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Boa noite
Terça-Feira , 19 de Março de 2024
>> O Professor Escreve Sua História
   
 

Sem título


Profª. Leila Marisa de Souza Lima Silva


- Good evening!

- ??????????

- Good evening!

Ninguém respondeu. Era a minha primeira aula de inglês naquela classe. Os alunos tinham em média dezenove anos.

O diretor resolveu separar os alunos "mais velhos" dos "mais novos", porque muitos não puderam continuar seus estudos, todos trabalhavam e, possivelmente, estavam ali para aprender. Não para mostrar meus conhecimentos ou superioridade, mas fiz questão de me identificar em inglês.

Foi o maior alvoroço. Os sorrisos disfarçados nos lábios arrebentaram em forma de gargalhadas. Só um jovem não ria. Olhava-me fixamente. Devorava-me. De cima para baixo. De baixo para cima. Olhos verdes, brilhantes. Cabelos pretos, caídos propositadamente para que, de vez em quando, os colocasse para trás. Ombros largos. Forte. Quando passei o giz para que completasse o exercício na lousa, vi que ele era alto. Devia ter um metro e oitenta. Depois do exercício ele entregou o giz na minha mão. Não sei como seus dedos tocaram nos meus; só sei que estremeci. Estranhei porque já havia passado por situações idênticas e nunca tive qualquer pensamento "torto". E aquele era "torto" demais.

Comecei a ficar na expectativa para dar aula "naquela classe". Eu já não colocava uma roupa melhor para lecionar naquela escola, era para a classe do primeiro E.

Uma noite, em que chovia torrencialmente, poucos alunos desafiaram o temporal para assistir às aulas.

Eu pensei que ele tivesse faltado; mas não, ele estava lá. Cabelos molhados. Jaqueta molhada. Os olhos... ah! Os olhos mais verdes... mais brilhantes. Apaixonados. Eu não vi como ele colocou um papel dobrado na minha caderneta. Quando fui fazer a chamada, lá estava "I love you!"

Há momentos que valem uma eternidade e eu estava vivendo o meu instante mágico de paixão, de amor, de desejos, de silêncio. Para quem contar? Quem iria entender? Uma professora e seu aluno apaixonado?

Bem, ainda não disse que estávamos no ano de 1967, trinta anos atrás, em que as pessoas interioranas estavam imersas nos seus preconceitos. Já não dava para segurar essa chama que nos atormentava.

Marcamos para conversar numa cidadezinha próxima. Um amigo tinha um rancho, e estaríamos mais seguros. Longe dos olhares curiosos e indiscretos dos que nos conheciam. Combinamos na rodoviária. Eu estaria esperando no meu fusquinha vermelho. Pelo retrovisor, vi quando ele desceu do ônibus. Na plataforma, nem olhou dos lados. Atravessou a avenida com os olhos no meu carro. Ele nem percebeu que um caminhão vinha em alta velocidade. Gritei. Era tarde demais.

A batida foi terrível. Sua cabeça ficou presa debaixo da roda traseira do caminhão. Tão menino! Tão bonito! Tão meu aluno! E ali estava numa poça de sangue. O grande amor da minha vida estava morto.

Hoje não vivo de lembranças... mas, de vez em quando, tiro da bolsa um pedacinho do passado. Uma folha de caderno com um coração desenhado e escrito "I love you".


EEPG "Prof. Benedito N. Rosas" - Espírito Santo do Pinhal

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