Internet e textos com rigor científico |
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Publicado no Portal do Governo do Estado de São Paulo em 16/07/07 |
O desafio de identificar os textos com rigor científico
Elder Ogliari
O historiador francês Roger Chartier acredita que o novo desafio de quem oferece e capta informações da internet será estabelecer critérios que diferenciem textos produzidos com rigor científico dos erros, falsificações e propaganda que circulam como se fossem verdades. A preocupação foi manifestada na entrevista e na palestra sobre A Leitura do Tempo, que ele fez em maio com a historiadora brasileira Sandra Pesavento, como parte do curso de altos estudos Fronteiras do Pensamento, promovido pela Copesul (Central Petroquímica do Sul), em Porto Alegre. 'Podemos pensar que serão inventados critérios de controle, formas de diferenciar os textos dotados de autoridade científica dos demais', disse, destacando que a tecnologia não tem sentido único e é usada de acordo com o que a sociedade decide fazer com ela.
A reflexão do historiador, professor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, autor de A Ordem dos Livros, Os Desafios da Escrita e A Aventura do Livro, está fundada na percepção de que falsificações históricas, como textos que negam o Holocausto, antes restritos a livrarias ligadas a grupos de extrema direita, circulem em meio a pesquisas sérias e criteriosas no mundo virtual. Num exemplo menos radical, Chartier citou a enciclopédia aberta Wikipédia, 'que pode disseminar informações erradas, mesmo sem intenção'. Mas Chartier percebe possibilidades abertas pela internet, como a disponibilidade de arquivos digitalizados, troca instantânea de informações e novas maneiras de contar a História nos meios eletrônicos, que, inclusive, retiram do historiador o monopólio sobre a análise do passado. Sandra Pesavento manifestou preocupações semelhantes e acrescentou que a ficção escrita no passado é cada vez mais fonte dos historiadores. 'Toda e qualquer literatura tem também o real como referente, seja para confirmá-lo, para negá-lo ou transformá-lo. Do conto de fadas ao romance histórico, é sempre o real estetizado para expressar sonhos e pesadelos de uma determinada época e para mostrar os motivos pelos quais os homens amavam, trabalhavam e morriam.'
http://www.estado.com.br/editorias/2007/07/16/cad-1.93.2.20070716.15.1.xml
Jornal O Estado de São Paulo
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