Estudo derruba mito de que o jovem é folgado |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 15/032004 |
A maioria dos jovens brasileiros (80%) estuda, trabalha ou se ocupa de ambas atividades. Esta é uma das principais surpresas do inédito Índice de Desenvolvimento Juvenil (IDJ), que a Unesco divulga hoje.
O estudo derruba o preconceito de que jovem não quer trabalhar e não gosta de estudar, informa o coordenador do novo relatório da Unesco, Julio Jacobo Waiselfisz.
O IDJ também contesta outro mito, o de que violência é produto da pobreza.
Ela é resultado da desigualdade. Estados onde acesso à escola é garantido e renda familiar é elevada registram altas taxas de mortalidade por acidente de carro, crime e suicídio. São Paulo, por exemplo, tem a segunda menor taxa de analfabetismo e a renda familiar per capita dos jovens é a segunda maior do País. O Estado, porém, aparece em 23.º lugar em mortes violentas. O Distrito Federal, com o maior número de alunos cursando a série adequada à idade e melhor renda, está em 22.ª colocação em homicídio e mortes em acidentes.
O Rio é o campeão em mortes violentas. O narcotráfico, que domina o Estado, explica em parte o resultado de 128,5 mortes em cada grupo de 100 mil jovens. Mas São Paulo e Distrito Federal, que não têm problemas tão sérios com o tráfico de drogas, aparecem, respectivamente, com uma proporção de 111,6 e de 108,4 em cada grupo de 100 mil jovens.
O pesquisador recomenda aos políticos que revisem discurso de que eliminar a pobreza automaticamente acabará com a violência. Se fosse simplesmente pela pobreza em si, continua, os africanos seriam os mais violentos do planeta. Na opinião do pesquisador, a origem da violência está na concentração de renda. "O problema é a pobreza dentro da riqueza." As diferenças são visíveis e a falta de acesso aos mesmos recursos gera violência.
O Brasil é um dos cinco países com maior concentração de renda no mundo, conforme o último Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) das Nações Unidas.
Para Waiselfisz, a educação é fundamental para melhorar a distribuição de renda. Em média, um jovem com 15 anos de estudo tem renda cinco vezes maior do que outro que só fez a 1.ª série. A pesquisa da Unesco constatou também que enquanto 46% dos analfabetos estão empregados, o porcentual sobe para 81,3% entre aqueles com curso superior.
O número de matrículas na escola é praticamente universal entre 7 e 14 anos.
Porém, cai bastante entre a população de 15 a 24 anos. De cada 100 jovens nesta faixa etária, apenas 48,6 freqüentam salas de aula. O índice é considerado bom por Waiselfisz, mas quando se observa detidamente os números o resultado é preocupante. Existem 1,5 milhão de jovens analfabetos e são enormes os desequilíbrios educacionais entre os Estados. Entre os jovens matriculados, apenas 29,2% estão em série adequada à idade. Mas quanto mais pobre o Estado, maior é a defasagem escolar. E a cor da pele também faz diferença: 36,6% dos brancos estão cursando a série compatível com a idade; entre negros e pardos, o porcentual cai para 21,3%.
Em Alagoas, onde a qualidade de vida do jovem é a mais baixa de todo o Brasil, 15,4% dos jovens são analfabetos e apenas 16,2% , matriculados em série adequada à idade. Já Santa Catarina, que oferece a melhor qualidade de vida aos jovens, tem taxa de analfabetismo de 1% e escolarização adequada atinge 36,3% dos alunos.
Para exemplificar a diferença da qualidade do ensino no Brasil, pesquisadores da Unesco consideraram resultados do Sistema Nacional de Educação Básica (Saeb) de 2001. Com base nesses dados, incluíram no relatório do IDJ a informação de que "jovens da 3.ª série do ensino médio do Tocantins, de Roraima e do Amazonas apresentam menor domínio do idioma do que os jovens do Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul ou Minas".
O atraso educacional compromete o acesso ao mercado de trabalho, a uma renda digna e à saúde. "São os jovens pobres, negros, que não têm acesso ao estudo e por isso não têm condição de trabalhar. Ao ser negado o acesso legítimo, é muito provável que descambem para o lado ilegítimo", alerta Waiselfisz.
O Estado de S.Paulo
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