4° Lugar - Ensaio
“Todas as meninas se emanciparam”, de Adriana Juliano
Mendes de Campos
(E.E. Dr. Euphly Jalles; D.E. Jales; Jales)
Todas as meninas se emanciparam
“A vida atual é feita de trevas impenetráveis
que não permitem a visão circunspecta
do romancista tradicional.”
Virgínia Woolf
Compreender a mimese do discurso mobilizado por Lygia Fagundes Telles na voz das personagens do romance As Meninas, que no ano de 2003 completa 30 anos e perceber o ponto energético da obra, identificando seus elementos incomuns, me suscitou curiosidades sobre a elaboração estética deste romance da década de 70 e sobre o estilo da renomada romancista, eleita, em 1982 para ocupar a cadeira 28 da Academia Paulista de Letras e, em 1985, eleita para a cadeira 16 da Academia Brasileira de Letras.
Reconhecer em seu projeto literário o Zeitgeist da época e o da produção nacional, revelou-me avanços estilísticos fundamentais para a solidificação de nossa identidade cultural e literária, bem como me apontou procedimentos estéticos inovadores na poiésis da escritora.
Focalizar Lygia e As Meninas, senhoras de si e do universo feminino, hoje em extraordinária revolução, na busca de liberdade de pensamento, de expressão e de direito de ação e posicionamento social é um privilégio, no histórico painel de emancipação da mulher, da cultura brasileira e de nossa tradição literária, desde os primórdios e dos conturbados anos 70, marcados pelas sombras do silêncio e da repressão, até a atualidade.
Escrito em 1973, o romance As Meninas alcançou vários prêmios literários de importância no país: o Coelho Neto, da Academia Brasileira de Letras, o Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e o de "Ficção", da Associação Paulista de Críticos de Arte .
Lygia arrebatou prêmios e assumiu responsabilidades não só como escritora, mas também como difusora da cultura nacional, ao responder pela presidência da Cinemateca Brasileira, após o falecimento do fundador Paulo Emílio Salles Gomes, em 1977, seu segundo marido, também escritor .
Em 1967, ela adaptou, para o cinema, o romance D. Casmurro, de Machado de Assis, trabalho publicado, em 1993, sob o título de Capitu. Em 1990, seu filho, Goffredo Neto, realizou o documentário Narrarte, sobre vida e obra da mãe. O Caso Especial baseado em seu conto "O Jardim Selvagem” foi levado ao ar em 1991. Em seguida, a rede Globo apresentou-a, em 1993, na série Retratos de mulher. Mas foi em 1996 a estréia do filme As Meninas, de Emiliano Ribeiro, baseado em seu romance, foco dessa análise.
Aposentou-se como funcionária pública, procuradora do Instituto de Previdência do Estado de São Paulo em 1991. Participou da Feira do Livro de Frankfurt, na Alemanha, em 1994, e lançou, no ano seguinte, um novo livro de contos, A noite escura e mais eu.
Inúmeros foram os prêmios que recebeu_ dentre eles a Comenda Portuguesa Dom Infante Santo, em 1989_ de melhores livros de contos e romances, concedidos pela Biblioteca Nacional; Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro e Prêmio APLUB de Literatura_ por diversas obras publicadas ao longo de sua carreira.
Em 1997, Lygia participou da série O escritor por ele mesmo, do Instituto Moreira Salles. Em 1998, o romance Ciranda de Pedra foi adaptado para telenovela, marcando sua trajetória pela televisão e cinema brasileiros.
A incursão de Lygia nas várias semióticas fica evidente no transcorrer de sua vida e obra, que acompanharam a evolução dos meios de comunicação e dos recursos tecnológicos, no mundo, o que, de certa forma, facilita a divulgação do patrimônio literário nacional e leva a suscitar leituras, num país de dificuldades inúmeras, como o nosso.
Em 1998, a convite do governo francês, participou do Salão do Livro, na França.
Em 2001, sua obra Invenção e Memória foi agraciada com o Prêmio Jabuti, na categoria ficção, recebendo, ainda, em março o título de Doutora honoris causa pela Universidade de Brasília (UnB).
Brilhante carreira se delineou para uma professora de Educação Física, advogada, romancista e mulher pública, que conheceu o mundo recebendo prêmios, não se esquecendo de tratar do nosso Brasil real e de se dedicar ao nosso público, tão diverso e avesso à cultura tradicional formal.
Ficaram as três meninas; ficaram as três mulheres: Lygia, Lorena e Lia. Três Ls (éles); Ana Clara sucumbiu ao destino trágico que a acompanhou.
Hoje, 30 anos depois, sobrevivem em nossa lembrança as duas meninas – Lorena e Lia– quase cinqüentonas, pelos dezoito a vinte que presumivelmente tinham na ficção e pelos trinta que acumularam em nossa memória literária. E, imperiosa, realizada e cada vez mais viva, em presença e no imaginário de milhares de adolescentes, jovens e adultos, temos Lygia mulher e Lygia escritora: Lygia encantadora.
