Rotas rutilantes são rios de Roma... (?) Não.

Rotas rotas são... (?) Não!

Rios rutilantes são rotas ... (?) Não! Não! Não!

O exercício era de poesia. Poesia compulsória aplicando figuras de linguagem: "Aplique, num verso, aliteração e metáfora." Exercício para entregar! Para ponto. A professora, aquela p..., só pensava em pontos. Abriu o caderno, ponto. Pegou da pena, ponto. Escreveu um verso, mesmo vil, ponto. Não dava tempo nem de pensar nas pernas da Paula, nem nas tatuagens da Tatiana, a tesuda.

R, R, R. E, por cima, com a exigência do R!

"O rato roeu a roupa do rei de Roma." Horrível...

Passando o tempo... A professora de Português passando pela sala, solado de borracha nhec nhec nhec no ladrilho grudado de chiclete.
Nem adiantava olhar para os lados. Alfabeto espalhado - o D à direita, à esquerda o Q. À frente o F e, atrás, não dava pra ver que ela já estava olhando feio pra mim.

- Faltam dois minutos.

Poesia com hora marcada. Poesia era marcar hora com a Marcela, lá onde ela ia porque queria e já tinha ido com todo mundo menos comigo.

Marcela de olhos de mel agora mordia o cantinho do lábio superior, franzia as negras sobrancelhas e enrolava os fios loiros com os dedinhos da mão esquerda, embatucada... com que letra? Deve ser o B, B de boca, B de beijo, B de...

- Tempo! Fez, fez, não fez era uma vez!

E se ela me chamar? Vai chamar. Me olhava com jeito que ia chamar.

- Rodrigo!

Pronto. Era eu! O saco de pancada, o sujo, o sem jeito. Nem levantei a cabeça. Fingi que estava escrevendo.

- Rodrigo! Leia!

Marcela virou na carteira pra melhor me olhar, no prazer de ver o... vexame.

O bolha do Bernardo tacou um chutão por baixo da cadeira.

Não tinha saída. Li:

Rios rutilantes são rotas arrepiadas.

Assovios, patadas no chão, Marcela virando o rosto. Desdém.

- Uhn... Rodrigo...

O sapatão parado na minha frente.

- Gostaria de ver o verso seguinte. Interessante... "rotas arrepiadas"... faite la liaison...

Quando queria humilhar, pensava em francês.

Batia os dedos gordos sobre a folha rabiscada:

- Ri-os-ru-ti-lan-tes...

Diziam que as costas de Marcela eram macias...

- É bárbaro... Continue, Rodrigo! Dois pontos se aparacer o próximo verso!

Marcela diferente.

Marcela sorrindo para mim.

Desprezei. Agora ela ia esperar.

Agora eu tinha encontro marcado com a poesia.


EEPSG "Prof. José de Mello Moraes" - Piracicaba

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