Publicado no Site do Jornal da Tarde em 04/07/07

Aulas atrasam 8 meses

Alvaro Magalhães e Josmar Jozino

A Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS), braço educativo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), é a ONG com sede na Capital (no mesmo prédio da CUT) que mais verba recebeu este ano para executar o Programa Brasil Alfabetizado. A quantia depositada em abril pelo Ministério da Educação na conta da organização ultrapassa os R$ 8 milhões - o que equivale a 40% dos repasses para entidades com sede na Capital. A ADS, no entanto, não cumpriu o calendário cadastrado no MEC. As aulas deveriam começar em 1º de dezembro de 2006 e terminar em 30 de julho deste ano.

O atraso no início das aulas é mais uma irregularidade envolvendo ONGs credenciadas no programa de alfabetização.

O Jornal da Tarde apurou que outras entidades cadastradas no MEC têm turmas fantasmas e até presos foragidos da Justiça cadastrados como alfabetizadores. As ONGs da Capital receberam R$ 20 milhões para alfabetizar alunos a partir de 15 anos. Mas o dinheiro federal pode estar indo para o ralo.

As turmas cadastradas na Rua Francisco Homem del Rei são um exemplo do atraso no início da alfabetização da ADS. Ali, funciona a Associação dos Amigos do Jardim Aracati, usada num comercial do governo federal para divulgar o Programa Brasil Alfabetizado. Na propaganda do governo, um personagem canta o jingle 'Para aprender a ler / Para isso, não tem hora / Pode ser de dia, pode ser de noite, pode ser agora'. Neste ano, porém, ainda não houve aulas do Brasil Alfabetizado na associação.

De acordo com Francisca Valda da Costa, uma das responsáveis pela associação, os alfabetizadores do Jardim Aracati esperam pelo curso de formação da ADS, que deve acontecer na primeira quinzena de julho. Só depois disso, as aulas vão começar. A ADS, no entanto, cadastrou no Sistema Brasil Alfabetizado as aulas da associação de Francisca como se tivessem começado em 1º de dezembro do ano passado. Assim, a turma chegaria ao fim no dia 30 de julho.

A informação sobre a situação irregular do cadastro foi confirmada por diversos alfabetizadores. Clarice Arashiro, alfabetizadora da turma 476.539, é outra que espera o curso de formação para iniciar suas aulas, apesar de a ADS ter informado ao MEC que a turma também teve início em 1º de dezembro.

De acordo com a resolução do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) que estabelece os critérios para transferência da verba às ONGs, a ADS tem o dever de atualizar continuamente seu cadastro. O repasse à ONG foi publicado no Diário Oficial da União no dia 28 de dezembro de 2006 e a ADS recebeu R$ 8.213.079,60 no dia 23 de abril deste ano. O dinheiro foi depositado na conta 0000141712 da agência 3324 do Banco do Brasil.

Além dos casos de atraso, o JT encontrou uma turma da ADS onde não há nem previsão de aulas. É a turma 475.655, que deveria funcionar no Centro de Recuperação Leão de Judá, na Rua Albergat Capaceli, 1.506. De acordo com dirigentes da instituição, porém, a alfabetizadora Dulcinéia Cleim da Silva Pereira deixou de dar aulas no ano passado.

Maristela Miranda Bárbara, coordenadora pedagógica da ADS, admitiu em entrevista ao JT que as aulas da ONG só devem começar no dia 16 de julho. 'A verba do MEC só foi liberada no final de abril e, por isso, ainda estamos no processo de formação de alfabetizadores', disse a coordenadora pedagógica.

Maristela admitiu também que o cadastro da ADS deveria ter sido atualizado, mas afirmou que isso só será resolvido depois da primeira listagem de presença. 'Como nosso cadastro foi feito há muito tempo, é melhor esperar pelas listas para saber se os alunos continuam os mesmos.' Segundo ela, a ADS tem um projeto chamado Todas as Letras, que utiliza o apoio do MEC e da Petrobrás para alfabetizar jovens adultos, produzir material pedagógico e desenvolver programas de geração de renda. Mas a bolsa dos alfabetizadores, ainda conforme Maristela, vem apenas do MEC.

Foi no ano passado que o MEC deu sinal verde para a ADS participar do programa de alfabetização de jovens e adu

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