> Sistema Documentação
> Memorial da Educação
> Temas Educacionais
> Temas Pedagógicos
> Recursos de Ensino
> Notícias por Temas
> Agenda
> Programa Sala de Leitura
> Publicações Online
> Concursos & Prêmios
> Diário Oficial
> Fundação Mario Covas
Boa noite
Terça-Feira , 19 de Março de 2024
>> O Professor Escreve Sua História
   
 

Lição de Simplicidade


Prof ª Maria Joaquina de C. V. Bigarelli

Maria Odete estranhou a visita de Wilma, Ângela, Dinorá e Juliana quando elas foram a sua casa àquela hora. Não que visitas fossem raridades naquele fundão de mundo, onde uma das poucas coisas boas que aconteciam regularmente era justamente esse contato humano muito intenso. Mas mais porque elas traziam um ar diferente no rosto, algo assim, meio maroto, meio "eu-quero-uma-coisa-de-você".

Wilma até que tentou fazer uma introdução conversando amenidades; Juliana, porém, mais impaciente, foi direto ao assunto. E o assunto era a escola da fazenda que funcionava na capelinha onde as quatro primeiras séries do ensino básico eram ministradas, todas juntas, ao mesmo tempo, por uma professora leiga.

Wilma fora diretora de uma escola em Campo Grande antes de seu marido ser transferido para trabalhar na fazenda. Ângela era professora, embora nunca tivesse exercido a profissão. O mesmo acontecia com Maria Odete. Juliana e Dinorá, entretanto, lecionavam havia já muito tempo. E depois, havia outras pessoas, e algumas delas professoras também, que se encontravam na fazenda pelo mesmo motivo - transferência de seus respectivos maridos, e que tiveram que deixar seus empregos devido à mudança. Por que não se unirem e trabalharem pela construção de uma escola? E uma escola que oferecesse o primeiro grau completo?

A proposta era ambiciosa. Anteviam-se dificuldades de toda a espécie, mas nenhuma tão grande a ponto de inviabilizar a idéia. O primeiro passo, conversar com um administrador da fazenda, foi o mais fácil, e, a partir daí, tudo passou a se desenrolar vertiginosamente.

De imediato, a escola mudou-se da capelinha para um enorme galpão, precariamente dividido em salas de aula. Um levantamento foi feito para se saber a quantidade de alunos potenciais para as séries de quinta a oitava. Organizou-se uma fantástica festa junina para arrecadar fundos. Representantes viajaram para a capital para tratar da parte burocrática. E, finalmente, depois de muitas idas e vindas, muitas festas e movimento em prol da escola, lá se erguia ela, toda branca e azul, ao lado da sede da fazenda.

O orgulho e a satisfação de ver o sonho realizado compensavam todo o cansaço dos últimos meses e a correria de última hora para a inauguração da escola; contudo, mais importante que tudo aquilo era a nova etapa de uma árdua, porém recompensadora, tarefa que ali começava: a de transformar todos os alunos, sem exceção, em cidadãos conscientes de sua liberdade, autonomia e individualidade.

Foi nessa época, em meio a todo esse alvoroço, que Maria Odete iniciou sua carreira de professora propriamente dita pois, até aquele momento, nunca fizera uso do seu diploma do curso de Letras. Amedrontada, insegura, ainda titubeava em aceitar o cargo de professora de Português; não sabia o que deveria fazer exatamente. E então aconteceu uma coisa linda: Santinha, professora leiga que dava aulas havia muito tempo, antes de toda aquela reviravolta acontecer, achegou-se e disse com toda a sua simplicidade que dar aulas não era aquele "perrengue todo não": bastava descer até o nível do aluno e ir, junto com ele, subindo devagarinho.

Santinha não falou com palavras tão certinhas assim; isso Maria Odete leu alguns anos mais tarde e não pôde deixar de sorrir e lembrar da professora que, sem nunca ter tido qualquer formação formal, ensinara-lhe uma lição para toda a vida.


EEPSG "Vila São Joaquim II" - Cotia

Para mais informações clique em AJUDA no menu.