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Bom dia
Terça-Feira , 19 de Março de 2024
>> O Professor Escreve Sua História
   
 

Sem título


Prof. Edison Pereira


- Ah! professor, por que você veio?

Do portão da escola até a sala de aula, quando finalmente se conformam com nossa presença, esta é a frase com a qual eles nos recebem.

O dia foi complicado. Uma telha pra ser arrumada, um pisão em falso e mais duas quebradas. O modelo é antigo e você não as encontra. Uma porta do guarda-roupa para ser pregada. Uma martelada no dedo e... - Aaaiiiii!

Um professor de Matemática numa hora dessas, em vez de contar estrelas, calcularia a pequena probabilidade de atingir os dedos que seguram o giz e a caneta. Se você é um professor de Português como eu, vai perceber, de repente, que interjeições superam os substantivos em importância porque estes não são tão expressivos no momento da dor física.

Mas a verdade é que aquela frase acendeu o estopim de uma bomba psicológica, cuja pólvora fora preparada pelas intempéries daquele dia. Eu estava decidido a banir definitivamente aquela frase tão pouco receptiva.

O que agravava o ferimento no ego era perceber que, dentre os profissionais de atividades prestadoras de serviços para as saúdes física, moral e intelectual, é o professor o único que tem seu público-alvo a recebê-lo assim. Dá para conceber um médico que seja recebido desta forma por seu paciente?

- Ah! doutor, por que você veio?

O plano estava montado. Era sexta-feira e o fim-de-semana seria fundamental para sua execução.

Com o auxílio dos professores, convoquei os treze alunos que amavam discursar a frase em questão.

Para não caracterizar como uma tarefa punitiva, isentei-os de uma das avaliações bimestrais. O trabalho consistia em se reunir e preparar para a segunda-feira próxima uma dramatização cujo tema seria "Ah! professor, por que você veio?".

Contrariados, mas não impassíveis, já naquela noite entrevistaram alguns professores para uma análise do sentimento que lhes impunha tal pergunta. As respostas os surpreenderam e os motivaram para a realização do trabalho. Conseguiram encontrar, no olhar de cada professor, uma certa melancolia que se opunha à personalidade firme e segura conhecida em sala de aula.

De certa forma, sentiram-se culpados. Eram agravantes e não atenuantes da insensibilidade de toda a natureza da qual o professor brasileiro é vítima nos dias de hoje.

A experiência foi marcante. Os alunos conseguiram ser fidelíssimos porta-vozes do sentimento dos professores. Alguns deles, alunos de freqüência impecável, chegaram a confidenciar uma ligeira dose de repressão. São "obrigados" a ir à escola mesmo quando não se sentem com o estado de espírito favorável ao estudo. Por isso, torcem para que o professor falte.

Durante a semana, dramatizaram para toda a escola, sempre provocando grandes reflexões e aplausos.

Hoje não há mais motivo para se questionar a presença daquele que é cada vez mais imprescindível num mundo que o obriga a assumir cada vez mais papéis.

- Por que você não veio, professor?


EEPSG "Dr. Agenor de Couto Magalhães" - Capital

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