Em seus oitenta anos, de quem já conhece o mundo, a vida, e seus segredos, encanta pelo inusitado que consegue tão bem descortinar no cenário das palavras; encanta pelo suspense instigante que articula tão ao estilo da tradição machadiana, pelo exótico e não-linear que desautomatiza em suas construções, ora fantásticas, ora de realidade trágica e assustadora, das facetas e contradições da personalidade humana.
Lygia encanta qual Sheherazade , que bem sabia que o mistério da vida depende da fascinação e do simbólico. Por isso, suas histórias, seus contos e seu universo literário de tal forma encantaram os estudantes, iniciantes no mundo da literatura, tão carentes de leitura, em nosso século tecnológico e diversificado em termos midiáticos, que até mesmo professores, educadores, voluntários e famílias se entusiasmaram e, curiosamente, quiseram conhecer e merecidamente homenageá-la.
Hoje celebramos sua vida e obra, pois, pela escrita, se faz existir e continuar, livrando-se da morte, encantando-nos como Sheherazade.
SINTONIA OU CONFLITO ?
Rosenfeld (1969), ao analisar o romance moderno, apresentou a hipótese básica da existência de certo Zeitgeist , em cada fase histórica. Afirmou que, apesar das diversificações culturais, nacionais, especializações e autonomia das várias esferas como a ciência, as artes e a filosofia, há interdependência e mútua influência entre esses campos, impregnados de unidade de espírito e sentimento de vida.
Foi o que percebi, ao analisar As Meninas, tomando como substrato o contexto histórico-cultural brasileiro da década de 70 e também o internacional, após a revolução hippie e o esplendor da ideologia dos Beatles, espalhada no mundo todo.
Meu apoio teórico-literário fundamentou-se nos autores citados no corpo do ensaio e na bibliografia que, no esteio de alguns estudos realizados, utilizei, nesta abordagem.
O panorama histórico foi determinante na elaboração deste romance, representante da época de censura e repressão, em que os artistas tinham o privilégio da representação e da transfiguração, como forma de contestação social.
Considerando a complexidade da obra, limito-me a tratar apenas alguns de seus aspectos, que ora passo a apresentar.
Sob o regime da ditadura militar, o cenário da década de 70 era de urbanização caótica e disseminação da sociedade de consumo, segundo Harbert (1992).
Acelerou-se o desenvolvimento brasileiro nos diversos campos e sua integração ao sistema capitalista internacional, como país associado e periférico, o que expressou a dominação política de classe do momento. Essa década consolidou a indústria cultural e a expansão dos meios de comunicação no Brasil, tendo a TV desempenhado importante papel na massificação das informações e dos padrões de comportamento.
Depois do “vendaval” dos anos 60, os 70 começaram sob a égide da fragmentação, com desdobramentos da contracultura, movimentos under-ground , punk, misticismo oriental, vida em comunidades religiosas ou naturalistas, valorização do individualismo e expansão do uso de drogas, expressando aspectos do panorama brasileiro e tendências presentes em grande parte do mundo ocidental.
Depois do AI-5 houve desorganização do debate ideológico e das experiências culturais que foram símbolos da efervescência da década de 60. O período foi atravessado por polêmicas nos meios artístico e intelectual, envolvendo visões diferentes sobre a política do governo e sobre as relações dos artistas com o Estado. Sem dúvida, a produção cultural, durante os anos da ditadura foi marcada pela censura e repressão contra o pensamento crítico e inovador, que não se submetia à ideologia dominante.
Mas, se, por um lado, foi influenciada pelo clima de terror que atravessou a década, provocando a autocensura, a introspecção e a polêmica situação a que muitos chamaram “vazio cultural”, contestada por Heloisa Buarque de Hollanda , por outro, apresentou manifestações significativas de resistência e de busca de novas linguagens e formas de criação.
A música foi campo exemplar da diversidade apresentada na época. Temas políticos e sociais engajados serviram como resistência à ditadura, no movimento tropicalista ou na MPB de protesto de Vandré, Edu Lobo e outros compositores, que, com a abertura da segunda metade da década, tomaram fôlego e ampliaram sua produção.
Na narrativa, destacaram-se romances-reportagem, reportagens-verdade e denúncias de fatos encobertos pela censura. E, no cinema, alguns filmes focalizaram temas populares relacionados à situação brasileira: condições de vida e luta dos trabalhadores, migrantes, menores, violência, corrupção policial e o mundo marginal urbano. Adaptações de clássicos da literatura e de temas históricos recuperaram conflitos sociais sob um prisma crítico, como em Terra em Transe, de Glauber Rocha, Lúcio Flávio, o passageiro da agonia e Pra frente, Brasil.
