Projeto traz kalungas para a escola |
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Publicado no Site do Jornal da Tarde de 20/08/07 |
Projeto traz kalungas para a escola
Voluntários viajam de São Paulo para o norte de Goiás para capacitar professores de escolas de comunidade quilombola
SAULO LUZ, saulo.luz@grupoestado.com.br
No município de Monte Alegre de Goiás (GO), 5 mil pessoas vivem aglomeradas nas encostas do cerrado. São os kalungas, comunidade quilombola que viveu isolada por mais de 200 anos. As altas taxas de analfabetismo da região renderam ao município um dos três piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado. No caso dos kalungas, a situação sempre foi muito pior. Morando em lugares de difícil acesso às escolas, as crianças simplesmente desistiam de estudar.
Mas a situação está começando a mudar graças à iniciativa de três voluntários de São Paulo. Desde 2002, as estudantes Serena Elus de Quadros, de 31 anos, e Tatiana Dias Vasconcelos Dal Col, 29, juntamente com o professor Mario Zoriki, 53, vêm realizando um projeto de formação em Pedagogia Waldorf (veja quadro ao lado) com professores das escolas estaduais e municipais da região. “Em 2001, Tatiana e eu trabalhávamos em um projeto na cidade, quando tivemos contato com os problemas enfrentados nas escolas dos kalungas”, conta.
Na comunidade, os professores não conseguiam ensinar e as crianças não aprendiam nem mesmo a ler. “O problema é que com a grande distância e o difícil acesso às escolas pelas crianças, a repetência e a evasão escolar são altíssimas”, diz Andréia Kock, secretária de educação do município. “Vi crianças que andavam 8 quilômetros por dia para estudar”, confirma Serena.
Diante da situação, as duas estudantes decidiram fazer algo para atrair os alunos. “Foi quando percebi que a pedagogia Waldorf cairia como uma luva”, diz Serena que estudou numa escola que utiliza o método. No mesmo ano, ela pediu ajuda a seu ex-professor Mario Zoriki, que prontamente aceitou o desafio. Em pouco tempo, os três elaboraram um projeto educacional que se enquadrava perfeitamente à realidade dos quilombolas.
Capacitação
Em 2002, começaram os primeiros cursos presenciais e intensivos, com duração de uma semana, de duas a três vezes ao ano. Além de encontros de capacitação, as professoras elaboraram conteúdo didático com contos e lendas do cerrado feitos por eles mesmos e ilustrados com desenhos e aquarelas. “A gente já começa a aula recebendo os alunos com músicas”, conta Neli Ferreira Gaspio, professora que participou dos cursos. “Essa pedagogia fez com saíssemos da sala e trabalhássemos mais com músicas e histórias da cultura local”, completa Eliana Povoa dos Santos, professora que atualmente coordena as escolas.
Agora, cinco anos após as primeiras oficinas, os resultados começam a aparecer. “De 2005 pra cá, melhorou bastante a questão da distorção idade-série. Também diminuiu em 35% o índice repetência e evasão escolar também caiu”, afirma a secretária de educação Andréia Kock.
Além disso, todo o conteúdo pedagógico utilizado pelos professores foi reunido em um livro, que já foi distribuído para os próprios professores e também está sendo comercializado em São Paulo.
A obra tem histórias e contos que fazem parte do imaginário Kalunga, onde as crianças podem facilmente se identificar e assimilar conhecimento teórico científico ou popular. “Para os alunos é um livro de histórias. Para os professores é um conteúdo didático contos e lendas do cerrado, feitos e ilustrados por eles mesmos com aquarelas de desenhos”, afirma Serena.
O livro está à venda na Livraria da Vila (Vila Madalena) e custa R$ 28,00.
Expansão
O próximo desafio do projeto é fazer um segundo livro de alfabetização e expandir a pedagogia Waldorf para outras escolas da zona urbana do município.
O QUE É A PEDAGOGIA WALDORF?
>Introduzida pelo austríaco Rudolf Steiner em 1919, em Stuttgart, Alemanha, a pedagogia fundamenta-se no princípio de que é necessário desenvolver o ser humano integralmente, por meio das três forças da alma: querer, sentir e pensar
>Isso é feito levando-se em conta cada etapa do desenvolvimento da criança
>Do nascimento aos 7 anos, a criança
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Jornal da Tarde
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