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Boa noite
Terça-Feira , 19 de Março de 2024
>> O Professor Escreve Sua História
   
 

Uma História Circular

Prof ª. Vera Lúcia Portilho Nicoletti

"O homem está vivo, vive pelo fato de ainda não se ter rematado nem dito a sua última palavra"

Mikhail Bakhtin


Era uma vez... Reis, fadas, bruxas, príncipes e princesas. Contos maravilhosos, contos de fadas. Patinho Feio, Cinderela, Três Porquinhos, Chapeuzinho Vermelho e... Fita Verde. Hora do conto, da leitura, da magia. Criamos nossos personagens com sonho, tecido, linha, botão, imaginação. Lemos, relemos, sonhamos, dramatizamos.
Rompemos barreiras, pulamos muros, derrubamos fronteiras! Nos emocionamos, dividimos medos e sonhos. Relacionamos o mundo das palavras com os sentimentos e as idéias nelas contidas. Poetizamos o mundo.

Fita verde entrou pela porta comigo. Não pediu licença e chegou quebrando as estruturas da narrativa e nossas certezas. Entrou e trouxe com Chapeuzinho Vermelho a polêmica.

Quando distribuo o texto Fita Verde no cabelo (Nova velha estória), percebo logo um burburinho. Texto difícil, dizem alguns; complicado, retrucam outros. Um texto diferente que, de quebra, nos quebra. Dou um tempo para a leitura. A classe, confusa, parece não entender o texto. É difícil ler Guimarães Rosa, diriam vocês. Eu lhes diria difícil, poético, profundo.

Proponho à Nina que, com sua voz clara e ritmada, leia para a classe e vamos buscar a superação das dificuldades. A inquietude nos leva a vários caminhos. Nina, questionadora, abre a discussão... "saiu de lá, com uma fita verde inventada no cabelo." Onde é lá? Certamente não é a casa de Chapeuzinho, lugar seguro e tranqüilo. É "uma aldeia em algum lugar", que tem "todos com juízo, suficientemente, menos uma meninazinha, a que por enquanto". Lá, trajetória, caminho. "Fita Verde inventada". Adorno, esperança, criação? Cláudio interrompe e lembra que Chapeuzinho pôs uma capa vermelha que a mãe lhe fizera. Capa, cobertura, proteção? Vermelho, vida ou morte? Chapeuzinho Vermelho e Fita Verde, contraste na vida e na morte. Todos falam ao mesmo tempo. Sara insiste e, ansiosa, ganha a palavra. Pondera a influência que o Lobo Mau exerceu sobre Chapeuzinho na escolha do caminho. Fita Verde, ela mesma opta pelo caminho que a leva à casa da avó, ainda que "louco e longe, e não o outro, encurtoso".

Lucas bom de briga, agressivo, busca o conflito. Chapeuzinho trouxe a desobediência e, como castigo, a morte. Fita Verde traz a morte como continuidade da vida. O ir e vir, a dialética da existência. Luís vai além: desobediência, castigo, morte; promessa de obediência, prêmio, vida. Ideológico, não? A essa altura a classe pega fogo.

Fita Verde chega, avó doente, braços magros, lábios arroxeados "porque nunca mais vou poder te beijar, minha neta". Amor, antecipação da saudade! Olhos fundos, parados, rosto pálido. Fita Verde grita: "Vovozinha, eu tenho medo do lobo!". Encarar a morte, assumir a vida? "Mas avó não estava mais lá, sendo que demasiado ausente, a não ser pelo frio, triste em tão repentino corpo."

A sala entra em ebulição. Ali caminha junto o ciclo da vida. O debate nos leva a conclusões. Morte, conseqüência da vida. Vida que, como fita de cinema, desenrola sua história. Começo, meio, fim. Mas é uma fita! E verde! Esperança, superação do tempo, continuidade de vida.

Embalados saímos da sala como Fita Verde sai para a vida. Agora o nosso caminho não é a floresta, nem a aldeia, são "os meninos e meninas que nasciam e cresciam".

Com sonho na alma, o cenário e fantoches na mão, lá vamos nós para o pátio da pré-escola, compartilharmos com as crianças a emoção de recriarmos um mundo novo e fazermos a catarse da vida.


EEPSG "Victor Britto Bastos" - São José do Rio Preto

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