As Meninas (1973), de Lygia Fagundes Telles é representante deste grupo, pois relata a aventura de três universitárias vivendo as mesmas circunstâncias, embora fruto de convenções e valores diferentes. Notemos, neste romance, modificação análoga à da pintura moderna, em que o ser humano foi dissociado ou “reduzido” (no cubismo), “deformado” (no expressionismo) ou “eliminado” (no não-figurativismo).(1969, p.78)
O retrato desapareceu. A perspectiva sofreu, com o surrealismo, distorções e falsificações. A visão aperspectívica aboliu as convenções tradicionais, o que se refletiu na cronologia e na continuidade temporal da narrativa. “Os relógios foram destruídos”. O romance moderno nasceu, segundo Rosenfeld, no momento em que Proust, Joyce, Gide e Faulkner desfizeram a ordem cronológica, fundindo passado, presente e futuro.
Lygia fundiu na narrativa d’As Meninas essas perspectivas, como formas relativas de nossa consciência. Negou o compromisso com o mundo das “aparências”, temporal e espacial, real e absoluto, do realismo tradicional, pelo processo de desmascaramento da vida psíquica, que não corresponde à realidade, misturando falas, ações e lembranças do universo interior das três personagens, reveladas, na linguagem, pelo fluxo da consciência.
A teoria teatral da relatividade cênica mostrou que espaço e tempo oscilaram nas artes. Percebi, então, que Lygia, n’As Meninas, permeou essa inter-relação sinestésica e a fusão espaço-temporal coincidente, deixando penetrar o irreal no plano da consciência das personagens, que a psicologia profunda passou a exibir por meio de elementos oníricos e pelos devaneios.
Percebo, assim, que a sintonia marcou a correlação entre história, arte, sociologia e psicologia do momento que este romance de Lygia marcou e representa. Sintonização conflituosa, porém ajustada às propostas da (pós)modernidade, refletindo o Zeitgeist da época.
SOB O SIGNO DO DISCURSO, A TRAMA.
“...não é só o discurso aparentemente caótico que caracteriza a fala das melhores personagens de Lygia. Se elas falam como pensam ( pois falam à medida que pensam), sua linguagem, evidentemente, é a que se usa todo dia. Nada de palavras difíceis, nada de frases rebuscadas; o vocabulário das personagens de Lygia é o de todos nós; mesmo os palavrões estão presentes, sempre que exigidos pela realidade da personagem”.
Monteiro et alii (p.105)
A maioria dos temas abordados por Lygia tem como trama o relacionamento personagem/mundo e suas conseqüências profundas no ser. Seus romances, como os de Machado, são de personagens e não de ação vertiginosa. A autora desnuda os comportamentos, ações e palavras não pronunciadas, sugerindo, no nível superficial, o profundo da consciência. Ao narrar o olhar feminino sobre o momento histórico, inovou nossa técnica, sob múltiplos pontos de vista. Três deles costuram o discurso, a princípio nebuloso, até a identificação das marcas lingüísticas na expressão de cada menina.
Segundo Genette (1979), “uma das grandes vias de emancipação do romance moderno consistiu em levar ao extremo a mimese do discurso, diluindo o controle da instância narrativa”, dando a palavra à personagem, característica peculiar que percebo no modo narrativo d’As Meninas.
Neste romance, o discurso interior, imediato , das personagens, surge emancipado do patrocínio narrativo, ocupando a frente da cena. Elas apresentam-se por si mesmas, sem a interposição da instância narrativa, reduzida ao silêncio_ da qual assumem a função. O narrador dilui-se e as personagens o substituem. E no discurso indireto livre, o narrador assume o discurso das personagens deixando as mesmas falarem por meio de sua voz, quando as duas instâncias se confundem.
A maioria dos textos de Lygia, segundo Monteiro (1980), é narrada em primeira pessoa. A autora empresta às personagens sua voz, de forma que surjam vivas e verossímeis aos olhos do leitor, que as acompanha, sem mediação do narrador, podendo haver misturas sutis de estilo indireto e de discurso contado, não ignorando o discurso interior relatado. (p.104) Muitas vezes, a duplicidade do discurso interior é manifestada pelo pensamento_ “oblíquo” e enganador_ que a romancista deixa transparecer, através dos disfarces da própria consciência.
O discurso estilizado é a forma extrema da mimese de discurso , em que a autora imita a sua personagem, não somente no tecido dos seus dizeres, mas também na literalidade hiperbólica que é a do pastiche, um pouco mais idiolectal, o que notamos no vocabulário das três protagonistas e de Max, envoltos no campo semântico e cultural de que são representantes.
