Coração artificial barato desafia cirurgião |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 14/05/2004 |
Um coração artificial que tenha como característica a universalidade de utilização e possa ser pago pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é o que o cirurgião curitibano Luiz Fernando Kubrusly pretende desenvolver. O aparelho já está em testes finais com animais e deve ser lançado para uso clínico em setembro no Hospital Vita, de Curitiba, onde Kubrusly dirige o Serviço de Cirurgia Cardíaca.
Um dos maiores benefícios desse coração artificial será o preço. Hoje muitos pacientes com insuficiência cardíaca não têm condições de pagar cerca de US$ 100 mil por um modelo importado. Kubrusly calcula que o k-pump, como vem sendo chamado o modelo por ele desenvolvido, deve custar cerca de US$ 7 mil, equivalente ao preço de um marcapasso, que é fornecido pelo SUS.
O desenvolvimento de um coração artificial mais acessível é uma idéia perseguida há anos. Afinal, a insuficiência cardíaca atinge cerca de 300 mil pessoas por ano no País. Segundo Kubrusly, esses pacientes, mesmo acompanhados por oito ou dez anos, vão precisar de um transplante. Mas hoje são feitos apenas 150 por ano no Brasil, em razão de não haver doadores.
As pessoas morrem enquanto aguardam na fila. De acordo com o cirurgião, depois que entram no grau 4 - o mais grave na insuficiência -, 95% dos pacientes morrem em seis meses, caso não recebam um coração artificial. O suporte mecânico estende o período de espera pelo transplante ou permite um "descanso" ao coração, que pode se recuperar e voltar a bater de forma normal. "Nosso sistema de fluxo contínuo (como ele se refere ao coração artificial) não substitui o coração, é adicional. Se houver falha mecânica, o doente não morre e tem tempo de chegar a um ambiente hospitalar."
O mecanismo começou a nascer em 1996, a partir da observação do motor de um aquário que aspira 300 litros de água sem causar turbulência. O coração artificial tem de 20 mil a 25 mil rotações por minuto. "O objetivo não é que ele seja definitivo, embora esse seja um sonho que a pesquisa deve perseguir."
De acordo com o cirurgião, o segredo do mecanismo é a simplicidade. O aparelho é colocado internamente. Fora, presa à cintura, fica só a fonte de energia, uma bolsa com três tipos de bateria: uma fixa, recarregada na energia elétrica, uma de emergência e uma de socorro.
Segundo o médico, a portabilidade é uma das características que diferenciam o aparelho do coração desenvolvido no Instituto do Coração, São Paulo. "Lá é preciso manter o paciente na cama, com pouca ou quase nenhuma atividade física."
O Estado de S.Paulo
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