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Na sala de aula: de advogado a mãe-de-santo


Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 11/03/2004

Advogados, médicos, jovens estudantes, gente em busca de "algo mais" e, claro, filhos e mães-de-santo assistem todas as noites, desde a semana passada, às aulas de um curso superior único em todo o Brasil: o de teologia umbandista. Autorizada em 2003 pelo Ministério da Educação, a Faculdade de Teologia Umbandista (FTU) funciona ao lado de um antigo templo de umbanda da Vila Santa Catarina, zona sul da cidade. Tem biblioteca, lanchonete, amplas salas de aula. E uma grade curricular que já no 1º. ano dá a idéia do que os alunos vão aprender ao longo dos próximos quatro anos:
Botânica Umbandista, Fundamentos de Psicologia Geral e Umbandista, Biologia Geral e Espiritual. Tudo isso, muito bem acomodado ao lado de disciplinas convencionais, como Filosofia, Sociologia, Ciências Políticas, Português e Inglês.
"Já vi muitas dessas matérias nas outras duas faculdades que fiz, a de Psicologia e de Enfermagem", diz Alvani Alves Nakamura, de 46 anos. "Mas aqui ninguém está procurando formação profissional. Estamos querendo nos encontrar."
Se ela é umbandista? Não. Filha de uma família batista - e casada com um nissei convertido ao Islã - Alvani nunca havia sequer entrado num centro, muito menos assistido a um rito. Na semana passada, na primeira aula prática de rito-liturgia da faculdade, a enfermeira viu e participou de seu primeiro gira. "Antes de começar, eu suava frio, estava receosa. Mas depois que entrei... foi tudo bem." Alvani diz que se interessou pelo curso para buscar "algo que nem a igreja, nem meu pai, nem as faculdades conseguiram me dar."
Alvani ainda terá outras aulas práticas, que incluem percussão sacra.
Cerca de 60% dos alunos não têm, pelo menos por enquanto, intimidade com a umbanda - culto criado no Brasil colônia a partir de elementos de ritos africanos, indígenas e católicos.
A outra parte da turma, porém, já está bem familiarizada. "Há 14 anos sou dirigente espiritual do Templo Espiritualista Caminho da Luz Divina, no Tatuapé", diz a mãe-de-santo Ana Glória Vilela Caldeira, de 47 anos, que no fim do curso terá também o título de bacharel em teologia umbandista.
"Quando se passa ensinamento como dirigente é preciso ter conhecimento para explicar, provar e justificar. Acredito que depois do curso vou atender melhor às necessidades das pessoas." Dois "filhos" de Ana também freqüentam o curso.
O MEC autorizou a faculdade a abrir 50 vagas. No processo seletivo, 116 interessados se inscreveram. Todas as 50 vagas estão ocupadas. A mensalidade é de R$ 350.
O diretor geral da FTU, o cardiologista e sacerdote umbandista, Francisco Rivas Neto, de 55 anos, diz que além de oferecer um curso superior de qualidade e de incentivar a produção de pesquisas na área, o objetivo da faculdade é também "quebrar essa imagem negativa e estigmatizada que muitas pessoas fazem da umbanda". Imagem, que para ele, leva a muito preconceito.
Rivas Neto lembra, por exemplo, que os professores enviados pelo MEC para avaliar as condições da instituição, antes da autorização, disseram que esperavam encontrar um barracão e não um prédio como o da faculdade. O diretor conta que até mesmo no meio da umbanda surgiram críticas de pessoas defendendo a "umbanda pé no chão". "Mas acho que quem criticava queria era manter a umbanda marginalizada."


O Estado de São Paulo

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