Desapontamento Periférico |
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Prof ª. Hurda Irene Perciani Latorre |
Era dia de mexerica no recreio. Aquele aroma gostoso ia tomando espaço nas salas de aula, aguçando o olfato da criançada, que a partir daí não mais atentava a nada, somente contava os segundos que a distanciava da fila da fruta.
Quando soou o alarme, a correria foi geral. As filas eram quilométricas, alegres e barulhentas.
Houve quem devorasse de dois a três gomos de uma só vez. Houve quem apenas tirasse um pedacinho da casca e a espremesse na boca, sentindo o sumo escorrer-lhe garganta e queixo abaixo. Houve quem, em meio à algazarra, perdesse o cítrico. Houve quem, sorrateiramente, o suprimisse de outrem. Houve gritos, risos, reclamações. Houve guerra de mexerica. E houve quem preferisse saboreá-la longe de todos, dentro da proteção de uma sala de aula, onde calmamente ia apreciando cada gominho, cada gotinha daquele néctar, num misto de sonho e prazer. Mas, a inspetora de alunos entrou... Seu grito desaprovador ecoou estridente ao notar cascas e sementes atiradas ao chão. A criança assustou-se; porém, estava muito feliz e, indiferente, pôs-se a cantarolar. De repente, um estalar de mão em seu pequenino rosto a fez chorar sentida.
A pobre criança nunca pensou que a mexerica pudesse ter um gosto tão amargo.
EEPSG "Prof. Dr. Geraldo C. Moreira" - Capital
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