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Boa tarde
Sexta-Feira , 26 de Abril de 2024
>> A Escola Dos Nossos Sonhos
   
 
Alcione Saliba

Professora e Phd em Administração Educacional, foi secretária de Educação do Paraná de 1999 a 2002 e gerente de projetos educacionais do Banco Mundial de 1990 a 1998.



ENTREVISTA

>> Usando sua experiência prática como gestora pública no Paraná e sua experiência técnica como membro da equipe do Banco Mundial, como a senhora analisa o quadro da Educação no Brasil?

AS>> Não conheço nenhum outro país que tenha conseguido realizar em tão pouco tempo o que foi feito aqui nessa última década. Para que os Estados Unidos colocassem todas as suas crianças e jovens na escola, por exemplo, levou 50 anos. O Brasil fez isso em 10, depositando toda a sua energia, dinheiro e quadro de pessoal na quantidade. Alguns críticos dizem que com isso o sistema perdeu qualidade. Discordo, ele já não tinha qualidade antes. Apenas manteve o mesmo nível, mas com muito mais crianças sendo atendidas. A melhora qualitativa é o próximo passo. Sou altamente otimista, porque vi o País melhorar muito nessa área. Sem deixar de reconhecer que ainda temos pela frente o mesmo tanto por fazer. O Brasil, e conseqüentemente o seu sistema educacional, é uma nação em construção. Eu diria que hoje o copo está metade vazio, metade cheio.

Formação

>> Um dos grandes desafios do País é melhorar a formação dos docentes, que precisam reaprender a ensinar diante das novas realidades e práticas de ensino. Qual a melhor forma de fazer isso?

AS>> Posso citar a experiência do Paraná, onde atuamos de duas formas diferentes e simultâneas. De um lado, temos a capacitação centralizada, que acontece em Faxinal do Céu - um centro totalmente dedicado a educadores. Do outro, existe a capacitação na escola, feita por meio de um programa chamado "Vale-Saber". A idéia é simples: o professor recebe um manual com algumas sugestões de projetos - comprovadamente eficazes para o desenvolvimento de conhecimentos, competências e valores - que deve implantar num prazo de seis meses, sempre trabalhando em conjunto com colegas de outras disciplinas. Isso se chama pesquisa-ação - ou seja, ao mesmo tempo em que desenvolve o projeto com os alunos, o professor está pesquisando sobre o assunto, exercitando a interdisciplinaridade e a capacidade de trabalhar em equipe. Além dos manuais e de uma ajuda de custo para a implementação dos projetos, ele recebe uma rápida capacitação e conta com um telefone 0800 para tirar dúvidas.

>> E a Universidade do Professor, em Faxinal do Céu? Qual o balanço que a senhora faz dessa experiência?

AS>> O que Faxinal tem de melhor é exatamente a oportunidade de os educadores trocarem figurinhas. É claro que as palestras que eles assistem são importantes, assim como as oficinas das quais participam. Mais importante ainda, no entanto, é ter 500 professores juntos, interagindo, trocando experiências. Faxinal, na minha opinião, é um ambiente para sensibilização, motivação e mobilização.

>> O que é preciso para que um programa de educação continuada tenha sucesso?

AS>> Em primeiro lugar, pragmatismo. O professor é ávido por dicas, por kits, pelo exemplo que ele pode aplicar no outro dia. É importante discutir sobre temas como a interdisciplinaridade. Mas como é que ele, na prática, trabalha de forma interdisciplinar? É esse tipo de questão que o intriga. O segundo ingrediente é a variedade de opções: o curso na universidade, o encontro em pequenos grupos, o projeto na escola... Por último, é preciso rever os critérios de participação: o professor não pode ser convocado; deve ser convidado. E também não deve ir para a capacitação apenas para ganhar um diploma que poderá lhe render pontos e promoção. Eu, aliás, sou a favor de acabar com os certificados na Educação Continuada. Porque a capacitação só é boa, se o professor vai de livre e espontânea vontade. E com uma motivação legítima.

>> A senhora acha que a educação a distância é uma boa saída para suprir o déficit de formação dos professores brasileiros?

AS>> Num país grande como o nosso, esse é um recurso importante. A educação a distância ocorre no mundo inteiro e nós estamos no começo. Por outro lado, não adianta achar que a educação a distância vai resolver todos os problemas. É preciso ter o espectro completo: a capacitação centralizada (com um grupo maior de pessoas), um projeto na escola (que o professor implementa com os colegas e os alunos dele) e, no meio de tudo isso, o uso da tecnologia. É importante não ver nenhuma dessas alternativas como panacéia. Eu aprendo melhor de uma forma; você de outra. Por isso é preciso ter um elenco de opções dentre as quais o profissional escolhe a mais adequada para si.

>> Ainda com relação às novas tecnologias, como promover a inclusão digital do professor?

