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Estágios reintegram pacientes psiquiátricos


Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 24/04/2004

A rotina que para muitos é motivo de estresse, para um grupo específico é de entusiasmo. Cheios de satisfação, eles acordam cedo, se arrumam e saem para trabalhar. Especialistas do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas desenvolveram um projeto de reinserção de portadores de esquizofrenia no mercado de trabalho. O Projeto reAção oferece a oportunidade de estágio por seis meses. É o primeiro passo para o paciente adquirir experiência, reconquistar a autoconfiança e procurar um emprego por conta própria depois.
Há apenas dois meses no estágio, G.N., de 30 anos, já provou ser responsável e competente. Como é a primeira a chegar pela manhã, ganhou a chave do escritório onde trabalha, a organização não-governamental (ONG) Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). Das 9 às 13 horas - ela nunca se atrasa nem falta -, G.N. digita textos, atende o telefone e faz serviços externos.
"Essas pessoas sofrem a mesma exclusão do adolescente carente", diz Soraia da Silva, coordenadora de projeto do PNBE. Além dela, outras duas pessoas trabalham com G.N. Todos sabem de sua condição de saúde, uma escolha da entidade. "Um de nossos princípios é a transparência", explica Soraia. Sobre seu relacionamento com as colegas de trabalho, G.N. não hesita: "São pessoas amigas." Ela está satisfeita em se sentir útil. "Minha vida melhorou."
Na primeira fase do Projeto reAção, 11 pacientes são estagiários em negócios como ONGs, escolas, livrarias, sindicatos e órgãos públicos. Ao todo, há 25 empresas parceiras. Os empregadores não desembolsam nada para ter o estagiário. Cada paciente recebe bolsa mensal de R$ 200, recurso que sai do orçamento do projeto, financiado por um laboratório farmacêutico.
O projeto também é objeto de estudo no IPq. Os especialistas querem verificar se o estágio realmente faz bem ao paciente. "O objetivo é que o estágio ajude a melhorar o quadro clínico do paciente, principalmente seu rendimento intelectual", explica o psiquiatra Wagner Gattaz, coordenador do reAção. Há 20 anos, ele esteve envolvido em projeto semelhante na cidade alemã de Mannheim. O projeto virou programa, reconhecido como instrumento de reabilitação pelo sistema de saúde da Alemanha. "Lá, 70% dos pacientes são contratados ao final do estágio."
É numa livraria que outros dois pacientes do IPq fazem estágio. Lá, a parceria é mantida sob sigilo entre eles e o gerente A.C. - para evitar preconceito da equipe. "Os clientes gostam deles tanto quanto dos demais funcionários", diz A.C, que planeja contratar pelo menos um dos estagiários.
"Se as finanças permitirem, ficarei com os dois."
"Estou na ativa", afirma A.F.N., de 37 anos, que trabalha na livraria. Para ele, o estágio trouxe disposição no dia-a-dia. Ali, ele atende o público e etiqueta livros. "É um trabalho como o de todo mundo."
E.S.S., de 22 anos, faz estágio numa escola. "Estou menos tenso e mais esperto." Ter um compromisso diário o fez ganhar autonomia. Antes, ele saía sempre acompanhado de sua mãe. "Estou mais independente."
Ainda é cedo para a equipe do reAção saber quais os efeitos do estágio sobre a saúde psíquica dos pacientes, mas já há algumas impressões. Com base nos relatos dos pacientes, o psiquiatra Hildeberto Tavares, médico responsável pelo Projeto reAção, nota que eles estão mais alegres e com a auto-estima em alta.
Para a terapeuta ocupacional Cecília Villares, coordenadora do Projeto S.O.eSq., grupo que combate o estigma e a discriminação que acompanham a esquizofrenia, iniciativas como a do IPq são sempre bem-vindas. "Inclusão no trabalho é um parâmetro importante para a pessoa se sentir parte de algo."
Cecília lembra que a exclusão do portador de esquizofrenia é um problema mundial.


O Estado de São Paulo

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