Lorena Vaz Leme atualiza o estilo mais culto da linguagem, em seus diálogos versando sobre Tolstói , arte, literatura; sobre a Beleza, Ideais e filosofias de vida; sobre ser e estar no mundo; sobre a desintegração do ser humano na cidade grande; Lacan, auto-identificação e transferência de afetos. Aristocrata, tem álbum de retratos, banheira e quarto dourado e rosa:
Acendo depressa um tablete de incenso, oh mente pervertida. Queria ser santa. Pura como esse perfume de rosas que se enrola em mim e me dá sono. Astronauta também sentia sono quando eu acendia o incenso.E se espreguiçava como me espreguiço, foi com ele que aprendi a me espreguiçar. Gato à-toa, por onde você anda. Hein? Dava aulas diárias de preguiça e luxúria, mas nunca repetia os movimentos, todo bailarino devia ter um gato. A astúcia. Ao mesmo tempo, o abandono. O desprezo pelas coisas realmente desprezíveis. E aquele cálculo e fixação. Todo feito de delicadezas perigosas o meu gato. Ou Demônio? Nas pausas das lições ficava me olhando, tão mais consciente do que eu na minha inconsciência, como é que eu podia saber?Ainda nem conhecia M.N., não ficava horas minhocando como tenho minhocado, ai meu Pai. Só Jesus compreende e perdoa, só Ele que já curtiu como nós, Jesus, Jesus, como eu te amo!(...) (1998, p.11)
Vinda do interior, filha de fazendeiros, Lorena constantemente divaga e é por meio dela que conhecemos as outras duas personagens. Fina, demonstra cultura e educação: cita frases em latim, em francês, espanhol; pratica esportes, toma sol, faz chás e alimenta ilusões. É comparada a uma requintada balada medieval. Aluna da Faculdade de Direito, fantasia um amor edipiano por M.N., homem mais velho, casado, para quem transfere substitutivamente o amor do pai que perdera. Sua ação limita-se a seu microcosmo de burguesa alienada, procurando por autenticidade.
Em seu quarto, no pensionato N. Srª de Fátima _ locus simbólico do romance _ circulam variados núcleos temáticos como o homossexualismo, a atuação da igreja progressista, o engajamento político de Lia, em campanhas revolucionárias clandestinas e a dependência química de Ana Clara, com seu temperamento problemático, prostituído e seu sonho de psicóloga de ricaços.
É a sociedade brasileira de 60 e 70 que figura nas histórias de Lygia. Seria enganoso pensar que esse romance, por privilegiar aspectos psicológicos das personagens, deixasse de testemunhar seu tempo.
Lia de Melo Schultz, chamada de Lião pelas amigas, interessa-se pelas agitações estudantis de 60. É mulher-hino, com proporções gloriosas e cabeleira de sol negro, mistura de raças_ de mãe baiana, superprotetora, e, de pai berlinense, com passado misterioso de oficial ex-nazista. Inicia o curso de Ciências Sociais e se envolve com Miguel, militante político que acaba preso. Serve de contraponto para a finesse de Lorena: veste-se mal, não gosta de banhos e vaidades, calça alpargatas Conga e sua preocupação é angariar dinheiro para o “aparelho”. Está sempre discursando contra a alienação das amigas, da burguesia e contra a pobreza do Nordeste. Seu equilíbrio repousa sobre dois referenciais: seu engajamento político e a segurança do amor de Miguel, deportado para a Argélia, para onde tenta uma fuga. Tem pretensões a escritora, sob o pseudônimo de Rosa de Luxemburgo.
Conversa sobre nazismo, família e liberdade e sobre as idéias de Jango, Guevara e Luther king (p.129). Atua em operações da esquerda, coletando roupas e “oriehnid” para os revolucionários, além de material para o jornal.
O narrador mantém-se afastado, deixando o espaço livre para as personagens se movimentarem: estas falam por si. Por isso a oralidade do texto de Lygia é marcante, pois a narração em primeira pessoa é freqüente. O discurso de Lia é o regionalismo mais politicamente engajado e real:
...Não sei agüentar sofrimento dos outros, entende. O seu sofrimento Miguel. O meu agüentaria bem, sou dura. Mas se penso em você fico uma droga, quero chorar. Morrer. E estamos morrendo. Dessa ou de outra maneira estamos morrendo? Nunca o povo esteve tão longe de nós, não quer nem saber. E se souber ainda fica com raiva, o povo tem medo, ah! Como o povo tem medo. A burguesia aí toda esplendorosa. Nunca os ricos foram tão ricos [...]. Assistindo da janela e achando graça. Resta a massa dos delinqüentes urbanos. Dos neuróticos urbanos. E a meia dúzia de intelectuais. Os simpáticos simpatizantes. Não sei explicar mas tenho mais nojo de intelectual do que de tira. Esse ao menos não usa máscara, ô Miguel! Precisava tanto de você hoje, esta vontade de chorar, lá sei. Mas não choro. Não tenho lenço, Lorena não acharia fino limpar meu nariz na fralda da camisa.(1998, p. 15)
Ana Clara, filha de mãe solteira, prostituída, nunca recebeu atenção. Consome excesso de tranqüilizantes e vive sérios conflitos. Sente-se travada, apesar das sessões de terapia que freqüenta. Pensa em casar-se com noivo rico, após cirurgia reparadora da virgindade, bancada por Lorena. Modelo, 1,77m, olhos verdes, carente, usa drogas, em companhia do namorado Max, que a viciou. Mentirosa, deprimida e deprimente, evoca, de sua infância, a náusea por ruídos de ratos, baratas e cheiros dos prédios em construção, onde vivia com a mãe e seus amantes, dentre os quais o dr. Algodãozinho, dentista que abusava sexualmente das duas, na cadeira do consultório.
