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Sexta-Feira , 02 de Maio de 2025
 
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CRÔNICAS DA SEMANA


Para subsidiar as diversas fases da Olimpíada de Língua Portuguesa e manter sempre viva a discussão sobre temas literários, este espaço será dedicado a Crônicas, de ontem e de hoje, cujos autores trouxeram riqueza e sabor para nossa literatura.

São crônicas que registram o circunstancial, o efêmero, que recriam com engenho e arte o real, que exploram a função poética da linguagem, que imprimem leveza ao discurso narrativo, que expõem o narrador, que revelam e valorizam, na visão do autor, a crítica de um momento histórico, que atenuam o vínculo de temporalidade e eternizam o texto.

“... a crônica está sempre ajudando a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. Em lugar de oferecer um cenário excelso, numa revoada de adjetivos e períodos candentes, pega o miúdo e mostra nele uma grandeza, uma beleza ou uma singularidade insuspeitadas. Ela é amiga da verdade e da poesia nas suas formas mais diretas e também nas suas formas mais fantásticas....”

Antonio Cândido, 1980


A leveza da pena


É como nos versos do samba antigo: sabiá, bata as asas serenas; tuas penas não pesam; pesam mais minhas penas, sabiá. São idéias, sensações, lembranças, com um inevitável toque de nostalgia, que se elevam com graça e leveza, rodopiam no ar da imaginação e descaem para encerrar seu breve vôo numa chave de ouro.
Pode-se resumir a crônica nessas poucas palavras, mesmo porque poucas e bem articuladas palavras são os limites físicos da crônica, um gênero literário um tanto marginal nessa categoria, quando visto sob a lupa de boa parte dos acadêmicos.
E a figura do sabiá é incidental. Afinal, não é por acaso que o mestre das crônicas, forma que se confunde tanto com o caráter do brasileiro quanto o samba e o futebol, Rubem Braga, tenha se imortalizado como O Sabiá da Crônica.
Não apenas pela leveza de sua pena, da qual pingava sempre a gota inevitável da nostalgia, mas pela clareza de seu canto, um texto enxuto, desprovido de artifícios, porém, tocante, sobretudo, quando falava do seu assunto preferido – a falta de assunto.
Há na receita da boa crônica esse certo tempo de vazio, na presteza de sua execução, ao qual se acrescenta a suspeita de que algo mais profundo se agita sob o disfarce da ligeireza.
Resumindo: o poder da crônica é plantar duas rugas de reflexão na fronte e um tênue sorriso nos lábios do leitor.

Alberto Helena Jr.
Cronista do Diário de São Paulo


Sem Pelé, nem Mané

Outro dia, no Bem, Amigos, me reencontrei com um ídolo de infância, hoje treinador de nomeada – Evaristo de Macedo.
Jogava muita bola o Evaristo, tanto fazia nas duas meias ou no comando do ataque, aqui atrás ou lá na frente. Hábil, inteligente, veloz e oportunista, a ponto de deter o recorde de gols numa mesma partida da Seleção (cinco, contra a Colômbia, em 57), fez nome naquele ataque arrasador do Flamengo dos meados dos anos 50: Joel, Rúbens, Índio, Evaristo e Esquerdinha ou Benitez ou Zagallo. Mas, fez seu pé de meia mesmo na Espanha, onde conseguiu o prodígio de ser reverenciado pelos dois maiores rivais da Península: o Barça e o Real.
No Barça, teve o privilégio de jogar ao lado do tcheco-húngaro-espanhol Kubala. No Real, a honra de atuar com don Alfredo Di Stefano e, de quebra, Ferenc Puskas, dois dos maiores gênios da história da bola. Com esses três, mais mestre Ziza, Evaristo garante que faria o quarteto mágico mais deslumbrante da história do futebol, já que Pelé está acima dessas questões.
Aliás, falando em Pelé, ocorreu-me que ele (assim como todos nós) deve muito ao fato de Evaristo ter seguido para a Espanha às vésperas do Mundial de 58, na Suécia. Só por isso, Evaristo não foi chamado. Se tivesse sido, jogaria as três primeiras partidas em que Pelé esteve ausente por contusão e não sairia do time a não ser com a taça na mão.
Naquele tempo, quem jogasse lá fora – e eram poucos, em relação à época atual - não merecia o privilégio de ser convocado para a Seleção. Com uma única exceção: Júlio Botelho, o genial Julinho, que, sondado pela CBD, delicadamente recusou o convite, argumentando que não seria justo para os jogadores que atuavam no Brasil.
Resumo da ópera: no lugar de Julinho foi Garrincha.
Na vida, como no futebol, dizem, às vezes, o destino escreve certo por linhas tortas.
Ou por pernas tortas, se o amigo preferir.


Alberto Helena Jr.
Cronista do Diário de São Paulo

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