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O cientista que explicou o desastre da Challenger


Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 19/07/07

O cientista que explicou o desastre da Challenger

Fernando Reinach*

Faz muito tempo, em um país distante, uma aeronave explodiu matando todos os passageiros. O presidente decretou luto e pediu uma investigação isenta. Foi nos EUA em 1986. O presidente era Ronald Reagan, e a aeronave, o ônibus espacial Challenger. Na investigação estava em jogo a credibilidade da Nasa e o poderio tecnológico dos EUA. Mas ao escolher os membros da comissão, Washington cometeu um erro. Nomeou o físico Richard Feynman, uma das mentes mais brilhantes e irreverentes da comunidade científica norte-americana. Feynman, que havia trabalhado no projeto da bomba atômica, recebido o Prêmio Nobel por seus trabalhos teóricos e estava com câncer em fase terminal, aceitou o desafio.

No dia seguinte da nomeação, para surpresa dos outros membros da comissão, ele mudou de mala e cuia da Califórnia para um hotel que ficava praticamente dentro da Nasa. Enquanto a comissão iniciava a tomada de depoimentos, Feynman, usando as prerrogativas concedidas por Reagan, passou a circular livremente dentro da Nasa, conversando com engenheiros, pedindo para ver papéis, filmes e fotos, e trocando idéias com técnicos.

Uma semana depois, em uma das primeiras audiências públicas da comissão, esperou por um momento em que as câmeras de televisão se voltaram para ele e pediu um copo de água gelada. Retirou do bolso dois pedaços de borracha e explicou que eles faziam parte do sistema de vedação do tanque de combustível. De outro bolso retirou duas pinças metálicas e comprimiu as duas amostras de borracha. Colocou uma no copo de água por alguns momentos. Então soltou as pinças que comprimiam os fragmentos de borracha. A amostra resfriada demorou para voltar ao formato original. A que permaneceu na temperatura ambiente recuperou sua forma imediatamente. Feynman explicou que a Nasa sabia que a nave não deveria decolar em dias frios, mas no dia do acidente a temperatura era próxima a 0°C. Como estava frio, o anel de borracha estava rígido e não teria acompanhado as microdeformações que ocorrem no tanque de combustível durante a decolagem. Isso provocou o vazamento de combustível. O combustível pegou fogo e a Challenger explodiu. Foi uma aula simples e didática.

Os outros membros da comissão - que representavam os interesses da Nasa, do governo e das empresas que haviam projetado e construído as diversas partes da Challenger - ficaram felizes. Não precisavam mais continuar tentando passar a culpa adiante. Em uma semana haviam descoberto o culpado: um pedaço de borracha. Trabalho terminado. Mas Feynman se recusou a assinar a primeira versão do relatório e não arredou pé de seu hotel perto da Nasa. Se Reagan havia concedido quatro meses para as investigações Feynman estava disposto a utilizar os outros três meses para descobrir de quem era a responsabilidade de aquele anel de borracha estar onde estava quando a Challenger decolou. A culpa não poderia ser do anel de borracha.

Feynman descobriu que anos antes os engenheiros haviam detectado o problema com o anel e avisado seus superiores. Descobriu que muitos vôos haviam sido cancelados por causa da baixa temperatura, mas aos poucos os administradores ficaram confiantes e aceitaram, por ignorância ou irresponsabilidade, riscos cada vez maiores. Descobriu que em outros vôos o anel de borracha já havia falhado. Que no dia do acidente os engenheiros haviam alertado que o risco era alto pois a temperatura estava baixa. Descobriu que os administradores da Nasa estavam sob pressão para demonstrar que o ônibus espacial poderia se pagar levando satélites comerciais para o espaço. Que técnicos tinham avisado que não era ético colocar em órbita uma professora primária só para fazer propaganda. As essas pressões levaram a Nasa a operar a nave fora das condições de segurança. Riscos inaceitáveis foram aceitos.

A conclusão de Feynman foi que o acidente já era esperado pelos técnicos da Nasa, mas que ninguém havia assumido a responsabilidade de tomar as medidas necessárias para evitar o acidente. No relatório oficial, o anel de

http://www.estado.com.br/editorias/2007/07/19/ger-1.93.7.20070719.9.1.xml

Jornal O Estado de São Paulo

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