Max teve educação esmerada; fala francês, é fino, mas empobreceu e tornou-se traficante. Gosta da música de Chopin e da pintura de Renoir , conhece a riqueza e as viagens. Ana Clara, a coelha, assim chamada por ele, passa grande parte da trama na cama, em delírio, nas tentativas sexuais mal sucedidas, devido a seu passado traumático. Não sente prazer. Está grávida e quer abortar; o namorado é contra.
“Ana Turva” apresenta o discurso mais truncado das três. É a gata borralheira do encontro marcado com o noivo secreto. Invade a privacidade de Lorena, mexe-lhe nos livros e nos objetos pessoais, sofre alucinações e morre de overdose, abandonada pelas amigas num banco de praça, a fim de eliminar suspeitas policiais, pois não tem nenhum parente. Seu discurso fica caracterizado como exterior, em seus diálogos com Max.
_ Estou quase desmaiando, amor. Tão bom, Max.
_ Então por que está assim gelada? Ahn? Parece que estou trepando num pingüim, você já viu um pingüim?
Ela enrolou e desenrolou no dedo um anel de cabelo.
_ É que hoje não estou brilhante.
_ Queria que me dissesse o dia em que está brilhante- resmungou ele sentando-se na cama.
_ Max, eu te amo. Eu te amo.(...)
_ Mas não gosta de fazer amor, Coelha. É importante fazer amor, ahn?
_ Ando meio travada. Preciso falar com meu analista, fiz uma puta confusão com esta análise.
_ Diga que você se contrai no amor feito ostra quando se pinga limão nela.(...)
Ele procurou no chão as calças amontoadas ao lado da poltrona. Tirou do bolso o maço de cigarros e sacudiu-o fazendo cair na palma da mão um pequeno embrulho de papel de seda.
_ Uma dose adamada pra Coelha e outra pra mim, ahn? Com isto engrena. (p. 32)
Ana Clara revela o que pensa, pelo fluxo da consciência _ pensamento no estado nascente, que Lygia elabora como no tratamento proustiano ou discurso interior.
Suas falas e silêncios são recebidos diretamente pelo leitor, captando a riqueza e incoerência do monólogo interior, que não presta contas à ordem lógica, puxando uma enfiada de coisas, sem aparente relação entre si. Monteiro (1980, p. 104)
(...) “Engrena nada. Se ao menos engrenasse mesmo e eu subisse pelas paredes de tanto engrenar e a cabeça deixasse roque-roque de pensar só coisas chatas. Mas por que minha cabeça tem que ser minha inimiga, pomba. Só penso pensamento que me faz sofrer. Por que esta droga de cabeça tem tanto ódio de mim? (...) Só de porre me deixa em paz essa sacana. E aquele besta me esperando enquanto descasca seu pãozinho, descasca o pãozinho com a unha até ficar só o miolo feito rato. É minha cabeça que ele descasca roque-roque, Bastardo.”
(...) Até hoje não posso nem ver cerveja porque ele me atendia depois do jantar, hora dos clientes mais miseráveis e no jantar naturalmente emborcava sua meia garrafinha. Filho-da-puta.
_ Queria botar a broca no dente dele zzzzzz e varar o dente assim bem no fundo zzzzzzzzzzzz e varar a carne e varar o osso zzzzzzzzzzzzz.(ib,ibid, p. 32,36).
Sob o efeito das drogas, as evocações de Ana Clara são sinestésicas: ruídos (o roque-roque dos ratos e o barulho das baratas das construções); cheiros de bebida, do mar, do consultório, do corpo; sensações variadas de frio e de calor entrecruzam-se, enquanto ela desnuda seus traumas sem qualquer pudor, fugindo à realidade.
As personagens, com a palavra, vão contando sua própria história: interrompem a narração com perguntas, deixam frases incompletas, enfileiram repetições; intercalam exclamações que nos fazem “ver” gestos e expressões do corpo_ mimese do discurso_ sem prestar contas à causalidade, pois sua forma de ver o mundo não é convencional e corresponde à forma pela qual se relacionam com a realidade.
