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Pai apita em escola e professor ensina pai


Artigo de Rosely Sayão na Folha de S.Paulo 06/05/2004

A delicada e complexa relação entre a família dos alunos e a escola já foi tema, diversas vezes, desta coluna. Hoje, volto ao assunto motivada por fatos ocorridos que são belos exemplos de como acontecimentos aparentemente simples do cotidiano da vida de pais e professores podem comprometer bastante a educação praticada com filhos e alunos.
O pai de uma aluna de ensino médio comunicou aos representantes da diretoria a necessidade de uma atividade programada pela escola ter sua data transferida porque coincidia com a festa de aniversário da filha. É preciso esclarecer que a atividade estava prevista para o período noturno e, portanto, não era de presença obrigatória. O que pretendia o pai? Garantir que a filha não corresse o risco de ficar sem a presença de alguns amigos na festa, já que alguns poderiam optar pela atividade -um festival de música- na escola.
A preocupação do pai não deixa de ser legítima, já que proteger os filhos e cuidar deles é uma das tarefas dos pais. O mais difícil de entender é a interpretação que muitos têm feito disso quando a intervenção deles ultrapassa os limites da vida familiar e se encontra com a vida do filho na escola.
Julgar-se no direito de interferir na programação planejada pela escola para dezenas de alunos que nem seriam convidados para a festa -já que não fazem parte do círculo de amigos da aniversariante- significa, no mínimo, dar-se o direito de controlar a escola.
Por mais que os pais tenham boa intenção, por mais que achem que essa ou aquela atitude deles que vise interferir no andamento da escola possa ajudar a vida do filho, a escola não pode ser controlada pelos pais. E isso por vários motivos.
Um deles, de grande importância, é que o filho precisa aprender a lição de que a vida privada tem alcance limitado, já que diz respeito a decisões e modos de viver e pensar de um pequeno grupo de pessoas que visam a seus interesses individuais. Já a vida pública -e a escola é o lugar onde o aluno dá os primeiros passos longe da vista dos pais em um espaço compartilhado por muitos outros- é marcada por vários tipos de restrição aos interesses individuais porque visa ao interesse coletivo. Enfim, na família, o filho ocupa o lugar de um ser único; na vida escolar, ele é mais um entre tantos.
Transmitir a idéia de que todo um coletivo pode ter de mudar pela interferência de uma questão pessoal é comprometer a maneira como se ensina o convívio social. Pensando assim, qualquer um que tenha o que julga um bom argumento poderia, por exemplo, se achar no direito de não acatar determinada lei de trânsito ou de mudá-la apenas para si e conforme seus interesses. Aliás, é bom lembrar, neste momento, o grande número de ruas sem saída que se transformam em redutos privados na cidade, já que os moradores selecionam os veículos que nela transitam ou estacionam. E isso sem falar na vida nos condomínios.
Mas a escola não é apenas vítima dessa confusão feita pelos pais em relação aos limites de seu campo de ação, ela é agente ativo dela também. Muitas escolas, por exemplo, acham-se no direito de orientar os pais de seus alunos das primeiras séries a não ensinar o filho a fazer contas da forma como aprenderam porque, agora, a operação é feita de maneira diferente. Não é mesmo impertinente a escola achar que pode interferir na vida privada da família de seus alunos a esse ponto?
Pensando bem, parece que os pais não sabem ao certo como enfrentar os filhos e, por isso, preferem enfrentar os professores deles. O mesmo se pode dizer dos professores: preferem fazer acordos e determinações aos pais de seus alunos a fazê-los a estes.
Existe confusão nessa relação chamada parceria, não existe?


Folha de São Paulo

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