Dislexia varia de acordo com herança cultural |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 02/09/2004 |
(Alessandro Greco)
Winston Churchill tinha. Pablo Picasso também. Albert Einstein? Não escapou. A dislexia, um distúrbio de leitura e escrita, atingia esses luminares independentemente da língua que eles falavam - inglês, espanhol e alemão, respectivamente. Até hoje se acreditava que a origem biológica da dislexia não tinha relação com a diversidade cultural. Mas um estudo publicado agora na revista científica inglesa Nature (www.nature.com) mostra que não é bem assim. "A descoberta permite uma nova compreensão sobre a dislexia ao sugerir que a deficiência na leitura não tem uma origem biológica universal, mas depende da cultura", afirma Li Hai Tan, um dos autores do artigo.
Pesquisadores do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos, da Universidade de Hong Kong e da Universidade de Pittsburgh mostraram que as áreas do cérebro ativadas em crianças chinesas disléxicas, que lêem ideogramas, é diferente daquelas ativadas em crianças ocidentais, que lêem letras.
A maioria dos estudos feitos com crianças disléxicas ocidentais mostrou problemas na região temporoparietal esquerda. Nas crianças chinesas, entretanto, a região afetada foi a giro frontal medial esquerda.
"Os resultados sugerem que há uma diferença neurológica importante em relação a problemas de leitura em inglês e chinês", afirmam os cientistas. A descoberta comprova também a idéia de que "diferenças anatômicas no cérebro podem ser produzidas pela cultura, como sugerido pela análise morfológica da anatomia do cérebro que mostrou que a área giro frontal medial esquerda é anatomicamente maior em asiáticos que falam chinês do que em caucasianos que falam inglês", segundo os pesquisadores.
Eles chegaram a essa conclusão fazendo imagens do cérebro de 16 crianças chinesas com uma idade média de 11 anos e problemas de leitura. O distúrbio afeta de 10% a 15% da população mundial. No Brasil, segundo dados da Associação Brasileira de Dislexia (ABD), 15% das pessoas têm o distúrbio - sendo que para cada 3 homens, há 1 mulher disléxica.
Há quase um ano cientistas finlandeses e suecos encontraram o primeiro gene que pode estar ligado à dislexia, um distúrbio hereditário com alterações genéticas. "Sabemos hoje que a dislexia é associada a vários genes e alterações em alguns deles podem ser determinantes", comenta Abram Topczweski, neuropediatra do Hospital Albert Einstein e vice-presidente da ABD (www.dislexia.org.br).
Distúrbio afeta aprendizagem
A dislexia é definida como um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área da leitura, escrita e soletração. Pesquisas mostram que cerca de 10% a 15% da população mundial é disléxica. Na infância, a dislexia pode ser detectada a partir de alguns sinais, como imaturidade no trato com outras crianças, fraco desenvolvimento da atenção, atraso no desenvolvimento da fala e da linguagem, dificuldade em aprender canções e dificuldade com quebra-cabeças. Uma equipe formada por psicólogo, fonoaudiólogo e psicopedagogo clínico deve ser consultada para que se faça o diagnóstico. O disléxico sempre será disléxico, mas, com acompanhamento adequado, evoluirá de forma consistente, afetando o menos possível sua vida familiar, social, acadêmica e profissional.
O Estado de S.Paulo
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