As três são representantes de um dos períodos mais difíceis para a emancipação da mulher, para a liberdade de pensamento e realização individual. Observamos três pessoas em busca de si mesmas, do outro e de uma sociedade melhor.
O DISCURSO COMO JOGO DE ESPELHOS NA NARRATIVA DE FALAS
A mistura das falas, ações, lembranças e críticas recíprocas, como um jogo de espelhos, aglutina trama, tempo, espaço, focalização e a própria narrativa como todo. O risco de acentuar determinado traço pesa sobre a mimese da linguagem, que se anula no reflexo da relação com o duplo.
Ana Clara por Lorena:
Com a maior sem-cerimônia do mundo abriu minha caixa de lenço-papel e levou mais da metade, anda com montes de folhas para se limpar depois do amor. O certo seria tomar um banho em seguida, é lógico, higiênico e poético correr nua até o chuveiro. No campo, correr debaixo da cascata, chuáaaaa! Mas faz a toalete como uma doméstica apressada. Certos gestos e palavras de Ana Clara, coitadinha. Tudo está nos detalhes: as origens, a fé, a alegria. Deus. Principalmente as origens. ‘Lá sei das minhas, me disse quando ficou de fogo. Nem quero saber’. A margaridinha aí embaixo pode dizer a mesma coisa, nada sei da minha raiz. Mas e a gente? Nem pai nem mãe. Nem ao menos um primo. Não tem ninguém. Pelo visto, a Bahia inteira deve ser da parentela de Lião mas Ana Clara é o avesso do quadro familiar. Nem uma tiazinha para lhe ensinar que tudo que se faz antes e depois do amor deve ser harmonioso.(1998, p.19)
Lorena por Lia:
Lia tirou a sacola do ombro e dependurou-a na cadeira mais próxima. Olhou a mesa recoberta de poeira, o calendário enrolado apontando detrás da máquina, o copo com um resto de café no fundo. Desenrolou o calendário: ocupando mais da metade da folha, a gravura de uma loura de biquíni, a boca polpuda se entreabrindo para emborcar a garrafa de Coca-Cola. Deixou-o cair e ele se enrolou como se tivesse molas. Voltou-se para o teto pardacento, pontilhado de moscas estateladas, a maior parte morta em meio de fiapos de antigas teias. Sorriu. “ Lorena se divertiria muito aqui”, pensou. No centro do globo de vidro leitoso, a mancha espessa de um amontoado de insetos que lá entraram e lá morreram aprisionados. ( ib ibid, p. 124)
(...) Por que os escravos do rei acabam mais cacas do que o próprio?- pensou Lia(...) Na parede, os altos espelhos refletindo-a em todos os ângulos. “Como tomar um porre de si mesma.”Inclinou-se rápida até ficar abaixo do nível das molduras . Sentou-se no tapete. Como Narciso podia ser livre, escravizado como estava à própria imagem? Sorriu. Lorena também gostava de espelhos igualzinha à mãe. Como era a filosofia lorenense? O estar era a estagnação do ser. “Se eu quiser ser, não posso estar sequer no espelho. (ib ibid, p. 223)
Lia por si mesma, no diálogo com Pedro, companheiro do aparelho:
_ Você já teve experiência com mulher?
_ Já.
_ Que genial! E então?
_ Não sei o que você quer saber _ (...) Nada de extraordinário, Pedro.Tão simples. Foi na minha cidade, eu ainda estava no ginásio. A gente estudava junto e, como nos achávamos feias, inventamos namorados. Quando lembro! Como era bom se sentir amada mesmo por meninos que não existiam. Trocávamos bilhetes de amor, ele ficou sendo Ofélia e eu era Richard de olhos verdes e um certo escárnio no olhar,ô! (...) Não sei bem quando o nome de Richard foi desaparecendo e ficou o meu. Acho que foi numa noite., botei um disco sentimental e tirei-a para dançar, Me dá o prazer? Saímos rindo e enquanto a gente rodopiava qualquer coisa foi mudando, ficamos sérias, tão sérias. Éramos envergonhadas, entende. Nos abraçávamos e nos beijávamos com tanto medo. Chorávamos de medo.(...)
_ Foi um amor profundo e triste, a gente sabia que se desconfiassem íamos sofrer mais. (...) Começamos a falar igual. Rir igual. Tão íntimas como se tivesse me apaixonado por mim mesma. Não sei explicar, mas a primeira vez que me deitei com um homem tive então a sensação de amor do estranho. Do outro. Aquela boca, aquele corpo, não, eu já não era uma só, éramos dois: um homem e eu (ib ibid, p.128)
Lygia, com técnica magistral,mostrou-nos três facetas da sociedade de 70: a aristocrática Lorena_ que se esvai do real para a fantasia, no devaneio; a subversiva Lião _ que tranca a matrícula na faculdade e lutou pela causa da liberdade, o que a autora sempre fez em busca dos desvalidos e do escritor; e a drogada Ana Turva_ vítima do destino, reflexo de muitas mulheres, por quem ela levantou a bandeira da emancipação e da liberdade.
