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Criança precisa conviver no ambiente escolar


Publicado no caderno Equilíbrio na Folha de S.Paulo 11/12/2003

Recentemente, saiu na imprensa uma reportagem falando do movimento crescente nos Estados Unidos de famílias que preferem ensinar as disciplinas do conhecimento aos filhos em casa. Essa tendência, chamada de "homeschooling", provocou a curiosidade de muitos pais do Brasil. Muitos enviaram correspondência solicitando um comentário sobre o tema, já que chegaram a pensar em praticar o mesmo com seus filhos. A primeira questão que os pais precisam saber é que a legislação brasileira, diferentemente da norte-americana, não abre muitas brechas a essa possibilidade. Vamos lembrar apenas o artigo 55 da Constituição Federal: "Os pais ou responsáveis têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino".

Mesmo assim, vale a pena pensar: o que será que leva alguns pais a considerar boa a possibilidade de deixar os filhos fora da escola? Os defeitos e as deficiências da escola atual? A segurança dos filhos? O controle do aprendizado deles? A escolha dos professores, do método de ensino etc.? Talvez esses e muitos outros itens entrem em jogo, mas o que importa mesmo é considerar o que significa, para a criança, deixar de frequentar uma escola.

Em primeiro lugar, a criança fica absolutamente submetida aos padrões da família e sem chance de um aprendizado importante para a vida: o da convivência com pessoas diferentes, pelas quais ela não nutre afeto nenhum. Respeitar pais, irmãos e parentes pode parecer duro no cotidiano, mas, no conflito ou no confronto, os vínculos afetivos contam e muito. Mesmo sabendo que a violência familiar existe, sabemos também que ela é pequena frente à que envolve pessoas que não se conhecem, que não têm os mesmos amigos, que não são parentes, que não fazem parte do mesmo grupo. Não é fácil mesmo respeitar uma pessoa que não se conhece e que pensa ou age de modo muito diferente da referência de cada um.

Por isso a escola é tão importante: é lá que o aluno tem a oportunidade de estabelecer relações impessoais justas e éticas. É lá que o aluno aprende a respeitar e a se fazer respeitar sem ter de usar a força; é lá que ele vive a experiência de se restringir como indivíduo para viver bem coletivamente, isto é, como cidadão; é na escola que ele tem a oportunidade de se relacionar com adultos que não têm sobre ele ascendência nenhuma a não ser a que diz respeito aos lugares sociais diferentes que ocupam. Se a escola, hoje, não facilita toda essa aprendizagem, isso já é uma outra história.

Em segundo lugar, é na escola que a criança tem a chance de passar a pensar com autonomia e independência, a ser crítica -e principalmente- com o que aprendeu com sua família. É, nos dias atuais, difícil para muitos pais reconhecerem que os filhos precisarão superá-los para ter vida própria. Mas é assim que a vida funciona: os filhos recebem a orientação fundamental dos pais para conseguirem ter uma referência na vida, uma direção. Mas os rumos que vão trilhar, isso será escolha deles. E isso eles só poderão alcançar com responsabilidade e maturidade se tiverem acesso organizado e reflexivo -o que se consegue com o debate e a vivência- à diversidade de opiniões, conceitos, posições, valores e modos de vida que convivem em uma sociedade democrática e que estão mais bem representados fora da família.

Em terceiro lugar - e último apenas nesta conversa-, é só na escola que a criança tem a oportunidade de começar a perceber que o espaço privado em que vive a família é muito diferente do espaço público, em que vivem todos. No espaço comum, as regras de convívio são diferentes, as normas existem para regular o relacionamento, para proteger o coletivo das individualidades e, portanto, para proteger cada cidadão. Na escola, onde os adultos ocupam com responsabilidade o lugar de acompanhantes desse processo de iniciação, a aprendizagem é muito mais efetiva.

A escola não tem levantado essas questões? Então é melhor lutar para que ela ofereça essa oportunidade, em vez de desistir dela.


Folha de São Paulo

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