No Glicério, uma Casa Cor que saiu do lixo |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 30/09/2004 |
(Marici Capitelli)
A badalada Casa Cor, que reúne famosos, começa hoje com seu mundo de sonhos em uma mansão do Morumbi, na zona sul. Mas em outro canto a cidade há uma Casa Cor diferente, na Baixada do Glicério, região central. É um espaço com exibição permanente de móveis e utensílios reciclados do lixo. Em comum as duas casas têm a originalidade.
"Admito que estamos morrendo de inveja por não participar da Casa Cor.
Teríamos condições de mostrar nosso trabalho", afirma irmã Ivete de Jesus, de 61 anos, idealizadora do projeto da casa do Glicério. Com 600 metros quadrados, varanda e jardim, o espaço foi inaugurado em dezembro.
"A idéia era chamar de Casa Cor, mas fomos procurados por organizadores do evento para que não colocássemos o mesmo nome. Para evitar confusão na Justiça, optamos por outra denominação." O lugar acabou sendo chamado de Cor da Rua. Entretanto, ao atender o telefone, Ivete hesita: "Alô, casa Cor... da Rua."
Mais de 90% dos móveis e acessórios à venda na casa são feitos de material encontrado no lixo. Portas de madeira foram trabalhadas e se transformaram em mesas. Calotas viraram peças de decoração. Encostos de cadeiras quebradas agora são cabideiros. Latas de atum e sardinha e partes da embalagem de hidrantes são cinzeiros. Um antigo chuveiro recebeu uma luminária feita com bagaço de cana. Latas de leite viraram um conjunto de lixeiras decorativas que vão ser exportadas para a Itália.
Realidade - "A diferença entre a nossa casa e a Casa Cor é que a última trabalha com o sonho das pessoas e é inacessível para a grande maioria. A Cor da Rua é a realidade, acessível para a maioria e feita por pessoas excluídas", diz a decoradora Edy de Lucca, uma das responsáveis pela ambientação do espaço. Decoradora durante 30 anos, ela mudou de atividade e há 6 trabalha na organização dos catadores.
O lavatório da casa é um dos destaques. "Era uma peça quebrada de um hospital. Aproveitamos a estrutura e usamos antigas luminárias para compor", explica Edy. A peça fez tanto sucesso que outras quatro foram feitas sob encomenda.
O forte da Cor da Rua são os mosaicos e até nesse caso a matéria-prima é refugo de empresas. Na cozinha, tudo é reciclado: bancadas, fogão, pia, mesa e armários.
Nos fundos da casa há um jardim, dividido em três temas - dos sentidos, tropical e oriental. O primeiro é composto por ervas aromáticas e condimentos. Colheres e conchas de sopa, usadas na época em que os moradores de rua começaram a se agrupar para tomar um sopão, viraram porta-vasos.
Todo o material usado é trazido por integrantes da Copamare, uma cooperativa de reciclagem, e por catadores autônomos. Irmã Ivete, que começou seu trabalho com os moradores de rua em 1980, também recolhe material reciclável. Outros objetos são confeccionados por sem-teto que participam de oficinas no centro. As peças custam de R$ 10,00 a R$ 1 mil.
O Estado de S.Paulo
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