a sala de aula
Projeto de Educar é Crescer alfabetiza trabalhadores da construção civil que estão nos canteiros de obras
SAULO LUZ, saulo.luz@grupoestado.com.br
De acordo com os números da Pesquisa Nacional por Amostras Domiciliares de 2005 (Pnad), somente 27% da população brasileira com idade superior a 10 anos de idade possui o Ensino Médio completo. Pertencer a este grupo é o que almeja o pernambucano Claudir Mendes de Oliveira. Para tanto, o pedreiro, de 39 anos, segue firme nos estudos e promete terminar ainda neste ano essa etapa de ensino. Isso graças ao próprio esforço e ao Projeto Educar é Crescer, iniciativa que vem alfabetizando pedreiros e funcionários nos canteiros de obra, com cursos até a 4ª série do Ensino Fundamental.
Claudir nasceu na cidade de Afogados da Ingazeira, Pernambuco, onde trabalhava na “roça” com sua família. “Começamos a passar dificuldades e tive de abandonar os estudos para trabalhar”, conta ele, que estudou somente até a 4ª série. Com a situação ficando cada vez mais difícil, quando tinha 17 anos decidiu vir para São Paulo em busca de novas oportunidades. “Eu sempre quis trabalhar em obra. Apareceu uma oportunidade para trabalhar de ajudante de pedreiro e resolvi arriscar”, conta.
Além de trabalhar, ele sonhava retomar os estudos um dia. Quando apareceu uma oportunidade, ele foi surpreendido: ficou sabendo que a escola na qual havia cursado até a 4ª série não era reconhecida pelo Ministério da Educação (MEC), portanto, de nada valeu os anos de estudo. Apesar disso, o jovem não desistiu. “Quando comecei a trabalhar na Racional conheci o Educar é Crescer e voltei a estudar, começando do zero”, lembra ele, que hoje é encarregado de manutenção e está terminando o 3º ano do Ensino Médio.
O projeto, que está completando 20 anos, é uma iniciativa da Racional Engenharia e tomou consistência no canteiro de obra da construção do Shopping Paulista, em 1987. “Muitos operários eram analfabetos ou tinham abandonado os estudos. Eles trabalhavam o dia inteiro e tinham um período grande de ociosidade, principalmente nos fins de semana e após o expediente. Aquela foi a oportunidade perfeita para implantar um curso de alfabetização”, afirma Sandra Matias dos Santos, coordenadora de Relações Institucionais da empresa.
No começo, as aulas aconteciam após o expediente, das 19 horas às 21 horas, numa sala montada no próprio canteiro de obras. Muitos operários, porém, neste horário estavam cansados e não ficavam para a aula. A solução foi inserir as aulas durante o expediente. “Agora o empreiteiro cede uma hora (da 6h30 às 7h30) para que o aluno possa estudar”, esclarece Leni Andrade, coordenadora pedagógica do curso. No total já foram alfabetizadas mais de 3 mil pessoas pelo projeto em canteiros de obras do Estado e do Rio de janeiro. Ao fim dos nove meses de curso, o aluno recebe um certificado que o habilita a fazer um teste para entrar na 5ª série da rede pública de ensino.
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Jornal da Tarde
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