País registra 15% a mais de queimadas em 2004 |
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Publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo 04/10/2004 |
(Simone Menocchi)
As queimadas no País cresceram pelo menos 15% até setembro, em relação ao mesmo período do ano passado. Até ontem foram registrados 150 mil focos de incêndios. O número é alto, mas não é exato. A situação pode ser ainda mais grave, segundo o Instituto Nacional de Pesquisa Espacias (Inpe). E não podem ser considerados precisos porque foram captados apenas nos finais de tarde. "O número real de queimadas é muito maior pois estamos falando de apenas um horário por dia, captados pelo satélite NOAA -12", argumentou o pesquisador Alberto Setzer, da divisão do Meio Ambiente do Inpe.
O número de queimadas cresce todos os anos. Em 2002, foram cerca de 140 mil nos primeiros nove meses do ano. No ano passado, foram 147 mil, o que corresponde a 63% das ocorrências no mesmo período. E apesar dos 150 mil focos registrados em um único horário pelo satélite a previsão para os próximos meses não é boa. "Até o final do ano teremos ainda muitas queimadas, em particular na região Norte", considerou Setzer.
Entre os Estados brasileiros que mais registraram queimadas, o campeão é Mato Grosso. Até setembro, o Estado concentrou 43% dos focos. E a situação foi a mesma nos anos anteriores. "Mato Grosso tem mantido o primeiro lugar, seguido do Pará, que neste ano concentra 16% das queimadas". Os outros Estados mais atingidos são Roraima (8%), Tocantins (8%), Maranhão (5%) e Bahia (4%).
Na Amazônia Legal, os dados assustam: 118 mil focos detectados até setembro deste ano, o que significa cerca de 80% dos casos do País. Mas a destruição do maior e mais rico patrimônio brasileiro não é novidade para os especialistas nem para a população. "Esta proporção tem ocorrido ao longo dos anos", afirma Setzer. Segundo ele, ainda não se pode prever os números totais do ano, porque dezembro contabiliza milhares de novos focos, pois as condições climáticas favorecem as ocorrências.
De propósito - O pesquisador do Inpe aponta alguns motivos graves para o aumento da destruição da vegetação nativa. "No caso das queimadas detectadas por satélite, a grande maioria é iniciada propositalmente, por pessoas que contrariam as legislações do País."
Outra causa apontada pelo especialista é a condição econômica. "O momento nacional favorável e os bons preços internacionais para a soja e o gado têm incentivado o avanço da fronteira agrícola, em particular no sul da Amazônia." Setzer considera fraca a fiscalização na utilização do fogo, que, segundo ele, ocorre de maneira descontrolada. "A fiscalização foi muito pouca e, neste ano, por exemplo, apesar da proibição de qualquer queimada em Mato Grosso a partir de 15 de julho, os focos continuaram aos milhares, diariamente, quase sem inibição."
De maneira geral, os incêndios em mata são considerados as formas mais econômicas de se acabar com a vegetação, com a sujeira de terrenos, para o preparo de roças ou renovação de pastagens. "Do ponto de vista técnico e científico, o uso indiscriminado do fogo é condenado. São raríssimos os casos em que nos nossos ecossistemas se aconselha o uso do fogo." O pesquisador explica que no cerrado o fogo é necessário para a reprodução das plantas e manutenção da vegetação. "Porém, de forma natural, causado por raios, ocorrendo uma ou duas vezes por década junto com períodos de chuva", comenta. "Mas as queimadas nas unidades de conservação do País são um descalabro."
O Estado de S.Paulo
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