Raramente as personagens são resumidas ou interpretadas por um terceiro. Somente madre Alix quebra esta regularidade narrativa, tecendo comentários sobre as três meninas, no sexto capítulo:
_ Vocês me parecem tão sem mistério, tão descobertas, chego a pensar que sei tudo a respeito de cada uma e de repente me assusto quando descubro que me enganei, que sei pouquíssima coisa. Quase nada_ exclamou e abriu as mãos no espanto. O que sei afinal? Que é da esquerda militante e que perdeu o ano por faltas?(...)Que sei sobre Lorena? Que gosta de latim, que ouve música o dia inteiro e que está esperando o telefonema de um namorado que não telefona?Ana Clara, aí está. Ana Clara. Como me procura e faz confissões, eu podia ficar com a impressão de que sei tudo a respeito dela, Mas sei mesmo? Como vou separar a realidade da invenção?(Cap. 6, p. 141)
Romance complexo, As Meninas apresenta um mundo inquietante, que contemplamos após 30 anos com diferentes propósitos, especialmente de conhecer o avanço da técnica narrativa brasileira, ao analisar o discurso engendrado pela escritora, semelhante ao de Proust e de outros autores modernos universais e nacionais, no entrecruzar das falas e pensamentos de personagens, na teia babilônica literária, dialógica e intertextual.
RECORRÊNCIA E INTERTEXTUALIDADE
Bakhtin é um dos primeiros a substituir o recorte estático dos textos por um modelo onde a estrutura literária não é/ não está, mas se elabora em relação a uma outra estrutura [...] Cruzamento de superfícies textuais, diálogos de várias escrituras [...] todo texto é absorção e transformação de outro texto. No lugar da noção de intersubjetividade instala-se a noção de intertextualidade. Júlia Kristeva
Ana Clara e Max foram ver o pôr-do-sol? Raquel e Ricardo são sua rarefeita continuação? As estudantes de Direito e Medicina do velho e sinistro sobrado de As Formigas lembram as meninas Lia e Lorena? As formigas, baratas, cheiros, cores, ruídos, evocações sinestésicas e o inquietante e envolvente mistério que nos atrai na tessitura das tramas de Lygia é recorrente e intertextual?
Reiterando Rosenfeld, na introdução deste ensaio, me pergunto se há unidade de espírito e sentimento de vida nas intrigas de Lygia, e se o que nos fascina é a pulsão que encontramos em cada narrativa sua?
Devo dizer que há relações de sentido estabelecidas entre o que uma obra mostra e o que faz inferir e entre o que um romance conta e o que outros contos narram. Essas relações constituem a intertextualidade .
Há, segundo Fiorin , três processos de intertextualidade: a citação, a alusão e a estilização. A citação confirma ou altera o sentido do texto citado, podendo ser feita em outra semiótica. Outro processo é a alusão. Neste, não se citam palavras, mas reproduzem-se construções sintáticas com algumas figuras substituídas por outras, mantendo relações hiperonímicas ou figurativizações do mesmo tema. E, por fim, a estilização , reprodução do “discurso de outrem”, apresentando recorrências formais, tanto no plano da expressão quanto no do conteúdo, com efeitos de individualização.
Assim percebo a técnica adotada por Lygia n’As Meninas. Há estilizações entre seus textos e auto-referencialidade não confessada. A figurativização da linguagem e das personagens guarda semelhanças recorrentes em diferentes obras, que discursam sobre os mesmos temas, por vezes, trazendo discursos e pontos de vista diferentes ou mesmo convergentes. A verdade é que seu valor estético está na renovação, na desautomatização e desfamiliarização dos procedimentos de elaboração estética, como já o faziam Clarice e Rosa , todos machadianos explícitos.
Podemos verificar, ainda, na literatura, a intertextualidade temática. Além da estética partilhada por participantes de uma escola literária, no caso, o pós-modernismo , há os temas comuns, fruto de concepções de época. O conteúdo foi, para Lygia, a motivação da forma. Por isso, o destaque especial para a mobilidade do discurso das personagens, com foco narrativo cambiante e a identificação do estilo d’As Meninas com o fluxo da consciência, que Clarice também mobilizou. As personagens apresentam a si mesmas e a ação interiorizada mostra seus conflitos com o mundo exterior enquanto resolvem recalques e evocam experiências de auto-conhecimento e de solução para seus traumas e fantasmas. De seqüências cronológicas pouco marcadas, vagas e de difícil precisão, prevalece o tempo psicológico, no entrecruzar entre memória e presente desordenado das personagens e da própria autora.
