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As tarefas que a escola não cumpre


Artigo de Rosely Sayão na Folha de S.Paulo 23/09/2004

A relação entre a escola e os pais de seus alunos anda, de um modo geral, bastante tensa. Professores, de um lado, reclamam das atitudes dos pais e estes, por sua vez, se sentem muito descontentes com a atuação das escolas diante das dificuldades que os filhos apresentam no espaço escolar.
Por diversas vezes nestas nossas conversas, já afirmei que, para que a escola possa cumprir bem e com competência seu papel educativo com os alunos, é preciso que os pais deleguem a ela a educação de seus filhos. OK, delegar é preciso, e os pais têm tentado -não sem alguma relutância e um certo sofrimento- não interferir nas responsabilidades que cabe aos profissionais da escola desempenhar. Mas, quando os pais percebem que a escola não está cumprindo a contento seu papel, é chegada a hora de rodar a baiana.
Muitos pais têm relatado, pessoalmente ou por correspondência, fatos bem desagradáveis que têm enfrentado na relação com a escola -particular, é bom frisar- dos filhos; além disso, estranham também o comportamento que alguns professores adotam diante aos alunos. O pior é que os pais ficam sem saída, pois percebem que se trata de prática comum quase à maioria das escolas e não sabem como enfrentar essas situações. Veja alguns exemplos.
Os pais de um garoto de cinco anos foram, por diversas vezes, convocados pela escola que o filho freqüenta a comparecer à reunião com a professora e a orientadora. Da última vez, ele desabafou: "Toda vez é a mesma coisa: elas dizem que meu filho não se concentra, que não faz a lição de casa e que nós precisamos colaborar para que ele seja um bom aluno. Cansei minha beleza com essa lengalenga. Até parece que a escola não sabe o que fazer com os alunos e, por isso, chama os pais".
Devo concordar com esse pai. Quando não dá conta do que é da sua competência e chama os pais procurando responsabilizá-los, a escola mostra toda a sua fragilidade na prática do seu ofício. Lição de casa e aluno desatento em sala de aula são problemas para a escola resolver. Se considerarmos que só os alunos que são acompanhados pelos pais em suas tarefas escolares em casa terão bom aproveitamento no aprendizado, estaremos destinando a escola a poucos, não é verdade? Outro exemplo incrível da incompetência escolar: os pais de um garoto de quatro anos receberam o convite para transferir o filho para outra escola. Motivo alegado pela escola: o garoto é um aluno que não se adapta a regras. Ora, ora, ora! Uma escola que espera que uma criança de quatro anos aprenda as regras de convivência na escola e simplesmente as cumpra não sabe o que faz nem tem a mínima idéia do comportamento infantil.
Um último exemplo: um professor de língua portuguesa da sexta série -alunos por volta dos 11 ou 12 anos- deu como tarefa aos alunos a conjugação de alguns verbos. Quais? Cito alguns deles: amar, beijar, ficar, chupar, trepar. Não é preciso comentar mais nada, concordam?
Em todos esses exemplos, os pais deveriam rodar a baiana em alto estilo com a escola. Mas há um problema: nessa relação escola-pais, os últimos saem perdendo. Trata-se de uma relação de poder desigual, já que a escola é uma instituição estruturada e os pais são uma multidão desgovernada que acaba focando as questões em cada filho.
Talvez os pais devam pensar em formar associações para que possam, de modo mais organizado, contestar, questionar e cobrar da escola que ela faça o que deveria saber fazer com maestria. Desse modo, a escola poderia ser mais bem interpelada e, assim -quem sabe?- corrigir seus rumos e refletir um pouco mais sobre as ações que pratica.
Esse pode ser um caminho novo e interessante nessa relação tão tumultuada e problemática que é a relação dos pais com a escola e pode render bons frutos a quem mais interessa: os alunos.


Folha de S.Paulo

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