Publicado no site do Jornal O Estado de São Paulo

As empresas educadoras

O governador José Serra decidiu apoiar o trabalho da Parceiros da Educação, uma organização da sociedade civil de interesse público (Oscip), que reúne um grupo de empresários interessados em usar, além de recursos financeiros próprios, suas experiências de gestão no esforço para melhorar a qualidade do ensino. A parceria entre a Oscip e o governo estadual se baseia no modelo desenvolvido pela Porto Seguro Seguradora, em 1991, a partir das experiências em três escolas da Favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Em 2005, o modelo foi formalizado pela Secretaria de Estado da Educação por meio do projeto Empresa Educadora. Atualmente, 64 unidades da rede estão sob os cuidados de empresários ligados à Parceiros da Educação. Com a parceria, nos próximos três anos será ampliado para 500 o número de escolas atendidas. Em São Paulo há 5,5 mil escolas e 6 milhões de alunos.
Essa disposição do empresariado deve ser bem aproveitada pelo governo estadual. Nas escolas onde os empresários participam da definição das prioridades, juntamente com o corpo docente, os alunos e a comunidade, e contribuem para a melhoria da gestão - o que inclui reformas das instalações físicas e suporte pedagógico -, os índices de aproveitamento dos alunos chegaram a se elevar em até 50% num único ano. Mais: as escolas voltaram a ser consideradas patrimônio da comunidade, por ela respeitado e protegido.
Os empresários que participam do programa fazem mais do que doar dinheiro. Participam da gestão da escola, assessorados pela Parceiros da Educação. Uma vez selecionada a escola que a empresa quer apoiar, profissionais da educação e gestão fazem o levantamento das prioridades eleitas pelos professores, alunos e comunidade e um plano de ação. A colaboração entre escola e empresa sempre segue quatro diretrizes: apoio à gestão, apoio físico operacional, apoio pedagógico e apoio à participação da comunidade.
Assim, o mais importante não é o total de recursos a ser investido, mas a maneira como o dinheiro será aplicado. A Fundação Lemann, por exemplo, investiu em 2007 um total de US$ 200 mil numa escola da zona sul. Foram reformadas as instalações e adquiridos equipamentos - mas a prioridade do programa era outra. O mais importante foi a contratação de educadores para aulas de reforço aos sábados, uma vez que muitos alunos da 5ª série não conseguiam escrever o próprio nome.
Em outra escola da zona sul, apoiada pelo Grupo ABC, que tem como sócio o publicitário Nizan Guanaes, a melhoria das condições de ensino atraiu alunos que passaram de 1.347 para 1.566 em apenas um ano.
A Escola Estadual Luiz Gonzaga Travassos da Rosa, na Favela Jardim Novo Morumbi, conseguiu melhora surpreendente no aproveitamento dos seus 1,4 mil alunos. Depois de reformada a escola com recursos fornecidos pela CPM Braxis em 2005, a parceria empresa-escola dedicou-se à formação continuada dos professores. Mensalmente, a escola recebe cerca de R$ 15 mil para serem empregados no apoio à atividade dos professores. Entre 2005 e 2006, houve melhora de 15 pontos nas notas das 3ªs e 4ªs séries, conforme o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar (Saresp).
Companhias como Pão de Açúcar, Iguatemi Empresa de Shopping Centers, Basf/Suvinil, TV1, Sertrading, Mangels e outras também registram experiências positivas.
No encontro com empresários convidados a conhecer o programa da Parceiros da Educação, o governador José Serra informou que a Secretaria da Educação investiu, em 2007, cerca de R$ 550 milhões em ampliações, reformas e melhorias de equipamentos nas unidades da rede estadual de ensino. Até 2010, pretende destinar mais R$ 1 bilhão para a construção de 74 novas escolas e reforma de outras 77. Segundo a secretária de Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, as parcerias com as empresas são um complemento ao projeto oficial de recuperação de escolas.
O fato é que a participação do empresariado tem contribuído efetivamente para a melhoria da qualidade do ensino público.

Jornal O Estado de São Paulo

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