A década de 70 foi denominada por Franco de Inconformismo nas Letras ou Literatura da Derrota, fase que o romance em foco representa. (1998, p.93) Estranhamento e desvio tornaram-se preocupação essencial da natureza sígnica de alguns romances neste período, opondo linguagem estandardizada e poética. O aspecto semântico dessa criação lingüística foi resultado da estrutura e seu valor repousou na tensão, especialmente partilhada por Lygia, do momento que privilegiou e que tão bem representou: a barbárie da ditadura e da repressão .
O painel conturbado da história brasileira ficou na interface da vivência das três meninas em busca de si mesmas, da maturidade e da mulher que cada uma guardava em si e que Lygia focalizou sob a câmara da narrativa, com ousadia e encanto, como Sheherazade. A autora livrou-se não apenas sua própria morte, mas da do escritor, a despeito da morte do narrador, do qual as personagens assumiram a função _ processo explicado, neste ensaio, no capítulo do discurso.
O escritor não morreu. É porta-voz de seu tempo. Por isso é possível encontrar temas universais, comuns, com tratamentos diferentes, como em Graciliano, Clarice, Lygia e Rosa, determinados pelo ideário da época e, também, temas particulares, em certos momentos da história da literatura, determinados pelo mesmo ideário, o que percebemos em Rui Mourão, Oswaldo França Júnior, Érico Veríssimo e, em João Ubaldo Ribeiro e Lygia. Estudar essas linhas comuns é reconhecer a intertextualidade latente, expressa nos textos.
O intimismo de Lygia atualizou-se numa superfície literária ondulada, na forma de memória das três adolescentes: meninas, com as pupilas gastas na inspecção dolorosa de ser e estar no mundo. A máquina do mundo se entreabriu para as três, hoje duas, mas também para Lygia e para muitas outras mulheres.
À GUISA DE CONCLUSÃO
Todas as meninas se emanciparam: Lorena Lia, Lygia e eu_ que em 73 tinha cerca de 10 anos. Trinta anos passaram. Trinta anos metaforizados por Balzac na figura da mulher. Trinta anos que significaram o encontro da maturidade, da identidade, da definição e da sedução insinuante, neste caso, em nosso olhar, pela mulher e pela narrativa brasileiras. Momento decisivo!
Somados trinta anos, de 1973 a 2003, a cena se delineou para nós. Ganhamos em liberdade, diversidade e em auto-conhecimento. Hoje já não negamos, enquanto sociedade e cultura, nossas raízes indígenas e africanas; nossa fraturada identidade macunaímica e bufa, patriarcal e europeizada.
Fomos a flor exótica, tropical e insinuante do mundo paradisíaco sonhado pelos descobridores: colônia, submissão. Mas o matriarcado ganhou contornos mais definidos e a mulher entrou em cena com papéis centrais na articulação social, até mesmo no universo da Literatura Brasileira, que conheceu a escritura feminina após o Romantismo, tomando corpo mais relevante no Modernismo.
Nossa narrativa ganhou foros de autenticidade e nacionalizou-se, obtendo identidade e reconhecimento, em sua incipiente tradição, segundo Antonio Candido . Nossa menina Constituição e nossa menina Sociedade, colonizada, preconceituosa e ingênua ainda estão se emancipando.
Descobrimos Lygia. Admirável! Sua obra e personagens nos encantam, revelando um mundo de verdade e denúncia. Descobrimos a nós mesmos enquanto leitores, quando a lemos, no momento em que a alegórica máquina do mundo nos conduz, nos mostra e ensina o Claro Enigma da vida.
Trinta anos de menina. Oitenta anos de mulher. Lygia verdade, Lygia ficção. Contemplamos a realidade pela janela de suas obras e nos descobrimos na epifania de ser. O forte lastro psicológico d’As Meninas exige de nós adesão à história das personagens, optando por um tipo de vida ou pela aceitação das incoerências delas, coincidentes com as nossas.
Na memória d’As meninas ficará a memória dos anos 70, a expressão simbólica de um período refreador e repressivo, mas que não impediu o pensamento divergente de buscar sua expressão e suas formas de atuação. Ao contrário, acentuou a busca de alternativas e a luta pela liberdade, no claro enigma da vida das meninas, das mulheres e de todos nós, fruto de um Brasil também menino.
É preciso agasalhar no peito o nexo primeiro e singular, na inspecção diária do enigma de existir na máquina do mundo que nos abriga.
(...)"O que procuraste em ti ou fora de
teu ser restrito e nunca se mostrou,
mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
e a cada instante mais se retraindo, olha, repara, ausculta: essa riqueza
sobrante a toda pérola, essa ciência
sublime e formidável, mas hermética,
essa total explicação da vida,
esse nexo primeiro e singular,
que nem concebes mais, pois tão esquivo
se revelou ante a pesquisa ardente
em que te consumiste
... vê, contempla,
abre teu peito para agasalhá-lo".(...)
A Máquina do Mundo
Carlos Drummond de Andrade
''Claro Enigma”
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