Acerte o passo para conhecer São Paulo |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 16/07/2004 |
(Carla Miranda)
Com tênis confortável, garrafinha de água e agasalho para enfrentar o tempo louco de São Paulo, as pessoas vão chegando uma a uma ao ponto de encontro, no tradicional Café Girondino, perto do Largo São Bento. Um bom lugar para tomar algo quente e se preparar para passar as próximas duas horas andando no centro, um percurso de quatro quilômetros. E são apenas 9h30.
O passeio nem começou, mas já tem gente interessada em saber se vai cansar, se é puxado. "Dá para fazer tudo numa boa", garante a guia Fátima Busani, uma das donas da Andanças Viagens & Turismo. É o que diz a experiência de quem levou mais de mil pessoas para conhecer os segredos do centro desde novembro, quando a empresa começou a oferecer pacotes pela região.
O projeto Dá Pé Conhecer São Paulo foi incluído nas comemorações dos 450 anos da cidade pela Anhembi. Foi um sucesso.
Com a energia comum às guias de turismo, Fátima coloca todo mundo para andar. Afinal, é dia de testar um roteiro diferente, que inclui uma parte a pé e outra de metrô até a Estação Bresser, onde está o Memorial do Imigrante.
A primeira parada é o próprio Mosteiro de São Bento, bem pertinho do café.
Chegar lá realmente não é problema. Os vitrais alemães, as paredes de madeira entalhada e as inúmeras preciosidades - como o famoso órgão de 6 mil tubos e um crucifixo barroco de 1777 - fazem tanto sucesso quanto a boulangerie do mosteiro.
Depois das compras, é hora de partir para o Edifício Martinelli, com seus 30 andares de histórias e fantasmas. No terraço do 26.º, tendo a cidade inteira no horizonte, dá para entender por que o italiano Giuseppe Martinelli insistiu em erguer o que na época era o maior edifício da América do Sul.
Fátima dá todas as informações: o prédio ficou abandonado nos anos 60 e 70, até ser reformado, em 1975, para abrigar órgãos municipais. Do lado dela, outro "guia" completa os dados. É o segurança Vilmar Ciriaco Stipp, que gosta de contar o que não está nos registros históricos do edifício onde trabalha. Uma de suas lendas preferidas é a da loira que circula pelos corredores. "Ela morreu quando o prédio virou cortiço e tem gente que jura já ter visto seu fantasma."
Início - Do alto para o Pátio do Colégio, marco da fundação da cidade, em 1554. Da edificação original, porém, só resta uma parede de taipa de pilão, cercada por vidro. Neste ponto do passeio, fica difícil não cruzar com outras excursões, seja no Pátio ou no Solar da Marquesa, bem ao lado, onde Maria Domitila de Castro Canto e Melo morou a partir de 1834, após romper com D. Pedro I.
Além dos grupos, há casais, famílias inteiras, gente que resolveu conhecer melhor o centro por conta própria. "Sempre fazemos isso", conta o comerciante Haroldo Rocchetti, de 56 anos. Moradores da região do Morumbi, ele e a mulher, Antonieta Konkoulos, de 46, estavam pela primeira vez no Conjunto Cultural da Caixa. "Já visitamos a Pinacoteca e o Museu de Arte Sacra. Vale a pena conhecer o centro."
O presidente da Diretoria Executiva da Associação Viva o Centro, Marco Antonio Ramos de Almeida, concorda. "A região já está bem bonita e uma das provas disso é o sucesso desses passeios", diz Almeida. "Em todas as metrópoles do mundo o centro é a âncora do turismo. São Paulo tem de perder seu complexo de inferioridade." No site da associação, há roteiros para quem quer passear sozinho - e de graça (www.vivaocentro.org.br).
Quem começou o passeio com certa apreensão no quesito segurança agora anda pela Sé sem medo. Já passou por várias cabines da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana.
Hora de visitar a Catedral da Sé, inaugurada em 1954 e reformada em 2002.
Depois conhecer as obras de arte dentro do metrô Sé e partir para a Estação Bresser.
O Memorial do Imigrante, no prédio que serviu de hospedaria para pessoas de muitas nacionalidades, é a última parada do passeio. Mas por si só vale a visita. Tem uma "rua" do século passado e muitas histórias. Na volta, os mais abatidos seguem de bondinho até o Terminal Bresser. Quem ainda tem fôlego vai a pé.
O Estado de S.Paulo
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