Brasileiros e portugueses buscam integração |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 19/04/2004 |
A expectativa era revelar alguns motivos que explicassem a relativa atenção que o público brasileiro dedica à moderna literatura portuguesa.
Assim, em uma mesma mesa, sentaram-se os brasileiros Marilene Felinto, Jefferson del Rios e Adriana Lisboa ao lado dos portugueses Margarida Rebelo Pinto, Filipa Melo e Rui Zink. Foi na tarde de sábado, durante um dos eventos da Bienal do Livro. Se não surgiram conclusões convincentes, ao menos uma série de pistas foi levantada que pode indicar o caminho.
"A própria literatura portuguesa mudou, enfocando agora temas do cotidiano da classe média quando antes resumia-se ou à classe dominante ou ao Portugal rural", comentou Del Rios, apontando como exemplo a obra dos autores presentes. De fato, enquanto Margarida Rebelo Pinto conquistou um estrondoso sucesso de vendas (Sei Lá, que está chegando agora ao Brasil pela Record, vendeu mais de 160 mil exemplares), Filipa Melo e Rui Zink tratam, com excepcional qualidade, de um assunto nem sempre palatável ao gosto do público: a morte.
"Margarida fala aos corações das pessoas; eu, ao fígado", costuma brincar Zink, cujo livro mais recente, O Reserva (Editora Planeta), trata da morte de uma criança. São por esses caminhos (Filipa traz, em Este é Meu Corpo, também editado pela Planeta, uma história policial com grande lirismo filosófico) que eles conquistaram uma popularidade há muito desconhecida em Portugal para autores nacionais.
"O Brasil não acompanha as mudanças portuguesas, enquanto nós sabemos tudo que acontece por aqui", comenta Margarida, lamentando a mão de via única. "É uma pena porque muitas das nossas histórias são semelhantes às que acontecem aqui."
O desconhecimento foi comprovado por Adriana Lisboa, única brasileira vencedora do Prêmio José Saramago, instituído pela Fundação Círculo de Leitores, de Portugal, com o livro Sinfonia em Branco (Rocco), de 2001.
"Fiquei surpresa ao descobrir que, naquele ano, éramos apenas cinco brasileiros disputando, quando é possível concorrer qualquer escritor de língua portuguesa", disse. A distância pode diminuir com mais intercâmbio. É o que pensa o Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, que participa da co-edição de obras como as editadas pela Planeta.
O Estado de São Paulo
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