A Chamada. |
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Prof ª. Edna Mara Araujo Gonçalves |
Ao entrar na sala, o professor de Português
foi saudado pelo primeiro aluno que o viu:
É aqui não, professor! Agora é
História.
É aqui, sim! Agora é Português,
protestaram uns quatro ou cinco alunos.
História! O primeiro alerta engordou mais umas
cinco ou seis vozes.
Português! Bradou a metade da classe, já
dentro da sala, arrastando no cimento áspero os pés
de ferro das carteiras.
O professor duvidou de si mesmo. Pensou em consultar o horário,
mas lembrou-se de que não costumava trazê-lo
consigo. Decidiu estranhar aquela balbúrdia. Enfunou
as velas do peito, arredondou a voz e bradou em tom de alto-falante
de estádio:
Português!! Até hoje vocês ainda
não sabem do horário?
Sentou-se, abriu o livro de chamada e começou:
Número um! Presente!
Dois! Presente!
Três! Três! Número três! Não
tem! Nunca veio! Desistiu!
Tudo isso despencou de trinta bocas descompassadamente.
Dez! Número Dez! Acorda, Zé Carlos!!!!
Estrugiu a classe.
Presente! respondeu o interpelado, dando um salto na
carteira, como se naquele momento tivesse entrado pela janela.
O professor irritou-se: Não dá para conversar
desse jeito e ouvir a chamada! É todo dia a mesma coisa!
Da próxima vez, ponho falta e não quero nem
saber!
Eu não estava conversando!
Não! Era eu.
Eu estava só perguntando ao Elias se tem tarefa.
Pois tem, sim! Quer dizer que você não
fez, não é?
Tem não, professor! remendou a classe dividindo-se
em dois grupos:
Tem tarefa não! Era pra fazer na classe.
O professor disse que era pra terminar em casa.
Não senhora! Em casa se não desse tempo
de acabar na classe.
Mas não deu!
Deu sim! Como é que eu terminei?
Terminou porque você não fez!
Não fiz? Olha aqui! Você só fica
puxando o saco do professor!
Puxando o saco é a sua mãe viu? Você
vai ver depois...
Psss!!! Fez alguém. O professor está
esperando fazer silêncio.
Ao baixar a temperatura, o professor prosseguiu:
Dezenove!
Lá do fundo veio uma voz:
Professor, posso ir tomar água? Fingiu não
ter ouvido e continuou:
Número vinte e dois!
Ué, professor, e o vinte e um?
Vinte e um! Presente!
Aproximou-se alguém: Teacher, que é que
o senhor vai dar hoje?
Vá sentar-se! Trinta e cinco!
Pode ir lá em casa buscar minha carteirinha?
Pode, mas fica com falta.
Eu vou correndo, professor. Volto logo.
Não posso dar permissão para ausentar-se
da escola. Vá à direção!
Mas o Senhor vai pôr falta?
Você está sempre esquecendo essa carteirinha!
Foi meu irmãozinho que pegou.
Não é problema meu! Quarenta e quatro!
Presente!
Quarenta e cinco! Quarenta e cinco!
Acabou, professor!
Uma voz: O Professor tá viajando!
Neste momento surge esbaforida a professora de História:
Dá licença, professor! Tem certeza de
que esta aula é sua?
EEPG "Profª Lea Silva Moraes" - Ilha Solteira
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