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Buraco negro


Publicado no Site do Jornal O Estado de São Paulo de 14/09/07

Buraco negro
O Guia acompanhou, com exclusividade, a rotina em quatro fossos da cidade e descobriu que a vida no ‘baixo teatro’ é um espetáculo à parte

Erika Riedel

Faltam apenas 10 minutos para começar a apresentação de Miss Saigon. É sexta-feira, 20h50. Alguns metros abaixo do nível do palco, 18 músicos vestidos de preto afinam seus instrumentos. Há pouca ventilação e, para quem fica mais ao fundo, o teto é baixo - proibido a claustrofóbicos. O burburinho que se houve indica se a casa está cheia ou vazia, já que pouco se vê. A canopla (lanterna individual para a partitura) do maestro, então, se acende assim que as luzes gerais se apagam: o musical vai começar.

Estamos dentro do fosso do Teatro Abril, o buraco negro que separa o palco do público, onde talentosos instrumentistas são praticamente ignorados, não fossem eles parte essencial do espetáculo musical. Foi o que comprovou a flautista Mônica Camargo, que assistiu, como espectadora, a ‘O Fantasma da Ópera’ só depois de tocar em 500 récitas do musical. “Descobri que muitas pessoas não sabiam que havia uma orquestra ali.”

Paulo Nogueira, regente assistente do maestro Miguel Briamonte, conduz a apresentação da noite. Posicionado de frente para o palco, do alto de seu pódio, ele é o único a ver o espetáculo inteiro. Os músicos que se sentam mais ao fundo (e de costas para o palco), como o baterista e o percussionista, mal conseguem enxergá-lo. Para eles, é necessário um monitor de TV que reproduz os movimentos do condutor.

Para quem está ali, nem sempre as notas das partituras fazem sentido. “Às vezes, a música que tocamos é que dá o apoio às coreografias. Do fosso, o único que as vê é o maestro. Um dia, você descobre que aquela determinada nota marca a exata hora em que um ator levanta a perna ou dá um soco no ar, por exemplo”, explica o baterista Leandro Lui.

Algumas vezes, a trompista Maria Teresa Loduca se pegou criticando a partitura. “Muita coisa às vezes nos parece gratuita. Mas faz todo o sentido quando você vê a cena. A música escrita para esse tipo de espetáculo é muito específica, se você não assistiu, talvez não consiga contextualizá-la.”

A flautista Mônica, que além de vários musicais já tocou em diversas orquestras, está sentada de lado para o palco, um espaço ‘nobre’ do fosso. Para ela, os pouquíssimos movimentos que vê das cenas são tão sentidas como a falta de contato com o público. Mas toda esta ‘solidão’ tem suas compensações. “Aqui, embora muito concentrados para tocar, podemos ficar um pouco mais à vontade do que no palco. Não há uma preocupação com a performance visual”, diz.

No caso de ‘Miss Saigon’, eles podem até abrir mão de algumas peças do vestuário ‘pretinho básico’. “De vez em quando, podemos vir com um sapato de uma outra cor”, brinca Giane Martins, do oboé, vizinha de cadeira de Mônica.

Ser vizinho no fosso, aliás, é uma arte à parte, explica Lui. “Passamos mais ou menos 22 horas por semana aqui dentro. Tem de gostar do amigo do lado.” O companheirismo também acontece na hora dos imprevistos - que, numa temporada, são inevitáveis. “Durante o ‘Les Misérables’, havia um trecho todo conduzido por piano, mas o instrumento simplesmente apagou. O maestro olhou para a bateria e fez sinal para tocar. Não havia bateria naquela parte, mas eu toquei, foi bem engraçado”, conta.

Eles podem não interagir com os atores mas, às vezes, o contrário acontece - sem querer. “Teve um dia, também no ‘Fantasma da Ópera’, que uma pedra de um vestido caiu em cima do tímpano, bem num momento de silêncio. Fez aquele barulhão”, diverte-se Lui. Mas é a interação entre público e cantores que interessa mais a Giane, que não se incomoda de servir como ponte entre eles. “As pessoas não conseguem chegar até o elenco e dizer o quanto gostaram, mas chegam até nós. Elogiam, fazem perguntas, nos pedem para entregar rosas ou pedir autógrafo para os cantores.”

Mônica também tem suas lembranças da época de ‘Fantasma da Ópera’ - foi um dos maiores sufocos que já passou. “Acabou a luz dentro do fosso, as canoplas se apagaram e seguimos tocan

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Jornal O Estado de São Paulo

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