AS>> Acredito que só teremos a disseminação da tecnologia se o professor tiver um computador em casa. O Estado de São Paulo está de parabéns pelo programa de doação de micros para os educadores, para que eles levem para casa, pesquisem na Internet, preparem provas, trabalhem. Apenas assim, incorporando o computador a sua rotina diária, é que eles vão chegar na escola e sentir necessidade de usar lá também. Este é o caminho.

Ciclos, correção de fluxo e avaliação

>> Como a senhora vê o sistema de progressão continuada?

AS>> Na minha opinião, esse sistema representa o reconhecimento de que toda criança pode aprender e de que a obrigação do professor é ensinar. A repetência costuma gerar mais repetência. E a repetência em seqüência acaba levando o aluno para a rua. O grande problema é que no momento em que ele sai da escola, eu perco a oportunidade de fazer qualquer tipo de trabalho. Eu quero é que ele continue lá, porque assim tenho a chance de mudar alguma coisa. É claro que ninguém quer que o aluno passe de ano sem ter conhecimento. Não advogo a promoção sem aprendizagem, mas entendo que é perfeitamente possível aprender no sistema de progressão continuada. Trata-se de uma boa idéia, com um bom plano, mas cuja implementação ainda precisa ser melhorada.

>> Alguns professores reclamam que, com o sistema de ciclos, perdem um instrumento de pressão sobre a turma, que é a prova. Como manter o interesse dos alunos sem que exista a necessidade de se esforçar para passar de ano?

AS>> É verdade, perde-se a pressão do "passar de ano". Mas não acredito que a ameaça seja um bom insumo pedagógico. A motivação, a sensibilização e o envolvimento são muito mais eficazes. O professor tinha antes um sistema simples, que não exigia muito dele. Bastava usar o instrumento da reprovação - que, num certo sentido, é equivalente à palmatória. Agora ele tem um sistema complexo, que exige muito mais: há que se conquistar o aluno, seduzir a turma.

>> E quanto ao problema da defasagem idade/série, qual seria a melhor forma de fazer a correção de fluxo?

AS>> Criar um "intensivão", uma espécie de UTI. A criança que tem dois, três anos de defasagem de série, é um forte candidato a sair da escola. Se ela continuar na mesma velocidade, será muito difícil aprender alguma coisa. Então precisamos tirá-la da sala regular e dar a ela um tratamento especial. Num hospital, se você está com um problema simples, fica na enfermaria; se a situação é grave, vai para a UTI. Não podemos colocar na porta a placa de UTI e agirmos da mesma forma.

>> Qual a sua opinião sobre os sistemas de avaliação externa?

AS>> A prova que o professor prepara, apesar de um excelente instrumento para avaliar o desempenho do aluno ao longo dos anos, não é padronizada. Varia de acordo com quem a elabora. Não serve, por exemplo, para avaliar se a escola x, em São Paulo, está ensinando na segunda série os conteúdos, os valores e as competências mínimas. Para isso, é preciso ter um instrumento de medida comum a todas as escolas, um termômetro que meça de forma padronizada aquilo que é mínimo para os sistemas, seja a escola, a rede municipal, estadual ou o País. Esses medidores, todos juntos, nos permitem uma fotografia do sistema educacional, até para que se possa premiar a excelência e corrigir as deficiências.

Gestão

>> Hoje fala-se muito em gestão participativa. Como os professores podem participar mais ativamente da formulação das políticas públicas da área educacional?

AS>> Formando organizações profissionais de acordo com suas áreas de atuação. Nenhum secretário ou dirigente de ensino pode conversar com todos os professores ao mesmo tempo, mas se há um órgão que os represente, então é possível ouvi-los. Sou uma fã de todas essas associações, porque sei como é rica a contribuição delas.

>> Como secretária, a senhora adquiriu grande experiência na resolução de conflitos e definição de prioridades. Que dica daria para diretores que se deparam diariamente - claro que em menor escala - com esses mesmos desafios?

AS>> Em primeiro lugar, se você não se sente preparado para resolver conflitos e gerenciar recursos, não faça de conta. Vá atrás da qualificação necessária. Gerenciar por intuição, por tradição ou por amadorismo funciona de vez em quando. Na maioria dos casos não dá certo. Uma vez desenvolvida a competência, utilize todas as possibilidades de energia e recursos. Você é um líder pedagógico e os professores têm de olhar para você como tal. Você é um líder comunitário, e os pais têm de ver você assim.

>> Como a senhora avalia a participação dos pais na escola no Brasil?

AS>> Acho que ainda é muito fraca. O que é uma pena, porque já está provado que a criança cujos pais acompanham a vida escolar aprendem mais e melhor. Os mecanismos para trazê-los à escola, como as APMs, Semana da Família na Escola etc, ainda são incipientes no Brasil. Precisamos mudar a visão de que os pais não entendem nada de Educação e enxergá-los como parceiros.

>> Um de seus temas preferidos em palestras é o da "gestão por resultados". O que isso significa?

AS>> Significa uma gestão educacional que tenha como resultado todas as crianças na escola, aprendendo, passando de ano e completando onze séries em onze anos.

(por Priscila Ramalho)
































 





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